A Capela de N. S. de Belém – Por Adelpho Monjardim
“À margem da BR-5, nas proximidades da Fazenda Jucu, um templo em ruínas, a Capela de Belém, construída em 1780, antiga fazenda do primeiro Arcipreste da Província, Padre Torquato Martins de Araújo. Torna-se interessante para uma observação de como eram as residências das antigas fazendas do Século XVIII, uma capela católica de belíssima aparência, como era a de Belém e ao lado o casarão tipo solarengo, com dois pavimentos, todo de alvenaria, de paredes fantásticas, com seus corredores e grandes salões arejados por todos os lados”. (Do livro: “O Povoamento do Espírito Santo. A Marcha de Penetração do Território”. Do consagrado Historiador Heribaldo Lopes Balestrero).
Quem pela BR-5, saindo de Vitória, passe por Viana, ao lado direito da estrada, sobre um barranco, meio oculta pelo matagal, avista as ruínas da Capela de Nossa Senhora de Belém. Mesmo em ruínas não deixa de ser bela. Como reza a História, pertenceu à casa solarenga do Arcipreste Torquato Martins de Araújo, homem de grandes posses, como se infere da sua rica e luxuosa moradia.
Ávida de sensações fortes, a imaginação popular se compraz em colocar tesouros em todas as ruínas, à espera de um novo Ali Babá. De certo modo os antecedentes daquelas ruínas, capela, outrora, de abastado pároco, justificavam a lenda.
A respeito lembramo-nos do sucedido quando acompanhávamos um perito do “IPHAN”, aos Reis Magos, em Nova Almeida. Ali também é forte a lenda de tesouros enfurnados em misteriosos subterrâneos, como só os jesuítas sabiam rasgar nas profundezas da terra.
A nossa chegada despertou a curiosidade dos moradores da Vila. Ao entrarmos na igreja logo nos seguiu pequena multidão, farejando algo. De imediato o experiente perito notou algo esquisito no retábulo; algo que lhe pareceu anormal. Atento e estimulado, aproximou-se e se pôs a examiná-lo minuciosamente; gesto que ainda mais excitou a multidão acompanhante. Concluiu o perito que o retábulo estava pelo avesso. Picuinha jesuítica.
Vendo mexer no retábulo aumentou a curiosidade dos presentes. Então já nos acompanhavam de perto, desejosos de participar dos acontecimentos. Por detrás do altar descobriu o perito uma portinhola, que parecia esquecida. Ofegante a multidão avança, quase o atropelando. Aberta a portinhola surgiu pequeno e escuro corredor. Foi o estouro da boiada. Como um só homem a multidão se engolfou pela passagem, levando de roldão o perito. Empanturrados de lendas, julgavam todos que ali estava a boca do túnel que conduziria ao tesouro. A ilusão durou pouco. Dois metros adiante entraram na sacristia. Assim terminam as lendas.
Voltemos à Capela de Belém. Sempre que por ali passávamos não nos furtávamos a uma olhadela às ruínas. Sentíamos singular atração por aquele pedaço de História convertido em pedras. Não resistindo à curiosidade, por ensolarada manhã de maio fomos até lá. Subindo o barranco, vencendo uma cerca e rompendo o mato, chegamos ao templo. No acanhado espaço entre as arruinadas paredes o piso era uma sucessão de crateras. Transitar por ali era uma aventura. Montões de terra e de detritos se amontoavam por todos os cantos, como se por ali houvesse passado uma legião de toupeiras. Aquele interior era uma paisagem lunar. Sob a pequena torre o pai dos buracos. Larga e escura bocarra, com dois ou mais metros de profundidade, atingia os seus alicerces.
Procuravam à noite o que os padres não achavam de dia.
Consta que a Capela vai ser restaurada. E merece. Valiosa pelo passado histórico e pela própria beleza arquitetônica.
Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2015
Corria como certo que, todos os dias, a alma de um frade sentava-se numa grande laje assinalada por uma cruz, talhada não se sabe por quem
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