A Igreja do Rosário
Situada na Praça Otávio Araújo, próxima à antiga "Prainha", em cujo local teve início a colonização do Espírito Santo, a Igreja do Rosário, testemunha silenciosa de fatos que marcaram a história de Vila Velha, é o mais antigo monumento religioso do Estado e um dos mais antigos do Brasil.
Ao contrário do que muitos supõem, ela é mais antiga que o Santuário da Penha, pois em 1558, quando desembarcou em Vila Velha o franciscano Frei Pedro Palácios, construtor da Ermida das Palmeiras, que deu origem, mais tarde, à construção do Convento, a Igreja do Rosário já existia.
Não se sabe precisamente a data em que foi construída. Sabe-se, porém, que em 1549, de passagem por Vila Velha, a caminho da Capitania de São Vicente, o padre jesuíta Leonardo Nunes registrou em carta a seus superiores hierárquicos que, a noite, quando fazia sermão, reunia todos em uma praça porque, sendo a igreja local muito pequena não comportava o grande número de pessoas às quais ele falava.Tratava-se, por certo, da Igreja do Rosário que, naquela época, devia ser bem menor, não tendo as dimensões que hoje possui.
Dos poucos registros históricos a respeito desse templo, sabe-se que, em 1709, ele foi reformado por determinação do Bispo do Rio de Janeiro. Foi despendida com as obras a quantia de 200$000 (duzentos mil réis). Quarenta e um anos depois, em 1750, a igreja foi elevada à categoria de paróquia. Não obstante o predicamento de paróquia que lhe fora concedido, o seu estado de conservação sempre deixou a desejar. E foi exatamente isso que impressionou o Imperador Pedro li, quando esteve em visita a Vila Velha, em janeiro de 1860. Do seu bolso, doou o monarca a importância de 400$000 (quatrocentos mil réis) para a reforma do templo, que se achava em estado deplorável.
Atualmente, a Igreja do Rosário está sendo restaurada pelo GOVERNO MAX MAURO, com obras que irão fortalecer sua estrutura e com trabalhos de arte, executados por especialistas, a fim de ser recuperada a beleza singela do seu interior.
As tradicionais famílias de Vila Velha sempre tiveram um carinho todo especial pela Igreja do Rosário. Até hoje, continua sendo a mais procurada para a celebração de cerimônias religiosas de casamento.
No nebuloso passado da Capitania, quando os colonos desbravavam a mata inóspita e traiçoeira, entre suas paredes muitos se refugiavam para se protegerem das flechas dos Goitacazes. Várias vezes funcionou como hospital, abrigando os enfermos indigentes para que fossem tratados.
Dentro dela ajoelhou e orou o velho Vasco Coutinho, primeiro donatário da Capitania, antes tão cheio de esperanças e depois desiludido diante dos insucessos, cansado e doente, à espera da morte.
Vasco Coutinho (o filho), segundo donatário, sua mulher, Luísa Grinalda, Belchior de Azeredo, Miguel de Azeredo, Padre Anchieta, quando vinha a Vila Velha, e tantos outros cujos nomes ficaram perdidos na noite dos tempos, se prostraram de joelhos em prece fervorosa, sob o teto desse templo, numa demonstração de humildade religiosa!
Todos os fatos ocorridos na vila ou acontecidos fora dela, o povo tomava conhecimento quando se reunia na igreja, principalmente aos domingos ou dia santificado. Sendo o local que por força dos costumes da época atraia a maior concentração de pessoas, era natural que aí também veiculassem noticias sociais e de natureza política. Por isto é que a primeira Constituição brasileira, outorgada por Pedro I, a 25 de março de 1824, foi jurada pelas autoridades e o povo vilavelhense na Igreja do Rosário, no dia seguinte ao Domingo de Páscoa.
Na ampulheta do tempo as horas formaram dias, os dias viraram anos e os anos somaram séculos. E a igreja, que ostenta o nome da padroeira de Vila Velha, aí está, na grandeza de sua simplicidade, como se desejasse em seu mutismo secular revelar a história dos nossos antepassados.
Por tudo isso, é um templo que vale a pena ser visitado.
Autor: Dijairo Gonçalves Lima
Compilação: Edward Alcântara, novembro/2012
Fotos: Walter de Aguiar Filho, novembro/2012
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