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O fora do ano - Sérgio Figueira Sarkis

Solenidade de formatura da primeira turma de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo, em 5 de Janeiro de 1967. Da esquerda para a direita, Affonso Bianco, Diretor da faculdade, este autor e Cristiano Abreu, Presidente do Tribunal de Justiça.

Por um período 12 anos, fui secretário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. Consta do meu curriculum ser fundador das atividades administrativas da mesma. Iniciei meu trabalho antes da autorização de funcionamento do curso e da realização do primeiro vestibular para admissão de alunos. Isto aconteceu em fevereiro de 1961.

Organizei todos os setores escolares e administrativos, incluindo a preparação para a estrutura de funcionamento dos órgãos colegiados da época: Congregação e Conselho Departamental  — sendo também autor do projeto do Regimento Interno da Faculdade.

O trabalho era insano, obrigando-me a fazer dois expedientes diários em contraponto ao obrigatório à época. Por se tratar da primeira Escola de Medicina do Estado, constantemente era procurado por pessoas de outras unidades da Federação, principalmente do Rio de Janeiro, pois, embora sem credencial formal para exercícios de atividades na área médica, eram proprietários de clínicas as mais diversas. Enfim, uma infinidade de exercícios fora da Lei.

Desejavam ingressar no curso sem prestar vestibular, sempre sob a mesma alegação de já estarem praticando atividades ligadas à área há muitos anos. Ressaltavam ter direito àquele benefício, apoiados em legislação do início do século XX, quando os cursos mal estavam começando e, para variar, os práticos faziam a festa.

Isto obrigou-me a longos estudos da legislação vigente, confrontando-a caso a caso. Eu estudava Direito e tinha boas fontes de pesquisa na escola. Iniciei o assunto desta forma para dar uma dimensão do tipo de atividade que me envolvia. Ela obrigava-me a ter um gabinete separado, para poder não só receber os interessados, como também preparar os longos pareceres contrários àquelas pretensões.

Nos meses de dezembro, abríamos o prazo para inscrição no vestibular, à época feito isoladamente — cada curso realizava o seu. Como até hoje ocorre, o Curso de Medicina era o mais procurado pelos candidatos. Eles lotavam as dependências da Faculdade levando os documentos exigidos e aguardando em longas filas a hora de serem atendidos.

Num desses dias, atarefado, saio rapidamente do meu gabinete e dou de cara com um senhor meu conhecido, cujo falatório das línguas maldosas de Vitória o envolviam no fato de sua filha ser, verdadeiramente, de um compadre merecedor da confiança dele. Permitiu, inclusive, que ele fosse padrinho da menina, dentre outras coisas que não valem a pena transcrever.

Apressado, cumprimentei o senhor, indagando o que estava fazendo ali. Respondeu estar acompanhando a menina na inscrição para o vestibular, apontando-me a mesma. Ao fitá-la, notei, efetivamente, traços fisionômicos marcantes do seu padrinho. Sem pensar falei:

— Ah! A filha do Fulano (o padrinho).

Imediatamente, ele retrucou, dizendo:

— Filha, não! Afilhada.

Procurei — e não encontrei — um buraco no chão para me esconder.

  

Fonte: No tempo do Hidrolitol – 2014
Autor: Sérgio Figueira Sarkis
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2019

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