As Associações ou fac et spera – Por Fernando Achiamé
![](/imagens/noticias/thumbnails/260x0/1535119699_3273.jpg)
Ano passado, pesquisando na Biblioteca Central da Ufes, encontrei, dentro de um exemplar de monografia para bacharelado apresentada no curso de História, seis folhas datilografadas com anotações manuscritas a caneta vermelha sobre associações de Vitória, inclusive com indicações para tudo de muitos dos seus estatutos. Os nomes da monografia e do seu autor não interessam aqui, já que as anotações (em parte reproduzidas abaixo) não possuem, com toda certeza um vínculo direto com o referido ensaio monográfico. Ditas anotações serão o esboço de uma outra pesquisa? Rascunho de trabalho acadêmico de um colega do autor da monografia comentadas por professor-orientador comum e esquecidas dentro do exemplar, entregue depois à biblioteca? Um projeto de dissertação que ficou pelo caminho?
"Coloca-se em discussão se estas entidades podem ser consideradas como integrantes de movimentos sociais em Vitória. A resposta é positiva, a priori. Apesar do pequeno número de associados ou interessados o seu peso na sociedade local enquanto elite econômica ou cultural foi e é muito grande. Tais associações repercutem na comunidade seus ideais estatutários e, em alguns casos, influenciam o conjunto da organização social, pelo menos a camada rotulada de classe média. Na Bíblia existe a conclamação para que 'Não sejais nem muito ricos nem muito pobres' — capítulo tal, versículo tal — foi este Livro escrito pela classe média de então, se assim podemos falar, ou é sabedoria mesmo? (...)
A dificuldade de classificar a inserção de alguns movimentos sociais na vida da cidade. (...)
O Instituto Brasil-Estados Unidos de Vitória — bem — a moda de teenagers irem para os States e voltarem ditando novos usos e costumes. (...) massa boa para modelar. (...)
O Fotoclube do Espírito Santo — Magid Saade — Francisco Quintas Júnior.
• A Sociedade Filatélica do Espírito Santo — em certa época incentivada por mister Charles Ekker, cônsul americano em Vitória e que fez a guerra da Coréia. (...)
• A Sociedade de Cultura Artística de Vitória — SCAV — D. Edith Bulhões trouxe até nós (ainda em boa forma) a mímica de Marcel Marceau, o balé de Tatiana Lescova, orquestras tocando o Concerto N° 1 para Piano e Orquestra de Rachmaninoff ou Tchaikovsky (ver nos jornais e em programas da época) com ela ao piano e, mais recentemente, a Banda da Polícia Militar executando a Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro de Louis Moreau Gottschalk também com ela ao piano. (...)
• A Academia Espírito-santense de Letras — AESL — (...) Uma de suas cadeiras tem como patrono o poeta Moacyr de Moraes, cachoeirense que morreu no Pará aos 33 anos de febre maligna. Quereis ser esquecidos ou vilipendiados? Entrai para a Academia. (...) Contava-se entre os latinistas de Vitória o seguinte caso: quando era pronunciada em latim a divisa jesuítica Fac et Spera (Trabalha e Confia) os alunos gozadores ou pessoas o traduziam como ‘a faca te espera'. (...)
• O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo - IHGES — fundado em 1916 não é a mais antiga associação cultural atuante em Vitória, primazia que cabe à Santa de Misericórdia (fundada em 1545). Fazer caridade também é cultura. Aceitam-se protestos, réplicas e tréplicas. O IHGES foi fundado sob a égide do culto a Domingos José Martins. (...) Devem ser registradas brincadeiras como esta: ao ser arcabuzado (morto por arcabuz, espingarda de boca grande) em Salvador o herói descobre o peito e grita: 'Ide dizer ao vosso sultão que morro pela liber...' (descarga da arma). Nunca se soube direito se o que ele queria dizer era 'morro pela liberdade' ou 'morro pela Libertina', uma amante sua. O nome do herói batizando um município que não tem nada a ver com ele (por que a fabricação do herói naquele começo de república?). Nas armas do Estado a data de 23.05.1535 (colonização do solo espírito-santense) foi mantida mas a de 02.05.1892 (segunda constituição estadual, de uma série) foi trocada para 12.07.1817 (data do arcabuzamento, mais estável que as constituições estaduais).
• A Associação Espírito-santense de Imprensa — AEI — de grandes e profícuas lutas em benefício da imprensa e sua liberdade, pressuposto de uma imprensa digna deste nome. Se para muitos o paraíso é feito de jornal (`chato é morrer, não por nada não, é porque no dia seguinte não vou poder ler jornal') o paraíso do jornal capixaba é a AEI. (...)
• O Rotary Club — almoços, festas, reuniões, parte da história do colunismo social em Vitória, as campanhas contra a poliomielite (verbi gratia) somando as vontades das pessoas, não só ensinando como dançar ou vestir uma roupa de baile ou comer galinha com garfo e faca sem segurar o osso, mas sobretudo 'Dar de si sem pensar em si' (observação: esta frase entre aspas constava da anotação manuscrita em vermelho). Estranhas certas denominações: Rotary Club de Vitória-Oeste. Pesquisar se os americanos incentivaram sua proliferação para se sentir em casa no mundo e no Espírito Santo. 'O regime nazista proibiu o Rotary' (idem da observação acima). Contar histórias e histórias: quem foi o primeiro rotariano de Vitória? (...) Quais eram os rotarianos a latere? (...)
• O Lions e as domadoras. 'Está para o Rotary como a Pepsi para a Coca-Cola' (idem da observação acima). (...)"
Escritos de Vitória – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES, 1996
Prefeito Municipal: Paulo Hartung
Secretária Municipal de Cultura e Turismo: Silvia Helena Selvátici
Sub-secretário Municipal de Cultura e Turismo: Rômulo Musiello Filho
Diretor do Departamento de Cultura: Rogério Borges de Oliveira
Diretoria do Departamento de Turismo: Rosemary Bebber Grigatto
Chefe da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim: Lígia Maria Mello Nagato
Bibliotecárias: Elizete Terezinha Caser Rocha
Lourdes Badke Ferreira
Conselho Editorial: Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Revisão: Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla
Capa: Vitória Propaganda
Editoração Eletrônica: Edson Maltez Heringer
Impressão: Gráfica e Encadernadora Sodré
Fonte: Escritos de Vitória, nº 16 Movimentos Sociais, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo – PMV, 1996
Texto: Fernando Achiamé
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2018
Decidi doar minha casa à nossa Academia de Letras, porque já lhe havia doado o coração
Ver ArtigoLivro do professor Francisco Aurélio Ribeiro, presidente da AEL e especialista em literatura infanto-juvenil: Histórias Capixabas
Ver ArtigoNa totalidade, houve a participação de 189 escritores, com 471 textos
Ver ArtigoObra realizada por Karina de Rezende Tavares Fleury, em “Alma de Flor. Maria Antonieta Tatagiba: vida e obra”, em 2007
Ver ArtigoA Torta capixaba teria um segundo número, com o título Torta capixaba II: poesia e prosa, organizada por Renato Pacheco
Ver Artigo