As Cruzes da Estrada – Por Adelpho Monjardim
Quem passar pela rodovia que liga Ibatiba, às margens da BR-262, à sede do município de Iuna, notará, não sem espanto, e íntima interrogação, as cruzes que enxameiam à beira da estrada. Cemitério? É a impressão, logo desfeita pela ausência dos requisitos de um Campo Santo. Refeita a mente do primeiro choque, da primeira impressão, compreende-se a razão daquelas cruzes — a vindita, o crime organizado; o braço assassino a soldo para silenciar um importuno. É a violência imperando, tanto no campo como nos grandes centros, desafiando a Lei e a Justiça. É o sindicato do crime, contrafação cabocla da Máfia e da Camorra.
Acobertados pelas trevas noturnas, favorecidos pela cumplicidade do ermo, os sicários executam as nefandas tarefas, dirimindo pela via mais rápida questões de terceiros. Na maioria os casos se prendem a questões de terras, de família ou dívidas.
Pelas estradas as cruzes se vão multiplicando como desmentido à civilização, retorno à barbárie.
Segundo a lei natural de que nada se perde e tudo se transforma, aquelas cruzes, que não foram testemunhas, mas assinalam a consumação de crimes, ingressaram no folclore local.
Curioso! Naquela zona conflagrada, sacudida pela violência, onde matar faz parte do cardápio diário; onde os homens não temem a morte, por coisa alguma os mais bravos se aventuram, às horas mortas, por aquela estrada.
É a voz corrente que, nas caladas da noite, os ali enterrados abandonam as covas e vagueiam pela estrada, aterrorizando mesmo os irracionais.
Contam que certo valentão resolveu tirar a limpo a versão, pois não acreditava em assombração, em almas d'outro mundo e quejandos. Chamava-se Pedro. Foi, é certo, mas não voltou. Nunca mais se soube dele. É o único que não tem cruz ali.
Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2016
Essa é a versão mais próxima da realidade...
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