Yes, We Have - Por Álvaro José Silva
Vistir o quê? Jamais algo comum, dessas “combinações” que a gente está acostumado a usar todos os dias, no trabalho, na saída de final de semana para os barezinhos da moda, na reunião com os amigos. Tem que ser algo realmente diferente. Uma coisa que marque.
Um tênis é necessário. Mais do que necessário, vital. De preferência de couro, alvinho de tão branco, e ainda importado, se possível dos Estados Unidos. Nem importa saber que eles, geralmente, são fabricados na China, na Tailândia ou em Taipe. Ou em outro lugar.
Bem definido o calçado, vamos para o resto. Calça jeans, é claro. E com griffe. Das boas. Não se perde tempo em procurar as marcas mais baratas, nem as liquidações. O importante é ir à boutique certa, para o modelito que cai bem. Cortar com pedra para fazer uma obra de arte? Isso, enfim, se decide depois.
Cabelinho no lugar. Grande ou pequeno, depende do discurso e do visual geral. Há quem goste de um, há quem goste do outro, há gosto para tudo. Pra todos os gostos. A camisa pode ser simples, ou de seda e quem sabe de linho. Depende da ocasião. E do conjunto. Combinar é preciso. E os critérios de “combinação” variam de um para outro.
O papo, esse vai rolar solto. A paquera á norma geral. Uma espécie de instituição nacional. Todos são forçados a cantar: cai na cantada se quiser. Não é obrigado. Mas também não vale se ofender. Faz parte do jogo. Quer “ficar”, ficou. Ficou, gostou, se amarrou.
Esbarra-se, é claro, em velhos. Não há como impedi-los de dividir o espaço. Afinal, são velhos, coitados, mas ainda têm direito a algumas regalias. Olha-se para eles, ri-se um pouco, permite-se que eles às vezes até intrometam nas conversas. Mas não muito. Senão “cansa”.
E nem se deve perder muit6o tempo com isso. O carro demora a contornar a espécie de trevo construído às pressas por baixo da Terceira Ponte, disputa vaga no estacionamento como pobre corre atrás de prato de comida, e depois o negócio é entrar logo, fazer parte daquele ambiente refrigerado, cheio de vidros fumes, fachadas que brilham, emitem luzes, mostram coisas bonitas. O negócio é escolher logo o cinema, ou o ponto de encontro na praça que se chama Alimentação, ou em qualquer outro lugar onde seja gostoso jogar conversa fora.
Pronto, eis a juventude em deu habitat natural. Ei-la vibrando, amando sua Vitória agora mais cosmopolita, mais moderna, mais Primeiro Mundo. Nem que seja em um pedacinho só, mas em um pedacinho disputado. O cantinho do mundo onde a ordem é comprar. Uma catedral das compras, mas onde quem manda ainda compra, no mais das vezes, com o dinheiro da mesada do pai e da mãe. Dos velhos, enfim.
Yes, we have shopping.
Fonte: Escritos de Vitória, 1 - Crônicas,1993 - Ad. Paulo Hartung
Autor: Álvaro José Silva - Jornalista e Escritor, Autor de "Um dia diferente dos outros"
Compilação: Walter de Aguiar Filho,julho/2011
Fotos: Acervo de Elson Gatto Filho
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