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Estudos sobre a descoberta da Província - Parte I

Estudos sobre a descoberta da Província do ES - Parte I

Conhecido é de todos, que tendo Pedro Álvares Cabral saído de Lisboa a 9 de março de 1500, com uma armada de 10 caravelas e 3 navios redondos, tendo por guarnição 1.200 homens, entre marinheiros e soldados, se fizera em derrota para a Índia, reinando el-rei D. Manoel, chegando a 22 do mesmo mês em frente às ilhas de Cabo Verde; mas, tendo-se nessa noite separado um dos navios da frota, este tornou para Lisboa, continuando no entanto Cabral sua viagem, mas afastando-se das costas da África para evitar as calmarias que quase sempre aí reinam em certo tempo, mormente na costa de Guiné.

Tendo-se a frota feito ao mar, consideravelmente, mais do que devia, descobriram os navegantes sinais de terra próxima, como fosse o aparecimento de quantidade de ervas a que dão o nome de rabo de asno e botelho, isto no dia 21 de abril, o que os surpreendeu. No dia 22, Cabral prosseguiu no mesmo rumo que trouxera até então, por força maior, quando o gajeiro, pela tarde, declarou avistar terra, que era o cimo da serra dos Aimorés, que teve o nome de monte Pascoal, encontrando o navio ao anoitecer uma profundidade de 25 braças, dando após fundo os navios, nesse lugar.

No dia seguinte Cabral mandou levantar ferros e fez-se para terra, e às 10 horas largaram ainda os navios as âncoras.

A 24 levantou ferros a frota a conselho dos pilotos e prosseguiu viagem por junto à costa do Brasil, tendo feito uma derrota de 10 léguas ao sul, largando ainda as âncoras os pequenos navios em um porto que reconheceram bom, fundeando os navios de maior calado a uma légua pouco mais ou menos dos primeiros. Este fundeador foi o que teve e tem ainda hoje o nome de Porto Seguro. Aires do Casal no entanto diz que Cabral fundeara na enseada Cabrália, quatro léguas ao norte de Porto Seguro.

No dia 25, segundo Vaz Caminha, entraram no porto e aí fundearam, conservando-se todo o mês a explorarem a terra. No dia 2 de maio foi despachado e seguiu para Lisboa um navio com Gaspar de Lemos por capitão, a levar a notícia desta descoberta a D. Manoel, tendo Cabral prosseguido viagem para o cabo da Boa Esperança.

Fica provado que Pedro Álvares Cabral não ultrapassou o sul de Porto Seguro a mais de 16º 28’ e 50” de latitude, e 14º, 23’ e 33” de longitude ocidental.

Nesse mesmo ano, no dia 26 do mês de janeiro, segundo Herrera, ou a 29 segundo outros, Vicente Yáñez Pinzón aportou ao cabo de la Consolation, hoje Santo Agostinho, em 8º, 20’ e 41” de latitude, e 37º, 16’ e 57” de longitude ocidental; embora o padre Aires do Casal isto contrarie, dizendo que o cabo de la Consolation é o cabo do Norte, 2º de latitude setentrional; mas seja como for, o que é certo é que, navegando para o norte, descobriu as bocas do rio Amazonas que intitulou de rio Doce, tendo cativado 36 indígenas que levou para a Espanha; não conhecendo, pois, as costas da Bahia e nem desta província.

Ainda neste ano, Diogo Lepé aportou ao cabo de Santo Agostinho, tendo-o igualmente, como Pinzón, dobrado em rumo de norte, verificando toda a costa até o Amazonas, onde entrou; mas os indígenas, irritados pelo modo por que os havia tratado Pinzón e sua gente, atacaram os que vieram à terra. Lepé tomou posse do país em nome de Espanha e voltou a dar conta da descoberta.

Como se verifica, também Lepé não conheceu a costa sul, pois que Herrera nada diz a respeito, nem crônica alguma faz disto menção.

Em 5 de março de 1501, João da Nova indo à Índia como capitão de 4 navios, a mandado de el-rei D. Manoel, aproximou-se das costas desta província, porque tocou na ilha da Ascensão, hoje da Trindade, que fica a 20º ½ de latitude sul, ou 120 quilômetros a este das costas desta província, dando dela notícia. Ainda este navegante não reconheceu também esta parte do Brasil.

Há aqui um fato a notar, e é que se encontra em Saint-Adolphe e outros, como sendo essa ilha descoberta por Tristão da Cunha em 1770, o que é um erro, à vista de ser já conhecida em 1501 por João da Nova.

Convencido D. Manoel do quanto lhe seria aproveitável a exploração da nova terra descoberta por Álvares Cabral, mandou aprestar uma expedição composta de três caravelas, entregando o comando das mesmas a Gonçalo Coelho, que a 10 de maio do mesmo ano de 1501 fez-se de vela em rumo de oeste, sendo esta a primeira expedição vinda, por mandado direto, às costas do Brasil. Foi nesta expedição, segundo diversos autores, que veio Américo Vespúcio, não sabendo-se ao certo se como cosmógrafo, piloto ou escrivão; enquanto que Navarrete julga ter vindo como simples tripulante, contra a opinião de Simão de Vasconcelos, Aires do Casal e o Sr. José de Vasconcelos, que certificam ter vindo com caráter importante; assim o dizem ainda Herrera e o próprio Américo Vespúcio em sua notícia sofismática, fazendo crer ter ele aqui vindo em caráter superior de comandante e a mandado de el-rei de Portugal, que muito o considerava.

