Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

IBES 70 ANOS

Jones Santos Neves - Ibes

IBES 70 ANOS 

Em setembro de 1951 no escopo dos festejos do IV centenário de Vitória, a administração estadual sob o comando do Jones Santos Neves, em seu primeiro ano como governador eleito, inaugurou uma parte de casas do IBES, sendo denominado Núcleo Residencial Alda Santos Neves, nome de sua senhora, primeira dama do Estado.

O projeto já vinha desde o governo anterior, o de Carlos Lindenberg, na sua primeira administração (1947-1950) com o objetivo de promover casas para o funcionalismo por meio do Instituto de Assistência e Pensão Jerônimo Monteiro, o  IAPJM.

Experiências anteriores de pequenos conjuntos habitacionais haviam sido feito na administração estadual de Florentino Avidos entre 1924-1928, quando construíram casas geminadas em Jucutuquara e no Parque Moscoso em Vitória. Já em Vila Velha, a Prefeitura cedia terrenos, e os Institutos de Pensão e Aposentadoria construíram casas principalmente na sede, e sempre conjuntos de poucas unidades, no máximo uma meia dúzia, e não geminadas a maioria.

Desde a era Bley havia um desejo de moradores da capital quererem residir em Vila Velha, já que Vitória era muito apertada sem condições de expansões urbanas adequadas. Pois mesmo que o grande aterro de Bento Ferreira estivesse  começando e o novo arrabalde que é a Praia do Canto e Santa Lúcia projetado pelo Saturnino de Brito na virada do século XIX para o XX, não absorviam um empreendimento popular de grande porte para a época.

Foi inclusive um motivo alegado pelo Interventor estadual ao rebaixar o Município de Vila Velha, a distrito da capital, extinguindo sua autonomia, em 1931, por meio de um revolucionário Decreto Lei Estadual, alegando que só assim poderia ocorrer uma melhoria na infraestrutura do município canela verde, e com isso absorver parte da  enorme população que se reproduzia na ilha de Vitória, já com expressivo contingente de funcionários públicos.

Bem mais na frente, na democratização após a era Vargas  e de Bley, por conta de que a rodovia Carlos Lindenberg vinha sendo aberta e pavimentada, o que facilitaria o acesso a Vila Velha, o governo do Estado, desapropriou área, num terreno plano e arenoso, próximo do antigo Sítio das Pedras situado onde ficou o polo industrial de Santa Inês.

Era uma época do pós-guerra, com o modernismo chegando, e então contrataram a Fundação Casa Popular do Governo Federal para elaborar o projeto, quando atuou nele o arquiteto Renato Sá. A empreiteira que venceu a concorrência foi a Construções Populares Ltda, do Rio de Janeiro, dos irmãos engenheiros Faulhaber.

Então o Ibes já foi um  projeto mais ambicioso, em número de unidades projetadas, prevendo espaços para equipamentos comunitários, o primeiro desse estilo no Estado.

Imprimiram prospectos do empreendimento. Foram previstas construção de 244 casas, todas térreas, supondo 5 pessoas por residência, estimando que no bairro tivesse quando todo ocupado 1.220 habitantes, de início.

 

IBES É UM HEXÁGONO 

Foi concebido num partido urbanístico, em que numa praça circular central desemboca o acesso principal, e os radiais, de acesso aos seis setores, interligados por ruas locais concêntricas, ficando o bairro como que quase uma ilha urbana, tendo uma única estreita saída pelo setor 3, como rua de serviço também de mão dupla, para escoamento de águas pluviais, e acesso a sítios das proximidades.

Interligações a mais bairros vizinhos que foram surgindo, foram feitas depois, com desapropriação de imóveis, atraindo com isso algum trânsito de passagem, que só veio amenizar com a conclusão de acesso direto à rodovia Carlos Lindenberg margeando o bairro a oeste.

Implantadas as primeiras casas, seguindo padrões, viram que o custo unitário não cabia no bolso da maioria do funcionalismo público, ou seja, era um sonho de uma noite de verão. E então prosseguiram com a implantação habitacional vendendo áreas a outros Institutos de Aposentadoria e para a Cia. Vale do Rio Doce que ali construíram casas para seus dependentes e funcionários, sendo agora muitas casas geminadas para reduzir custos.

Algumas habitações originais devem ainda existir. Na saída do Ibes para a rodovia Carlos Lindenberg onde funcionou a coletoria estadual, ali ficou a indústria dos engenheiros Faulhaber do ramo de pré-moldados de cimento, dos usados para a construção das casas do conjunto e outros artefatos.

