A luta continua – Negros no Espírito Santo
Entretanto, fugas, revoltas e quilombos continuaram acontecendo. Em 1855, novamente a região de São Mateus foi agitada pelas manifestações de escravos que, usando o argumento de que já existia uma lei que proibia o tráfico, queriam o fim da escravidão imediatamente. Também essa manifestação foi reprimida, sendo preso e processado o líder, chamado Francisco Mota. Na mesma época, foram presos na Colônia de Santa Isabel vários negros suspeitos de serem fugitivos. Ainda nesse ano, foi noticiado que muitos negros escondiam-se nas matas de Viana, Araçatiba e Mamoeiro. Na Fazenda Palmas, em Santa Cruz, os escravos resolveram, em 1887, parar de trabalhar e protestar, pacificamente e sem armas, contra os maus tratos. Depois de três dias, voltaram ao trabalho sob a promessa de que receberiam um tratamento menos cruel. Porém, o administrador, com raiva, colocou uma turma para trabalhar num morro de difícil acesso e, como alguns escravos reclamaram, convocou seus capangas e promoveu um verdadeiro massacre, matando várias pessoas a tiros, cacetadas e facadas. Alguns sobreviventes foram castigados com chicotadas. Já no início de 1857, na Colônia de Santa Isabel foram encontrados quilombolas querendo comprar pólvora, chumbo, espoletas e espingardas.
Existia em Viana um lugar chamado Morro dos Escravos, onde se escondiam os fugitivos, e em Safra, Itapemirim, houve outra revolta de escravos em 1866 (35).
Como acontecia em todo o Brasil, na Província do Espírito Santo, paralelamente ao processo de ampliação das revoltas escravas, cresciam as manifestações pacíficas da sociedade civil para promover a libertação dos escravos.
Nesse sentido, destaca-se a atuação das sociedades abolicionistas, entre as quais podemos citar a Sociedade Abolicionista do Espírito Santo, criada em 7 de outubro de 1869; a Sociedade Emancipadora Primeiro de Janeiro; a Sociedade Libertadora Domingos Martins, de 1875; a Sociedade Abolicionista Espírito-Santense, de 1884; a Sociedade Abolicionista Literária Peçanha Povoa, de 1881, e a Sociedade Libertadora Beneficente do Rosário, de 1887 (36).
Finalmente, é importante comentar que, apesar da ação de leis, ligas e sociedades emancipadoras, a população escrava teve que continuar sua luta pela libertação e até mesmo intensificá-la. Dessa forma, as notícias continuavam anunciando novas revoltas de escravos. E aconteceu uma nova insurreição de escravos em São Mateus, em 1885, ocasião em que foi morto Cosme Francisco da Mota, considerado o comandante. Além disso, aumentavam as notícias de ampliação do combate aos quilombos, em face do aumento de seu número.
Viana, Araçatiba, Mamoeiro, Timbuí, Conde D’Eu, São Mateus e Cachoeiro de Itapemirim eram, nesse fim de século, apontadas como áreas de influência dos vários quilombos chefiados por Benedito Meia Légua, Nego Rugério e Princesa Jacimba Gaba, todos muito famosos como grandes guerreiros e importantes líderes da luta dos escravos pela liberdade.
Entretanto, a repressão violenta também se ampliava. Esse é o caso da matança de negros escravos em Santa Cruz, em 12 de outubro de 1887, a apenas um ano do fim oficial do regime de escravidão (37).
Concluindo, pode-se dizer que a luta dos escravos pela liberdade deu-se no Espírito Santo da mesma forma que no resto do Brasil. Além disso, o número de quilombos era tão grande que praticamente espalhavam-se por quase todo o território da província. Entretanto, apesar da violenta repressão, a resistência aumentou e foi incorporada pela sociedade livre.
Foi graças aos sacrifícios e lutas dos negros que as autoridades administrativas do Brasil acabaram cedendo às pressões, também internacionais, e foram, aos poucos, criando as leis para o fim da escravidão. Nesse sentido, muitos foram os heróis negros capixabas que lutaram pela liberdade.
Para os negros, o fim da escravidão não significou o fim dos sofrimentos e das humilhações, mas foi o início de novas lutas pelo reconhecimento da dignidade de ser livre; lutas por trabalho, salários justos, comida, saúde, educação e moradia; lutas contra o preconceito de cor, a discriminação racial e o racismo; lutas contra a violência policial, o extermínio das crianças e adolescentes negros; lutas contra a exploração das mulheres negras. Enfim, lutas em defesa dos direitos que a própria Constituição Federal atual estabelece para um cidadão brasileiro livre.
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Governador
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Vice-governador
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Secretário de Estado da Cultura
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Subsecretário de Gestão Administrativa
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Subsecretário de Cultura
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Diretor Geral do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
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Diretor Técnico Administrativo
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Coordenação Editorial
Cilmar Franceschetto
Agostino Lazzaro
Apoio Técnico
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Editoração Eletrônica
Estúdio Zota
Impressão e Acabamento
GSA
NOTAS
(35) Sobre a Insurreição do Queimado existe uma bibliografia sobre a qual se destacam as obras de:CLAUDIO, Afonso. Insurreição do Queimado. Episódio da História da Província do Espírito Santo.Vitória. Editora da Fundação Ceciliano Abel de Almeida. 1979; SANTOS NEVES, Luis Guilherme.Queimado. Documento Cênico. Vitória. Edição do Autor, 1977; e Novaes, sem data, p. 201 a 225.
(36) Novaes, sem data, p. 132 e seg.
(37) Novaes, sem data, p. 138
Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Osvaldo Martins de Oliveira. – 2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2020
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