Pedra dos Passarinhos - Do Livro Krikati Tio Clê e o Morro do Moreno
CAPÍTULO XIII
Deixando a Praia do Ribeiro, os três foram para a Praia da
Costa.
– Pessoal – disse Miguel – gostaria antes de mostrar uma coisa.
Olhem, estão vendo as ruínas desta casa? Aí morou e morreu o
Donatário Vasco Fernandes Coutinho. Seu filho, o segundo Donatário,
nasceu e também morreu aqui na sua Fazenda da Costa. Dizem
que o velho gostava de ficar na varanda de sua casa, no alto da Pedra
das Caiçaras, por horas, contemplando as ondas que lavavam a Ponta do Chavão e a Pedra do Sapo.
– Tio Miguel, por que o nome Pedra das Caiçaras?
– Krikati, caiçara é uma espécie de cerca feita com varas de
mato em volta de uma casa com a finalidade de proteger as criações.
Nessa região, você já sabe disso, há muita jibóia, gambá e sarué, que
atacam as galinhas.
– Então, Tio Miguel, deve ter sido por isso que as caiçaras
foram construídas e deram o nome à pedra, né?
– Pode ter sido, Krikati. Isso é muito antigo... É do tempo do
primeiro Donatário. Contam também que, certa vez, na maior ressaca
já vista por aqui, ondas gigantescas lavaram a Pedra da Mona, e
dezenas de ovos de andorinhas-do-mar foram lançados ao oceano e
levados até a praia, por milagre de Deus.
Krikati prestava uma enorme atenção no caso. E Tio Miguel
continuou...
– João Rita, pescador muito conhecido na região, recolheu
todos os ovos que encontrou na areia da praia e os levou para sua
cabana de palha de coqueiro, localizada em frente a uma pedra.
Durante o dia, ele aquecia os ovos na areia da praia ensolarada. À
noite, os colocava próximo ao seu fogão a lenha. Quando os filhotinhos
nasceram, João Rita os alimentou na mamadeira. Todos sobreviveram
e começaram a alçar seus primeiros vôos, mas sempre
ao entardecer davam um rasante sobre a palhoça do pescador para
depois irem dormir na pedra, em frente à sua casa. Por isso, a batizou
como Pedra dos Passarinhos, que é como é conhecida. Temos
que preservar nossa história e nossas origens para os que virão –
concluiu Miguel.
Finalmente os três passaram em frente à residência do senhor
Gastão Roubach, na Praia da Sereia, e seguiram até o bar de
um amigo.
– Tio Clê, o senhor conhece o dono desse bar que tem uma
sereia pintada na parede?
– Esse é o famoso Bar Sereia. Seu proprietário é nosso amigo
Lúcio Bacelar.
– O que há de gostoso aqui para comer?
– Krikati, não vá me dizer que você já está com fome? – perguntou
Tio Miguel, boquiaberto.
– Não, é só para saber. Um dia voltarei aqui com mamãe.
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– Krikati, a especialidade do Lúcio é pastel de bobó de camarão,
manjuba frita e arroz de tatuí com farofa, que é muito gostoso.
– Pessoal, – disse Clê, correndo na areia da praia – vamos até
aquela pedra, conhecida como Ponta da Sereia. Vou fazer uma brincadeira.
Os três chegaram à parte mais alta da pedra e ficaram admirando
a imensidão do mar, que estava de ressaca.
– Qual é a brincadeira, Tio Clê?
– É adivinhar o nome das ilhas. Miguel apontará para cada
uma delas e nós responderemos, um de cada vez.
– Valendo! – disse Miguel, apontando para a primeira pedra.
Krikati respondeu:
– Pacote.
Depois Clê:
– Escalvadas.
E as respostas continuaram. Um de cada vez, acertando todas:
Pedra dos Passarinhos, Ilhas Pombuçu, Jorge Fernandes, Taoninha,
Pituã, e Boqueirão.
– Acabaram as ilhas, Tio Miguel?
– Sim, Krikati. Deste ponto da Pedra da Sereia é o que a
nossa visão consegue alcançar.
– E quem ganhou?
– Se o número de ilhas for ímpar, Krikati foi o vencedor. Se
for par, houve empate. Entendeu?
– Quase, Tio Miguel. Mais tarde eu faço minhas contas –
concluiu Krikati.
Fonte: Krikati, Tio Clê e o Morro do Moreno,2006
Autor: Walter de Aguiar Filho
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