Vitória em 1910
O
texto abaixo foi retirado do Anuário do Espírito
Santo e Norte do Brasil, de 1939 e 1940 e nos remete a uma
gostosa viagem ao passado de nossa cidade. O texto faz uma
comparação com a cidade em 1910 e em 1940. Confira!
Vitória
de 1910 não é senão uma reminiscência
história, uma referência cronológica,
nos dias que correm. A cidade, de 10 em 10 anos, metamorfoseou-se,
radicalmente. Nem 1930 faz lembrar. Os capixabas, em tese,
recordar-se-ão, acaso, dos pontos de embarque e desembarque,
em toda a antiga Vitória?
O
barracão da Leopoldina foi substituído por uma
gare moderna, não há muito tempo. O povo se
recorda disto?
A
antiga Rua Christovam Colombo, como tinha seu perfil?
A
que altura do nível do mar corriam os bondes, os carris
da S. R. V. nesse tempo?
As
pescarias no mangue do Moscoso, em que memória estão?
O
Melpomene, aquele cine de madeira, monumento na época
do "Homem leão", do "Fantasma Pardo",
não vai longe: desapareceu, depois de um incêndio
na caixa de projeção que não se queimou.
Foi um acontecimento de relevância então. Muito
mais longe vai o Eden, da "Herança fatal",
"Rolleaux, o Invencível", e outros heróis...
(até onde havia trilhos) com cartazes berrantes e um
Zé-Pereira, no bojo, Zé-Pereira o precursor
da cosmolita Jazz-band, que depois, com esse especto, veio
da "estranja".
Quem
se lembra do que havia ali na Praça da Independência,
antes de agora? Um arraial? Tinha o aspecto! Caldo de cana,
uma vendinha cujo dono fabricava cigarros, um botequim, e,
mais atrás, o célebre Mané-Braz, o tormento
da gurisada sem tostão para comprar bola de gude, gaita,
calcomanias...
E
nos Pelames, aquelas cadeiras nas calçadas... As conversas
faziam a crítica da cidade. Já era depois da
iluminação a gás, muito depois do bonde
puxado a burro e também a locomotiva, como os tivemos...
Era um trem de ferro, apitando pela cidade. Ainda por muito
tempo, mesmo depois do bonde elétrico, tivemos os apitos
automáticos nos bondes "feitos aí mesmo,
na convertidora", conforme o aviso, aquela plaquinha
ainda hoje de uso nos bondes reformados na terra.
Cinema
- tivemos também o Rio Branco, homenagem ao diplomata.
Era, porém, uma pálida homenagem, porque o cine
Rio Branco era feio. Chocolate havia chegado de Paris e fazia
sucesso no rio Branco.
Quais
as ruas eram calçadas?
O
porto (já se falava no porto) o cais do porto, era
um sonho numa noite de verão. De longe vinha a lenda
de Santa Cruz, a cidadezinha espírito-santense cujas
terras atingiram cotações exorbitantes, futuro
da siderurgia brasileira.
Falava-se
de uma futura ponte a ligar-nos ao Continente, como se fala
de petróleo no Brasil.
Nos
jornais desse tempo pontificava muita gente boa, jornalista
mesmo, desse sque sabem fazer jornal; escreviam e faziam a
revisão, de forma que lhes sobrava tempo para corrigir-se,
não como agora, por este Brasil a dentro.
Em
alguma coisa estamos com o passado. Mas, aumentamos as tiragens,
o volume dos jornais e pioramos em ortografia e lógica,
derrapando pelo foot-ball.
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