E viva a Desportiva! – Por Pedro Maia
Pois não é que a velha Desportiva Ferroviária lavou a honra do futebol da capital e levantou o campeonato do Estado, trazendo alegria e satisfação à imensa torcida grená?! E isso quando todo mundo já achava que o caneco ia ficar mesmo com o Colatina, que só precisava do empate para sagrar-se campeão. Foi uma vitória bonita, estribada na garra da equipe, que não fraquejou mesmo, jogando no quintal do adversário. Foi, disputou e venceu...
Nós conhecemos a Desportiva Ferroviária desde os tempos em que sua sede se situava no alto do Morro da Companhia, ali na entrada de Jardim América, onde os bailes de carnaval faziam furor na época. O campo da Ferroviária era um terreno no pé do mesmo morro, cercado de zinco em toda sua extensão, onde a rapaziada da região disputava animadas peladas nas tardes dos dias úteis. Aos sábados e domingos a equipe da Desportiva fazia seus treinos, que duravam o dia inteiro. E estes treinos eram uma festa, que atraía a galera de todos os bairros adjacentes.
Existia uma rivalidade entre a turma de Jardim América e a patota de Itaquari e não foram poucas as vezes em que o pau quebrou durante estes treinos, mais movimentados entre a platéia do que mesmo dentro do campo. Foi uma época em que o futebol capixaba ainda engatinhava e o Santo Antônio, hoje em ostracismo, era o bom do pedaço.
Mais tarde a Desportiva ganharia uma nova sede social, já no mesmo local onde se encontra hoje, e onde mais tarde seria construído o moderno estádio do clube. Uma coincidência, que poucos recordam, é que no mesmo local onde hoje fica este estádio era o campo do Comercial, meio perdido no mangue, ao lado do Rio Marinho. Nos dias de maré cheia as partidas eram disputadas com água na canela dos jogadores e depois do jogo todo mundo mergulhava no rio, que não era o vilão poluído que é hoje. Suas águas, quando a maré enchia, eram claras, e todo moleque de Jardim América, Itaquari e SãoTorquato tinha ali uma excelente área de lazer improvisada, da qual muita gente tem saudade.
A Desportiva cresceu e se tornou o que é hoje, um clube de expressão nacional, como sonhava o Airton Farias, o Eudes, o Laranja e tantos outros que lutaram pelo seu engrandecimento. É bem verdade que este desenvolvimento veio atrelado ao Progresso da Companhia Vale do Rio Doce, que sempre foi a base da agremiação grená. Mas o empenho de seus diretores, de seus associados e principalmente dos desportistas capixabas também teve influência definitiva neste progresso.
Muito embora a gente sempre tenha sido torcedor do Rio Branco — que hoje está seguindo o mesmo caminho do Santo Antônio — sempre tivemos uma simpatia oculta pela Desportiva. E se não fazemos parte de sua torcida desde outros tempos, a culpa é do pessoal de Itaquari, pois, como moleques de Jardim América, não podíamos, de jeito nenhum, torcer pelo mesmo time porque nossos adversários torciam.
Mas, como jardinenses de coração, esta vitória da Desportiva preencheu uma lacuna que há dois anos o capixaba da capital não curtia: ver outra vez o título de campeão aqui em Vitória, e não no interior.
Nossos parabéns ao campeão capixaba e bola pra frente, porque, indiscutivelmente, o futebol é coisa nossa...
Capa: Helio Coelho e Ivan Alves
Projeto Gráfico: Ivan Alves
Edição: Bianca Santos Neves
Lúcia Maria Villas Bôas Maia
Revisão: Rossana Frizzera Bastos
Produção: Bianca Santos Neves
Composição, Diagramação, Arte Final, Fotolitos e Impressão: Sagraf Artes Gráficas Ltda
Apoio: Lei Rubem Braga e CVRD
Fonte: Cidade Aberta, Vitória – 1993
Autor: Pedro Maia
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020
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