Volta para dentro, pavão - Por Chico Neto
Não se pode voltar no tempo nem com objetivos turísticos, de forma que me contento em mergulhar em velhas fotos e, à minha maneira, vivenciar um pouco do tanto que já se respirou em determinadas ocasiões do passado. Assim é que consigo sentar-me um pouco em algum banco de madeira do Parque Moscoso, reportando-me a um tempo nem tão remoto assim, mas quando aquela região era eminentemente residencial e, acredito, podia-se ouvir até a voz de quem passava.
Mais ainda, aposto que já houve um tempo em que o burburinho das casas em volta do Parque, bem como o preguiçoso ranger do aviso de chegada de um navio ao porto, eram audíveis. Certamente que essas circunstâncias eram bem mais confortáveis do que oferece o panorama atual — mas hoje vivemos outro tempo, e nem por tanto (ou por tão menos) aquele pulmãozinho verde deixa de ter o seu encanto.
Apenas lamento que poucos possam se aperceber disso — não que sejam insensíveis, mas devido a tudo que hoje se acerca do Parque Moscoso traduzir um progresso desenfreado, um frenesi urbano no centro do qual o velho Parque, embora sobreviva, pouco se destaca. É como se, estando ali dentro, a gente pudesse por alguns momentos se isolar no tempo e no espaço da confusão em que se transformaram aqueles quarteirões.
É mágico entrar ali de manhã cedo ou à tardinha, quando a noite já avisa de sua chegada próxima. Mas também é muito abençoado poder estar do lado de fora, mesmo — afinal, tenho alma saudosista, mas sou ser urbano —, e observar de fora para dentro o que se passa no interior do Parque, e ainda que ainda existem casas lindas que resistiram ao tempo, como a da professora Maria Helena Lindenberg, uma outra que já foi pensão e ainda aquela onde recentemente funcionava a Maison Rosé. De coração, nada me prende ao centro de Vitória: passo por ali sempre com pressa, como que querendo rapidamente sair daquele corredor estreito e de ar mal circulado. Mas o coração do Parque também bate com o meu, em umas destas tardes cinzentas de inverno capixaba (que é menos rigoroso do que os invernos da terra de onde vim) em que, esperando no balcão de um bar o troco da carteira de cigarros, de repente sou despertado por exóticos gritos e vejo ali, bem na minha frente, um pavão cheio de espanto pousado numa das colunas do muro. Melhor que você fique aí dentro, amigo. Por pequeno que às vezes lhe pareça, é um pedaço de paraíso em meio a um mundo onde as criaturas, muitas vezes, estão longe desse intercâmbio harmonioso que faz parte do seu universo.
Fonte: Escritos de Vitória nº 6 - Parque Moscoso, PMV e Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo, 1994
Autor do texto: Chico Neto
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2019
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