A criação da Santa Casa de Misericórdia
Havia em Vitória, por volta dos anos de 1554, grande descontentamento entre os moradores, porque se encontravam abandonados. Foi quando o padre Brás Lourenço empreendeu a fundação de uma Confraria de Caridade, para combater as juras e maledicências, mediante certo tributo que o povo tinha que pagar.
Alguns cronistas confundem essa confraria com o hospital de caridade que Basílio Daemon informa ter-se fundado em Vila Velha, em 1595, por Miguel de Azevedo e mediante solicitação do venerável Anchieta, onde eram recolhidos os doentes pobres daquela vila, já em franca decadência, na ocasião, dizendo ter-se dela originado a Santa Casa de Misericórdia de Vitória.
Segundo investigações do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, a Santa Casa teve origem na Irmandade de Misericórdia, fundada em Vila Velha em 1545, e da qual foi capelão e um dos principais interessados o padre Anchieta, e que foi transferida em 1605 para Vitória onde passou a funcionar na igreja da Misericórdia, construída com produtos de legados pios.
Levy Rocha (Viagem de D. Pedro II ao Espírito Santo) parece endossar esta opinião, quando afirma que ela, a princípio, recebia doentes pobres e desamparados, passando depois a funcionar no Morro do Campinho, numa propriedade então doada por Luiz Antônio da Silva, depois ampliada com os terrenos de todo o morro, cedido gratuitamente para este fim por D. Maria de Oliveira Subtil, em data de 14 de julho de 1818.
Foi essa instituição que mereceu de Felipe II, de Portugal, então reinante também na Espanha como Felipe III, o Alvará de 10 de junho de 1605, que lhe concedeu os mesmos privilégios da Santa Casa de Lisboa fundada em 1498, sendo por isso considerada uma das mais antigas do Brasil.
No estudo deste fato existe muita confusão, dando lugar a controvérsias que ainda não foram aclaradas, embora apresente como certa a existência na Santa Casa de um compromisso, datado de 1600, que foi impresso por Antônio Álvares, comprovando a sua história primitiva, além da notícia de uma reforma que nela teria sido feita no governo do donatário Francisco Gil de Araújo.
Brás da Costa Rubim (Memórias, p. 294) informa que antes do hospital ser localizado no Morro do Campinho, vinha ele funcionando na igreja da Misericórdia, desde que viera de Vila Velha, e justifica esta assertiva quando mais adiante, na página 301, ter seu pai levantado um hospital para enfermos pobres em Vitória e restaurado a Santa Casa de Misericórdia.
Essa informação de Brás Rubim, se verdadeira, parece destruir a versão de que, no governo de Rubim, quase trezentos anos mais tarde, não havia mais a Santa Casa que se originara de Vila Velha, dando lugar a que alguns presidentes da Província, entre os quais o Dr. Fernandes Pinheiro (relatório apresentado à Assembleia Provincial, em 1868) afirmasse ter sido Rubim o fundador do Hospital da Misericórdia, por provisão de D. João VI, datado de 15 de abril de 1818 e decreto de 23 de setembro do mesmo ano.
O que parece verdadeiro, porém, é que se trata de restauração do estabelecimento então dirigido pela irmandade da Misericórdia, neste ano surgido noutro local distante do primitivo, ou seja, da igreja da Misericórdia, naturalmente por falta de recursos para manter-se. Está claro que em Vitória em 1818, não havia condições para a manutenção de dois hospitais.
A inclusão aqui feita, deste episódio da Santa Casa, prende-se ao fato de ter como um dos seus continuadores, o padre Anchieta, jesuíta, que foi dela capelão, depois de 1553, quando pela primeira vez esteve no Espírito Santo, além da participação que tivera com Miguel de Azevedo, ao tempo em que este fundou em Vila Velha em 1595, o Hospital de Caridade, já estando gravemente enfermo.
São fatos correlatos que tiveram sua origem durante a permanência da fundação inaciana entre nós.
Fonte: A Obra dos Jesuítas no Espírito Santo, 2012
Autor: Heribaldo L. Balestrero
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2012
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