Elisiário e Nossa Senhora da Penha – Por Maria Stella de Novaes
Registramos, noutras páginas, lendas inspiradas na escravidão, capítulo doloroso da História do Espírito Santo, assim como do Brasil inteiro.
Mais uma relatamos aqui, nesta evocação da revolta dos negros, no Queimado:
- Feito o julgamento em Vitória, cinco escravos foram condenados à morte; vinte e cinco, a açoites, que variavam de trezentos a mil; e seis, absolvidos. Os demais haviam desaparecido.
Cumprida a sentença dos açoites, faltava a dos condenados à forca, presos, de pés e mãos, a ferro, na cadeia de Vitória. Aconteceu porém, que, a 7 de dezembro de 1849, o carcereiro Joaquim José dos Prazeres comunicava ao Juiz de Direito e Chefe de Polícia que, às três horas e um quarto da madrugada, haviam desaparecido da enxovia, do lado Sul, cinco presos, dois condenados às galés perpétuas, e três, à pena de morte.
- Milagre! – foi a exclamação geral.
E conta-se que ao sentir aproximar-se a hora do seu sacrifício, Elisiário, o chefe da Insurreição do Queimado, voltou-se, fervoroso, para Nossa Senhora da Penha. Rezou, com toda a confiança no poder da Virgem, perante o trono do Altíssimo. Sim, a Virgem Poderosa, jamais lhe faltaria, naquela hora de angústia!
Enlevado, murmurando ainda a súplica filial, adormece. Antes da aurora, porém, quando a cidade toda jazia ainda imersa na plenitude da noite, um clarão misterioso irradia-se, no cárcere imundo e desperta os cativos. Atônitos, em cálculo talvez da hora fatal, divisam, entretanto, ao seu lado, uma figura de meiguice infinita, que lhes acaricia as frontes doloridas, desta as correntes e aponta a porta entreaberta.
Interposta, aos seus devotos, martirizados pela “Justiça” dos homens, e o carcereiro Prazeres, que dormia, sem receber a graça de vê-la, a Celestial Protetora dos Aflitos garantiu a evasão dos cativos.
Pela manhã, quando circulou a notícia pela cidade, - notícia comentada, em todos os bancos de farmácias e transmitida, de sacada em sacada, pelas comadres e vizinhas, exclamaram todos os que se condoíam da sorte cruel daqueles negros infelizes:
- Foi Nossa Senhora da Penha!
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2015
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