Os anos 50. “Anos dourados, início dos anos rebeldes” - Por Francisco Aurélio Ribeiro
Nos anos 50, ao som das orquestras dançantes, a juventude dourada brilha no Clube Vitória, no Praia Tênis Clube ou Saldanha da Gama. Vitória vivia sua pacata vidinha provinciana. As mulheres, após a agitação da década anterior, acomodaram-se aos papéis que os homens lhe reservaram.
Mary de Oliveira (1935), nascida em Cachoeiro de Itapemirim, vai para o Rio de Janeiro, onde estuda Letras, seguindo, depois, para a Europa. De volta, publicou seu primeiro livro de poesia, Cerco da primavera, em 1958, conquistando o Prêmio Alphonsus de Guimarães, do INL. Com uma poesia emblemática, metafórica, de tendência filosófica, de indagação e cognição, Marly de Oliveira, é uma das mais representativas poetisas da geração de 45, cujo maior representante é João Cabral de Melo neto, escritor a quem se une na velhice. Publicou, posteriormente: Explicação de Narciso, 1960; A suave pantera, 1962; A vida natural/ o sangue na veia, 1967; Contato, 1975; Invocação de Orfeu, 1980; Aliança, 1980; A força da paixão & A incerteza das coisas, 1982; Retrato-Vertigem e Viagem a Portugal, 1986; O banquete, 1988; Obra poética reunida, 1989 e O deserto jardim, 1990. Marly de Oliveira é a mais importante poetisa brasileira nascida no Espírito Santo, embora tenha poucas afinidades com este Estado. Dela disse Clarice Lispector, no JB, de 6/7/71: “Vou apresentá-la com grande alegria: trata-se de um dos maiores expoentes da nossa atual geração de poetas, que é rica em poesia (...) Além de poeta, faz críticas da maior erudição, agudeza e sensibilidade.”
Marly de Oliveira é da linha de poetas cerebrais, que fazem, através da palavra, uma reflexão existencial ao lado da reflexão do próprio fazer poético. Seu longo poema "Parábola" de O deserto jardim (1989-1990) é uma bela reflexão sobre o oficio de ser poeta:
Outra escritora que começou sua vida literária na década de 50 foi Carmélia Maria de Souza (1936-1974), musa da crônica bossa-nova, segundo A. Coutinho(22),. A crônica tem sido uma tradição das escritoras capixabas. Haydée Nicolussi as publicava, desde a década de 20. Guilly Furtado Bandeira, com o pseudônimo de "Gui'', foi popular cronista da década de 30.
1. "Como aquele que semeia
não como o semeador:
diferença que Vieira
leva com extremo ardor
ao extremo do barroco.
Porque uns pregam com os olhos
outros pregam com ouvidos.
Um pelo exemplo é notado,
outro, vem é percebido,
que ao vento bastam palavras,
no coração faltam as lidas "
2. ''Há de assim ser o pregar,
que para nós é o escrever?
Dir-me-eis de coração casto,
se é possível comparar,
aquele que com amor escreve
-e o mundo faz convertido
ao que joga trigo e o perde
entre as pedras e os espinhos”
Publicou um livro, Esmaltes e camafeus. Annete de Castro Matos, falecida em 1992, publicou, em 1949, suas crônicas em Dedo minguinho, com um estilo agradável, lírico, filosófico, às vezes antológico, como em "Éramos seis.. e mais uma" (p.25) ou "San Michele"(p.39). Ida Vervloet Finamore (1902-1990) publicou, em 1945, Páginas soltas, crônicas intimistas e confessionais. Zeny Santos, falecida em 1986, é considerada por Agostino Lazzaro "uma das melhores cronistas do Espírito Santo, juntamente com Carmélia Maria de Souza"(23). Publicou dois livros de crônicas, Cacos, com repercussão na critica nacional, na década de 60, e Saveiro da ilha dos cisnes, em 1974. Yamara Vellozo Soneghet Melchiors (1931-1974) também publicou crônicas na Vida Capixaba, na década de 50, e em jornais.
No entanto, foi Carmélia Maria de Souza que popularizou a crônica escrita por mulher, no Espírito Santo, retratando, com fidelidade, o espírito de contestação dos anos 60 e da desilusão dos 70. Ela personificou o espírito da geração de transição dos anos dourados do pós-guerra aos anos rebeldes dos revolucionários de 68. As crônicas de Carmélia refletem o espírito da "contracultura", caracterizado pela alienação, pelo misticismo, pela fuga através do álcool e das drogas, pela cultura literária, experiências comunitárias, liberação sexual e afirmação dos direitos das minorias e discriminados, de todo tipo.
Carmélia consagrou, também, em suas crônicas reunidas em livro, por Amilton de Almeida, e publicado em 1976, com o título Vento Sul, o espírito, de "fossa”, difundido no Brasil pelas vozes das cantoras, também capixabas, Maysa e Waleska. Carmélia debutou como cronista na Vida Capichaba, em 1958, com a crônica "A lotação, a gorda e eu"; publicou suas crônicas no semanário Sete dias e em O Diário, do qual foi redatora. Morreu aos 37 anos e tornou-se mais um mito capixaba, como Maria Ortiz.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
(22). COUTINHO, A. (Dir) Enciclopédia de Literatura Brasileira. Rio de Janeiro; MEC/FAE, 1990, vol. 1, p.559.
(23). LAZZARO, Agostino; Op. cit, p.223.
Fonte: Literatura do Espírito Santo: uma marginalidade periférica, 1996, Vitória/ES
Autor: Francisco Aurélio Ribeiro
Capa (execução eletrônica): Renato Costa Neto e Luiz Alexandre Mess
Ilustração: Attílio Colnago
Editoração Eletrônica (texto): Antonio Gil e Alexandre Moraes
Revisão: Reinaldo Santos Neves
Agradecimento especial: Idelze Maria Vieira Pinto
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2021
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