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Obra dos Jesuítas no Espírito Santo

Palácio Anchieta

A lembrança de escrever-se uma história dos jesuítas no Espírito Santo partiu da necessidade de reunir-se num só compêndio os principais acontecimentos de uma época que foi a mais decisiva para o nosso desenvolvimento socioeconômico e cultural no seu sentido geral.

Não é trabalho fácil escrever-se dos inacianos na Capitania, tendo em vista a raridade dos dados históricos positivos sobre o assunto (principalmente durante os séculos XVI, XVII e XVIII), até sua expulsão do Brasil, a não ser que os procuremos reunir aqui e ali dos vários autores capixabas, todos também escassamente informados.

Os registros estão, na sua maior parte, baralhados e confusos, até mesmo quanto às fundações que iniciaram entre nós, que o padre Serafim Leite (História da Companhia de Jesus no Brasil), com a sua autoridade do melhor cronista da Ordem, não aclarou, como temos o exemplo de Nova Almeida, que ele apresenta como terminada em 1615, enquanto outros a incluem como obra do padre Brás Lourenço, que foi provincial da Companhia no Espírito Santo, entre 1553 e 1564, quando foi substituído pelo padre Manoel de Paiva.

Existe outra controvérsia quanto à residência de Araçatiba, cuja história ele aponta como sendo conhecida somente a partir do ano de 1716 e que a professora Maria Stella de Novaes (História do Espírito Santo, pág. 31) anotou como sendo também trabalho do padre Brás Lourenço, auxiliado pelo índio Piraogib, junto aos tupiniquins e papanases que (segundo ela) habitavam aquela região.

Escoimando os dados existentes de algumas dúvidas, algumas até de difícil apreciação, o que deduzimos do confronto que fizemos, incluindo até o padre Serafim Leite, foi este trabalho que pudemos organizar sobre a missão jesuítica na Capitania, amparados por uma pesquisa honesta e imparcial que fizemos dias e dias, lendo e relendo o que de mais precioso julgamos encontrar desta história que nos propusemos estudar.

Não acreditamos que se possam conseguir mais do que conseguimos, com esforço e tenacidade de quem quer servir ao seu Estado, na difusão das suas tradições e dos lindos episódios que a sua história ainda não conseguiu desvendar.

O Colégio dos Jesuítas, hoje Palácio Anchieta, é a mais antiga relíquia dessa época, nas suas linhas estruturais de alvenaria. Foi uma construção que há quase quatro séculos vinha desafiando os estudiosos que procuram algo de positivo sobre a sua verdadeira história, mas que infelizmente ainda não está completa.

Uma coisa, porém, está completamente provada; é a sua participação constante e eficaz, durante todo esse tempo em tudo que se há feito no estado, no sentido do seu desenvolvimento.

Ao escrever-se a sua história, como marco da catequese entre nós, não há que fugir da necessidade de elucidá-la primeiro, para em seguida, mencionar os benefícios que advieram da sua construção, em prol da catequese, até 1760, quando deixou de ser o centro pioneiro da civilização indígena, a começar pelo nosso primeiro mestre-escola. O padre Afonso Brás naquela casinhola de palha que erguera na praia, ao pé da colina, onde depois se levantou o Colégio.

Repleto de neófitos que precisavam alimentar-se foi ainda dele que saíram os pioneiros do novo sistema do trabalho agrícola iniciado pelos jesuítas. Também de lá saíam e chegavam diariamente os padres e irmãos leigos que serviam nas diversas aldeias e residências fazendárias e que se embrenhavam nas florestas, à procura de mais índios para catequizar.

Expulsos os jesuítas, como falsários da Coroa e ambiciosos das riquezas terrenas, foi ele transformado em residência do governo (não logo aproveitado para tal) desde a era colonial até os nossos dias, ou seja, durante 219 anos (1790-1979).

Aí então foi que a sua utilidade se firmou como centro e ponto de partida de todas as realizações que nos transformaram de uma pobre Capitania, com apenas 22.293 habitantes, em 1790, no estado que hoje se apresenta, no seio da Federação, por cujo ideal tanto lutaram os nossos líderes do passado, do presente e do futuro que nos sorri, alvissareiro.

Para a consecução desse objetivo, necessário se tornou dividir-se o seu estudo em três períodos, compreendendo uma síntese de sua história primitiva e os benefícios que surgiram com a catequese, da qual foi o centro durante 209 anos (1551-1760) e em 219 anos que serviu como sede do governo, a saber, 62 anos na era colonial, 67 no período monárquico e 90 durante a república que tiveram também de ser apreciados como acontecimentos correlatos da sua história, além das principais ocorrências verificadas no tempo e no espaço e das reformas por que passou, apenas conhecidas, a partir do século passado, pois não encontrei menção de outras anteriormente procedidas que devem ter isso feitas inevitavelmente.

É uma história pequena, que já disse, porque escassos são os informes registrados pelos historiadores do passado (acredito que pela censura imposta por Pombal, quando da expulsão dos jesuítas) mas é o resultado de uma pesquisa dura e pertinaz em quase todos os velhos compêndios dos autores que estão relacionados na nossa bibliografia.

Viana, janeiro de 1979.

 

Heribaldo Lopes Balestrero.

 

Fonte: A Obra dos Jesuítas no Espírito Santo, 2012
Autor: Heribaldo Lopes Balestrero
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2012 

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