Areia monazítica de Guarapari - Fim da exploração
A exploração das areias monazíticas em Guarapari, história que começou a ser contada na edição de ontem (30/08/2015) de A Gazeta, só teve fim na década de 80, após anos de negociações secretas entre empresas e governos, acordos internacionais, corrupção e denúncia de trabalho escravo.
O material retirado das praias capixabas chegou inclusive a ser usado na fabricação de bombas e a reviravolta na história deu-se principalmente pelo lado medicinal descoberto nas areias.
A partir da morte do russo Boris Davidovitch, que ficou conhecido como o barão da monazita, a exploração de terras raras passou a ter um controle maior do Estado e a sede da Mibra em Guarapari se transformou na empresa Nuclemon, subsidiária da estatal Nuclebrás, criada para concentrar a exploração desse tipo de material para interesses industriais.
A Nuclemon continuou extraindo areia monazítica e beneficiando seus derivados por mais de 20 anos, até a década de 80, quando uma nova campanha capitaneada pelo então prefeito de Guarapari, Graciano Espíndula, propunha o fim definitivo da exploração da areia na cidade e mais investimentos em turismo e infraestrutura, tornando o balneário atrativo para tratamento de pessoas com diversas doenças, sobretudo reumáticas.
“Se Cleveland (EUA) é a referência mundial em cardiologia, Guarapari será referência em reumatologia”, declarou o prefeito em maio de 1983, em entrevista ao jornal A Gazeta.
Na época os benefícios das areias radioativas de Guarapari para tratamento de doenças já eram bastante difundidos, e a cidade recebia turistas de diversas partes do Brasil e do mundo.
Uma série de reportagens publicadas por A Gazeta mostrava histórias de gente que buscou Guarapari para se tratar e acabou adotando o local como residência. Também não faltavam relatos de pessoas creditando a cura de diversas doenças ao tratamento feito com a areia das praias.
Areia tratava câncer
Nos arquivos públicos franceses, mais de 210 documentos entre cartas, pedidos de material e recibos ligam a Société Minière Industrielle Franco- Brésilienne, precursora da Mibra, em Guarapari, a diversos laboratórios franceses e alemães.
A maioria dos contatos são de compra, venda e aluguel de tubos de Tório entre a empresa e o Institut du Radium, laboratório presidido pela ganhadora do prêmio Nobel de Química, Marie Curie. Ela e o marido, Pierre, foram responsáveis pela descoberta da radioatividade e por ter dedicado a vida às pesquisas sobre o uso terapêutico dos materiais radioativos.
Segundo o estudo “Marie Curie and the Radium industry” do pesquisador Xavier Roqué, a partir de 1903 o uso na medicina de materiais radioativos foi popularizado na França, o que fez aparecer um mercado de extração de materiais radioativos pelo mundo.
O material era usado em centros de tratamento de câncer tanto em Paris quanto em outras cidades. Na capital Francesa, a Société Minière et Industrielle Franco-Brésilienne mantinha um escritório no número 20 do boulevard Montmartre, e uma usina de tratamento de tório e outos materiais radioativos na cidade de Clichy. Por questões de segurança, nos anos 80, a usina foi demolida e enterrada pelo governo francês.
Além da pesquisa, os laboratórios utilizam o tório na fabricação de aparelhos de radioterapia e de sais luminosos (material fosforescente usado em pinturas e em agulhas).
Marie Curie visitou o Brasil em 1926, atraída pela fama das águas radioativas do Termas de Lindóia, em São Paulo. Na época, o local já era conhecido como terapêutico. Curie visitou o local durante um dia.
A visita às terras brasileiras, no total, durou mais de 40 dias. Madame Curie esteve em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde visitou o primeiro hospital brasileiro especializado em tratamento de câncer com uso de radiação. Marie Curie faleceu em 1934, depois de muitos problemas de saúde, provavelmente em razão da contínua exposição à radiação.
Fonte: Jornal A Gazeta, A bomba atômica de Guarapari, 30/08/2015
Autores: Aglisson Lopes e Natália Bourguignon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2016
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