Ano de 1855 – Por Basílio Daemon
1855. Falece no dia 8 e sepulta-se no dia 9 de fevereiro deste ano o talentoso espírito-santense José Gonçalves Fraga, um dos melhores poetas que teve esta província. Ocupou este prestante cidadão diversos cargos de Fazenda Geral. Traduziu a Eneida de Virgílio, compôs diversos poemas satíricos e elogios; as suas poesias são ainda hoje apreciadas, mas dispersas muitas, só existindo as colecionadas no Jardim Poético, obra publicada pelo major José Marcelino Pereira de Vasconcelos.599
Idem. É instalada nesta província, a 16 de junho deste ano, pelo presidente Sebastião Machado Nunes, a Biblioteca Provincial numa das salas de Palácio.600 Esta biblioteca possuía livros importantes pertencentes alguns, poucos, ao extinto Colégio dos Jesuítas e muitos outros doados por diversos cidadãos que fizeram importantes remessas para aquela biblioteca, entre eles Brás da Costa Rubim, que enviou 400 volumes de obras de grande valor científico. Em 1859, por um arrolamento feito, encontraram-se somente 900 volumes, tendo os mais desaparecido, e aqueles mesmos achados nessa ocasião estavam uns aglomerados sobre uma mesa, outros espalhados pelo chão, empoeirados e roídos pela traça. Hoje nenhum desses volumes existe, porque o desleixo por um lado e as subtrações por outro, deram fim a obras raríssimas e importantes, como também a documentos precisos à nossa história pátria.
Idem. É aprovada neste ano, pela lei provincial nº 4, de 14 de julho, deste ano, a reforma do compromisso da antiga Irmandade de Nossa Senhora do Terço, ereta na Igreja de São Gonçalo.601
Idem. É principiada neste ano, a expensas do povo, a Capela de São Pedro de Alcântara, na hoje freguesia de Itabapoana, sendo concedida pelo governo a desapropriação de 20 braças em quadro para esse fim, de conformidade com a lei provincial nº 6 deste mesmo ano, que pela Lei nº 8, de 1856, foram elevadas a 80 braças em quadro.602
Idem. Assume a administração da província, a 15 de julho deste ano, o 1º vice-presidente barão de Itapemirim, por lha haver passado o presidente Sebastião Machado Nunes, que seguira para a Corte com licença.603
Idem. Dá neste ano princípio o major Caetano Dias da Silva à ideia da fundação de uma colônia agrícola, particular, em terrenos de sua propriedade, no lugar denominado Santo Antônio (Rio Novo)604 e onde o mesmo empregou e sacrificou parte de sua fortuna. Mais tarde, não a podendo sustentar por si só, por faltarem-lhe os recursos, formou uma associação, mas, desanimados os acionistas dessa companhia, teve de passá-la ao Estado.605 Hoje é uma das melhores colônias do Brasil.
Idem. Tendo vindo à vila de Itapemirim o capuchinho frei Paulo Antônio Casas Novas, virtuoso sacerdote que muitos serviços prestou ao Brasil, e dando logo à sua chegada princípio a um suntuoso templo às expensas do povo daquela vila, a quem ele pedia esmolas e materiais, como também lastro de pedra aos capitães dos navios que voltavam descarregados, fazendo a obra sob sua única administração, concluiu o mesmo templo, sendo inaugurado no dia 15 de setembro deste ano. Frei Paulo foi ali vigário alguns anos, e seu nome ainda é pronunciado com respeito pelas virtudes que ornamentavam este ilustre varão da igreja.606
Idem. É nomeado a 11 de novembro deste ano o inspetor da Alfândega desta capital para conservador da mesma repartição, que por aviso de 5 de novembro do mesmo ano fora criado com o título de Conservatoria do Comércio. 607
599 Coletânea poética publicada em 1858 (primeira série) e 1860 (segunda série), a primeira delas reeditada em 2008 pela Academia Espírito-santense de Letras.
600 “Conto que brevemente terá lugar a instalação deste útil estabelecimento em uma das salas do Palácio da presidência, que se está para este fim preparando...” [Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. Sebastião Machado Nunes presidente da província do Espírito Santo, abriu..., 25 de maio do corrente ano (1855), Biblioteca, p. 22]
601 Lei provincial nº 4, de 9 de junho de 1855, Art. 1º: Fica aprovada a reforma do compromisso de Nossa Senhora do Terço. [p. 32]
602 Lei provincial nº 6, de 6 de julho de 1855, Art. 1º: Fica reconhecida a desapropriação das terras em Itabapoana, na barra do rio Muqui. São 20 braças em quadro para edificar a capela de São Pedro de Alcântara. [p. 38].
603 “Passando às mãos de V. Ex. a administração desta província, que desde 16 de julho do ano passado ficou a meu cargo pela licença e subsequente exoneração, que obteve do governo imperial o Exm. presidente Dr. Sebastião Machado Nunes...” [Relatório com que o Exm. Snr. barão de Itapemirim, 1º vice-presidente da província do Espírito Santo entregou..., 8 de março de 1856, p. 3]
604 “Este primeiro território começou pela incorporação de uma companhia autônoma e aprovado pelo decreto nº 1566 de 24 de fevereiro de 1854 e estabelecida pelos esforços do major Caetano Dias da Silva.” [Nery, Lembranças, p 123] 605 “...em 12 de agosto de 1860 foi proposta ao governo imperial a encampação da colônia...” [Nery, Lembranças, p.123]
606 (a) “Entretanto cabe-me o dever de comemorar aqui a inauguração da Matriz da vila de Itapemirim, a cujo ato assisti a 16 de agosto do ano findo. É um templo bem acabado, construído sobre sólidas bases, o que em grande parte é devido à atividade prodigiosa, e zelo verdadeiramente evangélico do capuchinho frei Paulo Antônio de Casas Novas, então vigário da dita freguesia, que foi infatigável em promover os meios de levá-lo ao fim.” [Relatório com que o Exm. Snr. barão de Itapemirim, 1º vice-presidente da província do Espírito Santo entregou..., 8 de março de 1856, Culto público, p. 8-9] (b) “A data de inauguração constante do relatório do barão de Itapemirim não confere com aquela registrada no [...] Livro Tombo da Comarca Eclesiástica de Itapemirim na província do Espírito Santo e Bispado de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Neste livro, na página 34, encontramos o seguinte registro: ‘Igreja Matriz – serve de Matriz à Freguesia de Itapemirim a Igreja que o Capuchinho frei Paulo Antônio Casanovas, vigário da freguesia, com esmolas doadas pelos Paroquianos, edificou, de 8 de setembro de 1847, data, em que foi lançada a primeira pedra, até 15 de setembro de 1855 em que o dito frei Paulo benzeu a mesma igreja...’” [Demoner, S. Presença, p. 69-70] (c) “Tem magnífica casa de comarca e boa matriz, fundada por frei Paulo Antônio Casas Novas em 1855, tendo começado em 1847.” [Nery, Lembranças, 121]
607 “Em virtude do aviso do Ministério da Fazenda de 5 de novembro de 1855, foi em 11 do mês seguinte criada esta repartição, sendo nomeado na forma da lei o inspetor da Alfândega para conservador.” [Marques, Dicionário, p. 43]
Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2018
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