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Contrabando nos porões dos navios em Guarapari

O navio Fjord foi um dos mais ativos no transporte de monazita em Guarapari - Acervo: UFES

Contando com o monopólio da exploração de monazita no Brasil e gerenciando a extração das areias de Cumuruxatiba e Prado, na Bahia, John Gordon colocava “testas-de-ferro” para liderar a empresa em Guarapari.

Diversos registros, no entanto, colocam em dúvida a legalidade das suas atividades.

Segundo a pesquisadora Beatriz Bueno, John Gordon explorou e exportou ilegalmente areias monazíticas das praias de Guarapari dentro de navios, disfarçadas de lastro.

“Diversas embarcações que não tinham nada para fazer em Guarapari estacionavam na nossa praia e pegavam a areia com a desculpa de fazer peso nos porões. Nós fomos saqueados durante anos”, conta Beatriz.

Os navios Mercator e Fijord foram presença fiel no porto de Guarapari durante as várias décadas de exploração da areia monazítica. Ao jornal Imprensa Popular, em 1956, o Deputado capixaba José Cupertino de Almeida denunciou a baixa taxa de impostos cobrados pela exploração da areia monazítica de Guarapari. “É doloroso registrar que o município de Guarapari possui uma das maiores reservas de minerais atômicos do mundo e, no entanto, é um dos municípios mais pobres do país”.

Com a popularização da energia elétrica, a partir de 1920, a exportação da monazita sofreu uma queda, até que as pesquisas sobre energia atômica se intensificaram no período da Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria. A monazita foi, então, recolocada em evidência por conter tório, elemento radioativo do qual é possível fabricar o urânio-233.

Em 1951, a Lei Federal nº 1310 proibiu a exportação de monazita bruta num esforço de tentar despertar o interesse de empresas nacionais em beneficiar o material. Mesmo com a lei em vigor, as exportações ilegais continuavam.

Bombas de Urânio-233 lançadas nos EUA

Passados 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, não há documentos que comprovem que a areia monazítica de Guarapari e de outras regiões brasileiras foi usada especificamente nas bombas lançada sobre Hiroshima e Nagasaki.

Pelo contrário: sobre esse assunto restam mais provas contrárias, uma vez que o elemento base da bomba batizada de Little Boy era o Urânio-235 (U-235), e não o U-233 gerado a partir do tório das areias. Já a bomba que caiu sobre Nagasaki tinha como base o Plutônio.

De qualquer modo, o Urânio-233 chegou a ser usado em pesquisas do Projeto Manhattan, uma iniciativa ultra-secreta voltada para o desenvolvimento de armas nucleares pelo governo americano.  Oficialmente, bombas de U-233 só foram produzidas por volta de 1950, durante a Guerra Fria.

É aí que a monazita brasileira assume papel estratégico para os EUA. Os americanos já dominavam a fissão do U-233 e o envio da areia que já acontecia há anos se intensificou ainda mais.  O alto escalão político do governo de Franklin Roosevelt tratou de negociar com o governo de Getúlio Vargas para conseguir o embarque do maior volume possível de monazita para os Estados Unidos. O maior ponto de extração era Guarapari.

O envio durou por pelo menos mais 15 anos. O fato é que o Urânio-233 ganhou destaque em um projeto de pesquisas em armas nucleares, batizado de Operação Teapot. Ao todo, 14 bombas foram lançadas em pontos do deserto de Nevada, nos EUA, sendo que algumas tinham como base o U-233, combinado com Plutônio. Tudo documentado pelo exército, com fotos e vídeos. O total de bombas desenvolvidas durante o projeto, porém, é desconhecido.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A bomba atômica de Guarapari, 30/08/2015
Autores: Aglisson Lopes e Natália Bourguignon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2016

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