Seja como for, o nosso propósito é outro, e não tratamos de verificar um tal fato, continuando em nossas averiguações.

Navegou, pois, Gonçalo Coelho em direitura às Canárias, e daí seguindo costeou a África até o Cabo Verde, como confirma Ramusio Viaggio: — Venisemo alla prima terra giunta col Capo-Verde, etc.

Havendo descansado, munindo-se a expedição de comestíveis, levantou ferros e navegou em direitura ao polo Ártico, durante três meses e três dias, segundo diz o próprio Vespúcio; tendo durante esse tempo sofrido muitíssimas fadigas em consequência de grandes tormentas que teve de suportar. A 16 de agosto, finalmente, avistaram terra e fundearam as caravelas a 5º de latitude sul, a meia légua de distância de terra, em um cabo a que deram o nome de São Roque em honra ao santo deste dia, o qual fica na costa do Rio Grande do Norte.

Aí desembarcaram na costa, deixando alguns objetos aos índios, que se achavam em um monte próximo, e não quiseram descer à praia, apesar dos sinais que lhes fizeram: só quando retirados os portugueses é que se animaram a buscar os objetos deixados. No dia 17 foram a terra, e dois marinheiros que se animaram a ir ao centro a ter com os índios não mais voltaram. A 24, quando se preparavam as caravelas a levantar ferros, viram vir à praia muitos indígenas, o que os resolveu a irem ter com eles, e com efeito o fizeram, indo a mandado um marinheiro a falar com os aborígines, a indagar dos companheiros: foi logo rodeado pelas mulheres que enquanto o apalpavam, uma, dentre elas, vindo por detrás lhe descarregou sobre a cabeça uma forte pancada com um pau, estendendo-o logo morto; no entretanto que as outras após o arrastaram logo para o monte. Os índios, em seguida, atacaram o restante dos marinheiros, que se achavam nos escaleres, os quais para serem salvos foi preciso que dos navios disparassem tiros com metralha, o que os fez afugentar para o monte; quanto ao pobre marinheiro morto, tendo para ali sido arrastado foi reduzido a postas e assado, servindo de pasto a esses canibais.

Por ordem de Gonçalo Coelho deu-se imediatamente à vela em rumo de sul, sempre à vista da terra, chegando a 24 ao cabo de Santo Agostinho, nome dado por Gonçalo Coelho, também em honra ao santo deste dia, como confirma[m] Aires do Casal e Varnhagen. Aí fundearam os navios, demorando-se cinco dias, vindo gente à terra, onde foram recebidos pelos indígenas com muito carinho.

A 2 de setembro levantaram âncoras e seguiram viagem para o sul, passando a 4 de outubro em frente ao rio São Francisco, hoje da comarca do mesmo nome, defronte da vila da Barra do Rio Grande, seguindo sempre a mesma derrota, sem tocar em terra.

No 1º de janeiro de 1502, chegou Gonçalo Coelho à barra da baía do Rio de Janeiro, dando-lhe este nome, o de Rio de Janeiro, por com efeito julgarem que era um rio. Discordam no entretanto Brito Freire, que diz chamarem-no os indígenas Niterói e Guanabara, e segundo o quer Léry. Pouco demorou-se aí Gonçalo Coelho, seguindo sua derrota, sempre para o sul, passando em frente à ilha dos Reis Magos, que julgamos ser a atual ilha Grande, pois que há discordância nos autores, visto que o Sr. Dr. Lopes de Moura, Saint-Adolphe e outros disso duvidam, querendo uns que esse nome tivesse sido dado a Angra dos Reis e outros à ilha Grande, e que fosse Martim Afonso quem denominara aquela paragem de Angra dos Reis a 6 de janeiro de 1532, quando ali aportara.

Ainda igual dúvida se dá com o nome de São Sebastião a uma ilha pertencente a São Paulo, antiga capitania de São Vicente, e que fora Gonçalo Coelho quem lhe dera tal nome, segundo afirma o Sr. José de Vasconcelos, pois que nem Aires do Casal, nem Simão de Vasconcelos, nem Magalhães Gandavo, primeiro escritor sobre o Brasil, nada disseram a respeito.

Seja como for, continuemos em nosso primordial propósito.

A 22 chega Gonçalo Coelho à embocadura de um rio, aonde entrando com as caravelas fundeou, dando a este porto o nome de São Vicente. Aí demorou-se 24 dias, sortindo-se de víveres e água, sendo todos bem recebidos e tratados pelos indígenas, e ali ficando com eles o condenado João Ramalho.

A 15 de fevereiro, segundo Américo Vespúcio, Gonçalo Coelho fez-se de vela para o sul, indo até 32º de latitude meridional, aonde, não podendo resistir ao grande frio, deram de proa para o Equador entre rumo de norte e nordeste, e depois de 1.300 léguas de viagem tocaram à Serra Leoa, onde também demoraram-se 15 dias, chegando a Portugal a 7 de setembro do mesmo ano.

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2019

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