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Praia do Canto, o boom imobiliário – Por Sandra Aguiar

Capa do Livro: Praia do Canto – Coleção Elmo Elton nº 4 – Projeto Adelpho Poli Monjardim, 2000

A grande maioria tinha o privilégio de ser dona de propriedades, em média, com 400 metros quadrados de área. Inclusive, na década de 70, o imenso terreno onde estava localizado o Westem Telegraph Ltda, "ligando Vitória ao mundo", sobre o morro Itapebuçu, em Santa Helena, foi vendido e também loteado para a construção de grandes casas para a classe média alta.

O período coincide com o fim das referências das praias da região — Barracão, Castanheira, do Canto e Santa Helena, além das Ilhas do Boi e do Frade —, por força do aterro realizado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano (Comdusa), em 72.

Para muitos, o aterro representou a primeira tragédia. A explicação dada é a de que formou um verdadeiro dique, não permitindo o escoamento das águas pluviais da Rua Saturnino de Brito. Embora timidamente, os pontos residenciais começavam a dar lugar ao comércio, alterando o perfil do bairro e reduzindo o espaço de lazer para as crianças e adultos.

Mas o boom imobiliário veio na década seguinte. Antigos moradores passam a buscar a tranquilidade perdida em outros lugares, na Ilha do Boi e na Ilha do Frade, principalmente, como também em Jardim da Penha e, mais recentemente, do outro lado da Terceira Ponte, na Praia da Costa.

Altera-se o perfil da população do bairro, então reduto de famílias tradicionais. Os imóveis financiados pelo BNH trazem para o bairro pessoas de menor poder aquisitivo, como servidores públicos, professores, pequenos empresários, profissionais liberais e bancários. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que no início dos anos 80 a Grande Vitória somava 152.493 habitações próprias, 37.758 alugadas e mais 12.366 ocupadas gratuitamente, cedido por empregadores ou particulares.

Num plano mais amplo, o cenário do estado: de um total de 444.861 imóveis existentes no Espírito Santo, 216.864 não possuíam água encanada; 186.943 eram servidos com água de poço o nascente; e 29.610 contavam com outras formas de abastecimento — O IBGE não especifica quais.

Em relação à energia elétrica, 143.288 moradias eram desprovidas de luz. Apenas 1.374.999 pessoas, de um total de dois milhões, tinham o privilégio de dispor do serviço.

Os antigos moradores que permaneceram na Praia após tantas mudanças alegam a vantagem de usufruir de uma infraestrutura superior a qualquer outro bairro da Grande Vitória. Dois pesos, duas medidas: a desvantagem de suportar o alto fluxo de veículos, tornando lenta a passagem para qualquer outro lugar, e problema de estacionamento. Sem contar, claro, a onda de assaltos.

Ex-prefeito de Vitória, Carlito Von Schilgen, já falecido, pressentia um boom comercial e começou a defender um Plano Diretor Urbano (PDU) para "salvar" do crescimento desordenado o local, onde construiu uma casa no alto de uma chácara, na Saturnino de Brito. Temia perder a privilegiada imagem das janelas de sua residência e, ainda assim, resistiu a todas as propostas de venda da propriedade feitas pelas construtoras e imobiliárias. A chácara continua ali como uma das referências do passado — um imenso pomar. Embora espremida entre os espigões.

Resistiu à mesma pressão dona Julieta Michelini. Perto de completar um século de vida, ela não atendia mais a quem batesse em sua porta — casa de número 1.378 da Avenida Desembargador Santos Neves — na tentativa de fazer qualquer negócio com o imóvel. A senhora limitava-se a dizer: "A casa é da família e vai continuar da família."

A decisão de ficar implica, necessariamente, pagar um alto preço. Entre outras coisas, transformar a residência num "forte", muros altos, com grades por todos os lados e cães de guarda. Por isso, o contingente dos heróis da resistência urbana, como eram chamados pela imprensa local, foi perdendo pouco a pouco seus soldados.

 

Fonte: Praia do Canto – Coleção Elmo Elton nº 4 – Projeto Adelpho Poli Monjardim, 2000 – Secretaria Municipal de Vitória, ES
Prefeito Municipal: Luiz Paulo Vellozo Lucas
Secretária de Cultura: Cláudia Cabral
Subsecretária de Cultura: Verônica Gomes
Diretor do Departamento de Cultura: Joca Simonetti
Administradora da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim: Lígia Mª Mello Nagato
Conselho Editorial: Adilson Vilaça, Condebaldes de Menezes Borges, Joca Simonetti, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lígia Mª Mello Nagato e Lourdes Badke Ferreira
Editor: Adilson Vilaça
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Cristina Xavier
Revisão: Djalma Vazzoler
Impressão: Gráfica Santo Antônio
Texto: Sandra Aguiar
Fotos: Cláudia Pedrinha
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020

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Rua Marcelino Duarte – Por Elmo Elton

Rua Marcelino Duarte – Por Elmo Elton

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