A grande obcecação de Vasco
As crônicas dos primeiros tempos estão repletas de referências a conversas com os índios sobre a existência de gemas e metais nobres no país. Numerosas entradas – muitas delas marcadas por misterioso e trágico desfecho – tiveram sua origem naqueles interrogatórios de beira de praia, onde dialogavam o português todo receptividade para patranhas e o silvícola mal compreendido, ingênuo ou malicioso.
Ao donatário, responsável e interessado direto no progresso do quinhão que lhe tocara, a revelação das minas oferecia vantagem dupla: faria dele um nababo, caso fosse ele próprio o descobridor, e atrairia, de qualquer maneira, multidões para a terra.(1)
Em busca das minas – Lançadas, pois, as sementes ao solo, Vasco Coutinho e seus companheiros se atiraram às explorações. Basílio Daemon, recordando o feito, escreveu que, em fins de 1535 ou princípios do ano seguinte, saíram os povoadores em grande número, “bem armados e municiados” e entranharam-se pelo sertão. Abrindo picadas na floresta, chegaram até os “arredores da hoje cidade da Serra”, sem serem incomodados ou pressentidos pelos índios, pois nada consta a respeito, acrescenta o minucioso cronologista.(2)
O único resultado dessa expedição foi consolidar no espírito do capitão a idéia da necessidade de aumentar o número de habitantes brancos da sua governança. Com o escasso grupo de que dispunha, não podia se aventurar à conquista de tesouros no interior.
NOTAS
(1)
Ao organizar a comitiva que o acompanharia ao Brasil, Vasco Coutinho nela fez incluir Felipe Guilhem, a respeito de quem BRÁS DO AMARAL informa:
“Tinha vindo com Vasco Fernandes Continho, donatário da Capitania do Espírito Santo, um espanhol chamado Felipe Guilhem, que se supõe fora boticário na Andaluzia e que era entendido em matéria de mineração.
Este homem não fora feliz, porque Vasco se arruinou, teve de deixar a sua Capitania, e o espanhol não pôde ficar no Espírito Santo e emigrou para Ilhéus.
Felipe Guilhem perdeu pessoas de sua família, por moléstias. Exercia cargos de vereança na citada vila, quando foi chamado por Tomé de Sousa, o primeiro governador geral, para servir no descobrimento de minerais.
Teve depois o cargo de provedor da Fazenda em Porto Seguro, provavelmente pelos seus serviços (AMARAL, Notas, VI, 187).
– Nota desenvolvida sobre esse personagem, devida a RODOLFO GARCIA, na História Geral, de VARNHAGEN, I, 336-8.
(2)
Prov. ES, 56-7.
– O padre PONCIANO STENZEL DOS SANTOS assim se refere a esse detalhe da História espírito-santense: “Pelos começos de junho do mesmo ano de 1535, alguns povoadores dos mais destemidos, embarcados em lanchões, deram-se a investigar os arredores. Subindo pela barra, julgaram que o mar fosse um rio e, apesar de incomodados pelos índios, conseguiram desembarcar, no dia treze de junho, no campinho próximo ao lugar, depois chamado Caieiras. Como era dia de Santo Antônio, deram à nova ilha o nome de Ilha de Santo Antônio, nome que ainda hoje se dá ao arrabalde de Vitória que está situado no lugar do desembarque.
Pelo fim do mês outros exploradores por terra foram abrindo picadas, sertão adentro, em direção ao Mestre Álvares (sic), chegando até aos arredores do lugar onde está hoje a cidade da Serra”.
(Discurso, 33)
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, maio/2017
O navio em que Coutinho regressou ao Brasil tocou em Pernambuco e, com certeza, era de sua propriedade
Ver ArtigoCoube a do Espírito Santo, descoberta em 1525, a Vasco Fernandes Coutinho, conforme a carta régia de 1.º de junho de 1534
Ver ArtigoEnfim, passa da hora de reabilitar o nome de Vasco F. Coutinho e de lhe fazer justiça
Ver ArtigoTalvez o regresso se tivesse verificado em 1547, na frota mencionada na carta de Fernando Álvares de Andrade, ou pouco depois
Ver ArtigoConcluo, dos nobres que aportaram à Capitania do Espírito Santo, ser ela a de melhor e mais pura linhagem
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