O Departamento de Águas e Esgoto, o DAE levou rede de água para atender ao bairro, e a concessionária de energia elétrica levou para lá essa utilidade. Esgoto sanitário de cada imóvel ficou pelo sistema de fossa séptica e sumidouro, sendo que rede de esgoto propriamente dita só foi feita nos anos 2000 para frente, por meio da CESAN.

Hoje o bairro tem cerca de 6.677 habitantes, um batalhão da PM, um hospital particular, o ambulatório Dr.Denizarth Santos da Associação dos Funcionários Públicos, inúmeras igrejas, um mercado popular, clube, várias escolas de primeiro e segundo grau, e inúmeros empreendimentos. Já teve um cinema: o ATERAC. Escola de Samba: a Arco Íris !

Tem um importante movimento social, entre eles, que é o ARCI – Associação Recreativa e Cultural do IBES, que foi liderada por muitos anos pelo Hélcio Andrade Mendes, que inclusive se elegeu vereador várias vezes.

Quando surgiu o bairro, o transporte urbano era um problema, e as pessoas tinham que vir até a rodovia Carlos Lindenberg para pegar ônibus, até surgir a linha "IBES", que interligava o bairro com Vitoria.  Moradores solicitaram em meados dos anos 50 um ramal da linha de bonde que passava no Aribiri que fosse até lá, mas não foram atendidos.

Aos poucos as ruas foram sendo pavimentadas, a iniciar pela Avenida Nossa Senhora da Penha, que é o acesso principal, calçada na primeira administração de Américo Bernardes da Silveira, na PMVV.

Linha de ônibus para o Centro de Vila Velha, só surgiu em meados dos anos 60, com a linha "IBES – Ginásio", que passava pelo colégio estadual "Agenor de Souza Lé" que surgira no bairro Divino Espírito Santo. Era uma linha longa, fazendo itinerário por vários bairros próximos para pegar estudantes, e era apelidado o ônibus de "cachorro doido".

Foi nessa época que surgiu a campanha estudantil "calcem o ginásio".

O Ibes no início era visto por populares como bairro "que só tinha vento". Comércio foi se instalando aos poucos e uma das primeiras mercearias foi do Emídio Pais, antes de seguir para a Praia do Suá onde mudando de ramo iniciou sua loja de materiais de construção. No início os residentes eram isentos de pagarem o  IPTU.

Como o capixaba desde o período colonial era observado que tinha o costume de pronunciar "i" no lugar de "e", pronuncia-se comumente "Ibis", e é claro que não pode ser confundido com a ave íbis, e nem com a rede de hotéis que surgiu também com o nome Íbis !  Pegar táxi hoje e pedir para levar ao íbis, tem que explicar que Íbis é esse.

 

IBES É SIGLA 

I.B.E.S. – é sigla de Instituto de Bem-estar Social, que foi uma autarquia estadual que criada pela Lei 627 de 22/2/52 para gerenciar a continuação da implantação do bairro e venda das casas e terrenos. Por lei estadual sobre o imposto "causa mortis" era aplicada taxa de 5% em favor do Ibes, que tinha uma sede com parquinho para crianças, no imóvel onde depois por certo tempo funcionou o Arquivo Municipal.  A autarquia tinha atribuições muito vastas, para levar bem estar social a todo o Estado (não só ao conjunto residencial em tela), e existiu até início dos anos 80, quando foi extinta pela Lei 3.347 e incorporada suas atividades na Secretaria de Estado do Bem Estar Social, no governo Eurico Rezende. Portanto a denominação popular IBES só surgiu um ano depois de iniciada as obras e já com parte das casas já inauguradas. No IBES havia atuação de assistentes sociais, que são agentes de transformação, que ajudavam entre outras coisas a resolver conflitos até domésticos.

 

RELAÇÕES DO IBES COM A CÂMARA MUNICIPAL DE VILA VELHA 

Aos poucos a Câmara Municipal votou leis para o bairro tais como a denominação de nome de ruas e praça para homenagear personagens, autorizando custeio de posto telefônico público, instalação de rede de drenagem (sistema único conduzindo águas pluviais e esgoto),  calçamento de ruas e outras melhorias.

 

IBES LIDERA O GRANDE IBES, e é distrito municipal 

O setentão conjunto habitacional do IBES com o tempo foi tendo na vizinhança uma expansão urbana enorme que foi emendando com outras regiões de Vila Velha.

O Ibes ao surgir em 1951, passou a ter nas proximidades o bairro Santa Inês onde foi criado um cemitério municipal por volta de 1957 na administração Gil Veloso, que inaugurou seu muramento frontal.

