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Ano de 1593, 1594 e 1595 - Por Basílio Daemon

Rua Pedro Palácios - Local onde foi fundada a Casa de Caridade, 1595

1593. Não tendo Vasco Fernandes Coutinho Filho deixado descendência de seu casamento com D. Luíza Grinalda, foi neste ano reconhecido e julgado o direito de senhorio da capitania do Espírito Santo na pessoa de Francisco de Aguiar Coutinho, parente mais próximo de Vasco Fernandes Coutinho Filho, pelo que deliberou-se D. Luíza Grinalda a retirar-se para Portugal,(127) o que com efeito se efetuou, ficando governando a capitania como capitão-mor o capitão de ordenanças Miguel de Azeredo, que fora daquela senhora seu adjunto no governo; Miguel de Azeredo, de posse dessa nomeação, governou a capitania por espaço de vinte e dois anos até a chegada do donatário, já como adjunto, já como capitão-mor.

1594. Não deixando os índios goitacases de incomodar os povoadores desta capitania, pois que deles estava infestado todo o sul da mesma, delibera-se o capitão-mor Miguel de Azeredo a dar uma investida contra eles, visto sua ferocidade, antropofagia e rapinagem, para assim obrigá-los a conterem-se e pedir pazes;(128) pelo que, juntando o maior número de combatentes que lhe foi possível e distribuída a gente sob diversos comandos, caiu de surpresa sobre os mesmos causando-lhes muitos danos, matando a muitos e perseguindo-os até onde pôde, tendo em diversos combates mostrado os nossos grande valor e sempre obtido a vitória, e sobressaindo-se muito nessa ocasião, em que mostraram grande valentia, João Soares e Antônio Jorge, residentes na capitania, que dessa peleja saíram bastante feridos. Dispersada assim esta grande tribo de índios, pediram uns pazes e outros internaram-se, nunca mais tendo eles incomodado os povoadores.

1595. Julgamos ser neste ano que foi fundada na vila do Espírito Santo uma casa de caridade por Miguel de Azeredo, a esforços do padre José de Anchieta; foi uma espécie de asilo onde eram recolhidos doentes pobres e infectados de certas moléstias; já Vasco Coutinho Filho e D. Grinalda haviam tido esse desejo, por assim aconselhar o venerável José de Anchieta ou os outros padres da Companhia; o certo é que nessa data ela existia e fora erigida nos terrenos que fazem fundos na chácara da Sra. D. Francisca Martins Ferreira Meireles, na rua que tem o nome de Pedro Palácios, e onde se podem encontrar ainda os restos dos alicerces daquele antigo asilo, que nos parece ter sido feito no tempo de Pedro Palácios, e onde talvez fossem recolhidos os infectados da peste que, por diversas vezes, reinara na capitania, como a da varíola. No entanto, nada afiançamos de exato a respeito de quem fundou aquele asilo e casa de caridade pela divergência que encontramos; mas o que é certo é que existia nesta data e que mais tarde, no século XVII, por alvará do 1º de julho de 1605, dado pelo rei de Espanha, Felipe II, lhe foram concedidos grandes privilégios e posteriormente ainda outros, como os da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, em recompensa da bravura das mulheres desta capitania, que em um ataque que houve no largo de Afonso Brás, estas não só recolhiam os feridos para um asilo no lugar em que está a igreja da Misericórdia e os tratavam, como também animavam os combatentes fornecendo-lhes armas e munições, e talvez nesta ocasião é que fosse mudada a casa de caridade de Vila Velha e com este título para esta hoje capital.

 

Notas

 

127 (a) “Recolhida ao convento do Paraíso, em Évora.” [Freire, Capitania, p. 94] (b) Vasconcelos, Ensaio, p. 20.

128 (a) “Por esse tempo, ano de 1594, pouco mais ou menos moveram guerra os moradores desta capitania do Espírito Santo, contra uma nação de gentio pernicioso, bárbaro e terrível por nome goitacá.” [Pizarro, Memórias, II, p. 235- 6, nota 107] (b) “Em 1594 o capitão-mor Miguel de Azeredo à frente dos moradores desta província foi guerrear os goitacases, seus vizinhos muito perniciosos.” [Machado de Oliveira, Notas, apontamentos, RIHGB, 1856, 19:296] (c) “Foi organizada uma grande expedição para atacar os índios goitacás presentes no sul da capitania do Espírito Santo”. 1594. [Leite, HCJB, I, p. 231]

 

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2019

 

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