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Candomblé e Umbanda no ES - Por Milena Xibile Batista

Candomblé e Umbanda no ES

Esta parte do texto está sendo escrita a partir de dados advindos de historiografias e etnografias sobre o candomblé e a umbanda no Espírito Santo. A principal fonte é o livro ”Candomblé e Umbanda no Espírito Santo“, do historiador Cleber Maciel, seguido de outras referências onde o leitor poderá encontrar alguns dados, como o texto ”A Cabula“, de Dom João Batista Nery (1905), e menções sobre o candomblé feitas por Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Roger Bastide. No entanto, no momento, apresentarei apenas alguns dados etnográficos preliminares sobre o candomblé e a umbanda no Espírito Santo.

Cabe ressaltar que o candomblé, sendo uma religião de criação brasileira, já é resultado de uma espécie de fusão e interação entre as diferentes nações oriundas da África, pois reuniu as divindades em cultos unificados, até pela própria condição do escravizado e da falta de locais apropriados para os rituais, pela imposição do catolicismo e pela dificuldade de realizar os cultos de forma separada. Sem contar a forte influência e a hibridização com a umbanda, a maioria das casas de candomblé no Estado do Espírito Santo começaram como terreiros de umbanda e ainda realizam os cultos tanto do candomblé, quanto da umbanda, em dias separados, mas no mesmo terreiro.

Segundo as lideranças religiosas de comunidades de terreiro, atualmente no Espírito Santo existem cerca de 200 casas de candomblé. No entanto, como os estudos sobre o tema ainda estão em desenvolvimento, os dados quantitativos e qualitativos são preliminares. As casas de candomblé estão localizadas nos municípios como segue: Vila Velha (50), Serra (30), Cariacica (20), Viana (06) e Vitória (04), Nas demais localidades existem aproximadamente 90 casas.

No que diz respeito à distribuição por nações, a predominância no Espírito Santo é das casas de Ketu, seguidas das de Angola e Jeje. Alguns representantes dessas nações, conforme verifico em pesquisa que venho desenvolvendo para minha dissertação de mestrado, constroem, baseando-se na oralidade, suas relações de “parentesco de santo”, recorrendo às genealogias que remontam às hierarquias religiosas em que “pais”, “avós” e “bisavós” “de santo” se encontram nos seguintes estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Bahia. Desses estados, as lideranças religiosas remontam a uma origem imaginada, cuja nação se encontra na África. A filiação religiosa do iniciado a uma nação de origem fundada e recriada nos mencionados estados e à África confere credibilidade às casas de candomblé.

No presente etnográfico, as principais diferenças entre as nações estão na forma como são cultuadas as divindades, os tipos de oferendas, as cores de cada divindade, a forma como são preparados os alimentos, a língua ritual e as cantigas. As nações de candomblé não podem ser entendidas de forma homogênea, pois cada nação, que é formada por um número variado de casas espalhadas nos referidos municípios, pratica os rituais e os preceitos religiosos de uma forma bem própria.

No entanto, a diversidade e a heterogeneidade não inviabilizam os encontros de cooperação e organização dessas nações, possibilitando o intercâmbio de conhecimento entre elas, e delas com os terreiros de umbanda, sobretudo nas comunidades de terreiro frente às demandas por políticas públicas destinadas ao desenvolvimento sustentável de comunidades e povos tradicionais do Brasil, conforme institui o Decreto 6.040/2007.

No Estado do Espírito Santo, uma religião de matriz africana com maior número de adeptos é a umbanda. Cabe ressaltar que muitas vezes os praticantes da umbanda também frequentam outras religiões, como o candomblé, o catolicismo e o kardecismo.

Torna-se até complicado precisar o número de templos ou locais destinados a essa religião, pois muitos a praticam em sua própria casa, em um cômodo separado e muitas vezes não chegam a constituir um terreiro completo. Porém, o atendimento e a fé com que se praticam os rituais são os mesmos. A fé e a caridade são os princípios básicos dessa religião. Atualmente, muitas casas de umbanda tiveram incorporadas práticas do candomblé e muitas se transformaram em “casas de santo”. Contudo, muitas lideranças continuam fazendo reverências aos seus protetores da umbanda, ou seja, praticam a umbanda e o candomblé em ritos separados, mantendo o devido respeito aos preceitos da religião original.

Atualizando os dados do professor Cleber da Silva Maciel, um dos mesmos entrevistados por ele na época, o Ogã Orlando Costa Santos, acredita que existam aproximadamente 600 casas no Estado do Espírito Santo que praticam a umbanda, não levando em consideração os locais que não são terreiros. A maior concentração das casas está no município de Vila Velha (40 casas), seguido da Serra (35), Vitória (25), Cariacica (25), Viana (5) e demais localidades com aproximadamente 470 casas.

Segundo o professor Cleber Maciel, na época da pesquisa existiam seis associações e federações que congregavam as comunidades de candomblé e umbanda capixabas. Hoje apenas duas são mais atuantes, a União Espírita Capixaba (Unescap), dirigida pelo Ogã Orlando Costa Santos, e a Sociedade Cultural de Estudos das Seitas Africanas no Brasil (S’Ceabra), presidida pelo Ogã Levindo de Logun Edé.

De acordo com Orlando Costa Santos, a referência da umbanda no Estado do Espírito Santo é o Centro Espírita Paz, Amor e Caridade Canabibi (Fonte: Livro Patrimônios e Logradouros de Fradinhos). A atual sede do referido centro foi inaugurada em 1951 e, em função dos poucos recursos, demorou cerca de dois anos para ser construída. Trata-se de um empreendimento erguido pela grande determinação de seus dirigentes e frequentadores. Nos fins de semana, um grupo de presidiários, pedreiros do Instituto de Readaptação Social da Glória, em Vila Velha, atravessava a Baía de Vitória, de bote, em direção a Fradinhos para auxiliar na construção da sede. O Canabibi foi o primeiro centro espírita a lançar o uso de ceroulas. Mais tarde, outros centros passaram a usar essas vestimentas, até quando foram substituídas pelos jalecos, que são usados até hoje. O referido centro é um local de amparo espiritual para muitas pessoas que se iniciaram na umbanda, sobretudo para diversas lideranças religiosas que, a partir dali, se projetaram na umbanda no Estado do Espírito Santo.

 

GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Governador

Paulo Cesar Hartung Gomes

Vice-governador

César Roberto Colnago

Secretário de Estado da Cultura

João Gualberto Moreira Vasconcelos

Subsecretário de Gestão Administrativa

Ricardo Savacini Pandolfi

Subsecretário de Cultura

José Roberto Santos Neves

Diretor Geral do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

Cilmar Franceschetto

Diretor Técnico Administrativo

Augusto César Gobbi Fraga

Coordenação Editorial

Cilmar Franceschetto

Agostino Lazzaro

Apoio Técnico

Sergio Oliveira Dias

Editoração Eletrônica

Estúdio Zota

Impressão e Acabamento

GSA

 

Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Osvaldo Martins de Oliveira. – 2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016. Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2022

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