Bar Santos
Não eram uma nem duas. Nem dez nem vinte. Eram centenas as latas de achocolatado (Toddy) que ficavam expostas nas prateleiras ao longo de todo o bar. Elas não competiam com nenhum outro produto que os garçons serviam. Virtualmente anulavam todos eles e davam o tom do ambiente.
Era um bar e não era. Aliás, é assim até hoje. Diferente, pois ali desfilavam, principalmente à noite, brancas roupas dos estudantes de Medicina que faziam plantão na Santa Casa de Misericórdia, além, é claro, dos próprios médicos e paramédicos. Todos desciam para tomar lanche. O bar, portanto, não abrigava bêbados. Ou recebia alguns raros e desorientados.
Mas o mais charmoso do Bar Santos, um pedacinho de chão então com cheiro de século passado incrustado na Vila Rubim, era a canoinha. Um sanduíche simples, de pão cavado, sobre o qual colocava-se o presunto e o queijo para irem ao fogo. O primeiro dourava um pouco. O segundo derramava-se sobre ele. Os dois formavam um par fantástico dentro daquela panelinha de trigo e fermento, e desciam casadinhos para os esfomeados estômagos dos frequentadores.
Um dia o Bar Santos fechou. Passou um tempo e abriu novamente. Não como era antes, agora dirigido por descendentes dos velhos proprietários e tornado também restaurante, mas lembrando muito o velho ambiente. Continua lá, sendo tocado heoricamente, no mesmo clima de antes, dando um certo ar de seriedade àquele pedaço meio desprestigiado da Ilha de Vitória. O canoinha resiste. Junto com ele, outros sanduíches e até a coalhada e o creme.
Bares costumam durar apenas tanto quanto a vida. A Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, resiste veterana de século graças à continuidade do trabalho dos descendentes daqueles que a fundaram. Em São Paulo, um recanto tradicional, a Salada Paulista, não sobreviveu à parada cardíaca de seu dono, e há muito tempo fechou as portas.
Aqui, novos, os recentes donos do Bar Santos tocam o negócio e preservam um pouco da história recente de Vitória. Não daquela das grandes noitadas boêmias, mas a outra, dos papos mais compromissados, às vezes apressados, em frente a um pedaço de mármore erguido sobre pés de ferro, onde se lancha para continuar a noite de trabalho. Ou então para chegar em casa e cair na cama de barriga cheia. E fazer isso depois de comer canoinha, podem crer, é bom demais.
Autor: Álvaro José Silva
Livro: Escritos de Vitória - 8 - Bares, botequins, etc.. - 1995
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2012
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