Nessa época foi surgindo também o bairro Nossa Senhora da Penha.

Nos anos 70, época dos grandes conjuntos habitacionais da Cohab, Inocoops, BNH e outros, surgiram o bairro Santa Monica e adjacências ao sul, o bairro Guadalajara a leste e o Santos Dumont a oeste. No final dos anos 80/90 numa articulação dos Vicentinos, Cohab e PMVV, urbanizou-se a área onde os mais pobres haviam feito seus barracos de tábua ao redor de uma capelinha, melhorando o arruamento, e ganhando-se uma creche, tudo num terreno doado por Dona Marta Vereza. Fica por detrás da região da Escola Florentino Avidos, a sudoeste do bairro.

Como não houve bom controle na implantação do partido urbanístico de bairros adjacentes, as emendas com alguns deles, ficaram por ruas estreitas em zig zag.

Na administração estadual de Albuíno, nos anos 90, o bairro ganhou um terminal de linhas de transporte coletivo do sistema Transcol, da CETURB-GV, e nessa época começou-se falar no aglomerado urbano do Grande Ibes.

Jornais diversas vezes publicaram matérias analisando a vida no bairro. E no nº 54 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, no ano 2000, saiu publicado de autoria de Carlos Teixeira de Campos Jr, "A experiência de construção habitacional do Ibes". Ótimas análises como essa, foram surgindo ao longo dos anos, dado o pioneirismo do bairro, seu desempenho, a concepção urbanística e sua história.

 

OUTROS ASPECTOS 

Com a abertura da rodovia iniciada na primeira administração de Carlos Lindenberg, e pavimentação asfáltica inaugurada também em setembro/1951 (já no governo Jones), imaginou-se ter ao longo da mesma um grande número de conjuntos habitacionais, além do Ibes, como foi o caso do conjunto Plácido Barcelos (esse foi particular) de meados dos anos 50.

O loteamento Cobilândia surgiu quando foi aberta a rodovia, que certa época a estrada foi apelidada de "ondolândia". O  Bairro Alvorada também é desse tempo. Já o conjunto  do bairro Planalto é do inicio dos anos 70.

Bairro industrial foi imaginado para surgir onde funcionou a Ipessa (indústria de papéis) e a Pepsi, tanto que passou ter ali alguns armazéns de beneficiamento de café (já chegando às encostas do Cobi). 

Na área onde foi construído o conjunto houve  remanejamento de várias famílias paupérrimas que ali tinham seus casebres. Já depois da posse como governador em 31.1.51, o Sr Jones dos Santos Neves foi no local verificar o ato. Entre outras testemunhas o padre Ponciano Stenzel dos Santos. 

 

Autor: Eng. Civil e de Segurança no Trabalho, Roberto Brochado Abreu – associado do Instituto Histórico e Geográfico de Villa Velha – Casa da Memória – postado em julho/2021

 

Bairros e Ruas

Avenida Florentino Avidos (ex-rua do comércio)

Avenida Florentino Avidos (ex-rua do comércio)

A primitiva rua do Comércio, que data do século XVII, tinha começo na General Osório e ia até o cais Schmidt

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Arrabaldes de Vitória - Os 10 mais frequentados por Eurípedes Queiroz do Valle

Primitivamente a expressão significava o habitante desse arrabalde. Passou depois a significar os que nascessem em Vitória. Hoje é dado a todo espírito-santense

Ver Artigo
Centro de Vitória

Palco de batalhas ferrenhas contra corsários invasores, espaço para peladas de futebol da garotada, de footings de sábados e domingos, praças, ladeiras e ruas antigas curtas e apertadas, espremidas contra os morros — assim é o Centro de Vitória

Ver Artigo
Cercadinho – Por Edward Athayde D’Alcântara

Ao arredor, encosta do Morro Jaburuna (morro da caixa d’água), ficava o Cercadinho

Ver Artigo
Avenida Jerônimo Monteiro (ex-rua da Alfândega)

Atualmente, é a principal artéria central de Vitória. Chamou-se, antes, Rua da Alfândega, sendo que, em 1872, passou a denominar-se Rua Conde D'Eu

Ver Artigo
Poema-passeio com Elmo Elton - Por Adilson Vilaça

“Logradouros antigos de Vitória” sempre me impressionou. Mais de década depois, eu faria a segunda edição desta obra pela Coleção José Costa, dedicada à memória e história da cidade, e que foi por mim criada na década de 90

Ver Artigo