Macumba, Umbanda e Candomblé
A palavra Macumba designava, originalmente, um tambor, isto é, espécie de atabaque. Depois, passou a designar também os grupos de africanos que se reuniam para conversar, dançar ou cantar, geralmente sob uma árvore e, quase sempre, acompanhados desse tipo de tambor.
Durante a escravidão, os senhores, além de não entenderem as culturas africanas, também as desprezavam e, portanto, não conseguiam perceber diferenças entre as várias manifestações dos escravos, já que em todas elas havia cantos, danças e toques de tambores específicos que podiam significar alegria ou tristeza, comemoração ou protesto, culto religioso ou festa profana. Dessa forma, para os senhores, todas as reuniões de negros que continham danças, cantos e atabaques passaram a ser chamados de Macumba, Pagode, Samba ou Batuque.
O uso da palavra Macumba espalhou-se pelo Rio de Janeiro como sinônimo das práticas religiosas dos negros porque eram as mais comuns e constantemente percebidas. Finalmente, os próprios descendentes dos africanos também passaram a identificar as religiões afro-brasileiras como Macumba e seus praticantes como macumbeiros. Entretanto, ao mesmo tempo em que a Macumba torna-se popular, a igreja católica promovia uma grande perseguição, dizendo que era feitiçaria e “coisa do diabo”. Frente a isso e às perseguições dos policiais e brancos racistas, poucas eram as pessoas que aceitavam ser chamadas de macumbeiras e assumiam que eram seguidoras de religiões de origem africana ou indígena, preferindo identificar-se como católicas, embora continuassem praticando a Macumba escondidamente. Hoje em dia, com as conquistas do cidadão em defesa da liberdade religiosa, muitas pessoas já não têm receio de serem identificadas como macumbeiras, porque ninguém pode ser discriminado por causa da sua religião.
Do Rio de Janeiro, a palavra espalhou-se pelo Brasil. Por isso, algumas pessoas chamam a Umbanda brasileira, a Cabula capixaba, o Candomblé baiano, o Xangô nordestino, o Tambor de Mina nortista e outras religiões afroindígenas-espíritas do Brasil de Macumba. Em alguns casos, pessoas ignorantes ou racistas, querendo desprezar a herança cultural afro-capixaba, chamam de Macumba, dando conotação pejorativa também às manifestações não especificamente religiosas, como os grupos de capoeiristas, as bandas de Congo etc.
A Umbanda é, basicamente, um conjunto de práticas religiosas resultantes do sincretismo, isto é, mistura ocorrida no Brasil de religiões africanas com religiões indígenas, catolicismo e espiritismo. Também é comum as pessoas pensarem a Umbanda e a Macumba como a mesma coisa. Efetivamente, parece que muito da Umbanda brasileira teve origem na Macumba carioca e na Cabula capixaba.
No caso do Espírito Santo, desde o fim do século XIX até o final da primeira metade do século XX, paralelo ao processo de decadência da Cabula, causada, como já foi destacado, pela perseguição do bispo católico, crescia o número de praticantes da Umbanda nas áreas urbanas e suburbanas, principalmente. Logo, a partir dos anos da década de 1930, o conteúdo africano da Umbanda capixaba foi reforçado pelas influências das diversas nações de Candomblé que vinham diretamente da Bahia ou que chegavam via Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Nessa época, houve perseguições violentas e humilhações impostas por policiais a mando de autoridades civis e religiosas, com prisões de Pais e Mães de Santo e seus filhos, além de destruição de muitos Terreiros de Umbanda. Os Barracões de Candomblé firmaram-se como espaços de reencontro étnico e cultural, funcionando nas áreas urbanas, suburbanas e rurais, como espaços de libertação religiosa e de recomposição social para muitos capixabas, que, com luta, vão conquistando o direito de professar livremente suas religiões.
Se, por um lado, nas últimas décadas, tem aumentado o número de praticantes mestiços e brancos da Umbanda, dando mais força para resistir às discriminações, por outro, as mais diversas influências trazidas por esses novos fiéis têm, em alguns casos, diminuído o seu conteúdo afronegro original.
O Candomblé é resultante das diversas práticas religiosas africanas que chegaram ao Brasil, principalmente na Bahia, que se fundiram e formaram uma nova religião afro-brasileira, com conteúdos teosóficos e ritualísticos herdados das diversas nações, culturas e etnias africanas ou que preservaram, de forma mais ou menos “pura”, suas tradições específicas.
O Candomblé tem no Espírito Santo representações das Nações de Angola, de Keto, de Jeje ou Jeje-Nagô, de Efom e de Omolokô.
Mesmo ainda não havendo pesquisas que forneçam, com precisão, o número de Terreiros de Umbanda, de Barracões de Candomblé e de seus praticantes, estima-se, com base nas informações das organizações federativas e associativas, que existam cerca de 600 Terreiros, 50 Barracões, uns 30 mil praticantes fiéis e um número incalculável de simpatizantes e usuários esporádicos dessas práticas.
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Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Osvaldo Martins de Oliveira. –2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2021
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