Alguns números do contingente populacional negro no ES
A ideia aqui é evidenciar, através de números, que o Espírito Santo sempre teve importante contingente populacional negro e destacar que essa população tendia a concentrar-se em três áreas, historicamente consideradas bases da riqueza econômica até, pelo menos, o fim do século XIX.
Como já se sabe, desde o século XVI havia negros no Espírito Santo. Vitória, por exemplo, em 1551, tinha 7.225 habitantes, dos quais 4.898 eram escravos, portanto, não brancos.
Séculos depois, em 1856, a população da capitania, conforme o chefe de Polícia da Província, totalizava 49.092 habitantes, sendo 36.823 livres e 12.269 escravos. Pelo relatório do presidente da Província em 1871, a população era de 70.585 habitantes, sendo 51.825 livres e 18.760 escravos. Conforme o mesmo relatório a população estava distribuída da seguinte forma (17):
É muito importante lembrar que o total de escravos no Espírito Santo em 1887 era de 13.382 pessoas. Logo, pode-se afirmar que esse era o número mínimo de pessoas negras, uma vez que não existiam escravos brancos. Como após quase não há mais informações sistemáticas sobre a cor das pessoas, fica difícil saber como foi a mobilidade censitária da população negra depois do fim da escravidão.
Se antes de 1888 os dados eram imprecisos, depois dessa data ficaram muito mais, porque a maior parte das pesquisas sobre o número de pessoas não fazia referência à cor da pele. A partir dos dados estatísticos antigos, os censos, mesmo que não houvesse a cor especificada dos recenseados, tinha-se certeza do número mínimo de negros, tomando por base o quantitativo de escravos. Isto é, o número de escravos era o limite mínimo para se pensar o número de negros. Após 1888, sem escravidão, quase não era possível saber o número mínimo de negros. Aliás, parecia até que os negros estavam “desaparecendo” em meio a tantos brancos que chegaram através da grande imigração europeia. Somado a isso havia o fato de que o governo brasileiro identificava-se como representante de um povo branco. Mesmo assim, existem alguns dados.
Nesse sentido, é importante destacar a tabela a seguir, que traz uma variação populacional segundo a cor, conforme o Departamento Estadual de Estatística (18).
Por essa tabela vê-se perfeitamente que até 1890 o número de negros, isto é, pretos e pardos, era maior do que o número de brancos.
Com a imigração de europeus, o número de brancos ultrapassou, já em 1940, o número de negros. Também se observa que o número de brancos aumentou, a partir de 1890, quase dez vezes, enquanto o número de mestiços e pretos aumentou apenas cinco vezes, porém registrando diminuição no número de pretos entre 1940 e 1950. O que ocorreu que resultou nessa redução?
Pode ter havido erro nas contagens, má fé dos pesquisadores, manipulação dos números. Tudo isso é muito duvidoso.
Dessa forma, conclui-se que ainda faltam muitos estudos para se determinar com maior precisão os números populacionais dos negros no mapa capixaba durante e posteriormente à escravidão, tendo em consideração que até os dias atuais ainda não são devidamente computados, nos estudos censitários, os dados sobre a cor das pessoas. Não obstante, ficou evidenciado que o Espírito Santo sempre teve parte significativa de população negra escravizada. Se a esses números forem acrescidos os grupos negros e mestiços livres pode-se chegar à indicação de que a participação dos negros na formação populacional do Estado é grande.
De qualquer forma, os estudos censitários feitos pelo governo na década de 1980 apontavam que os negros constituíam, pelo menos, 45% da população total. Entretanto, outras estimativas, elaboradas a partir de estudos realizados por instituições e entidades de defesa dos interesses da comunidade negra, mostravam que, considerando todos os pretos e mestiços, o percentual de negros no total populacional era de, no mínimo, 65%.
Considerando que o Censo de 1991 aponta uma população total capixaba em torno de 2,5 milhões de pessoas e que os pretos e mestiços são 65% desse total, pode-se dizer que o número de negros no Espírito Santo é de aproximadamente 1,6 milhão de pessoas.
NOTAS
(17) SALETTO, Nara. Considerações sobre a transição do trabalho escravo ao trabalho livre na economia cafeeira do Espírito Santo. (1888-1929). Rio de Janeiro: Mestrado em História na UFRJ. Mimeo, 1985. p. 27 e 28.
(18) IBGE - Conselho Nacional de Estatística. Departamento Estadual de Estatística do Espírito Santo. Anuário Estatístico do Espírito Santo. Ano VI. Vitória. Serviço Gráfico. 1960.
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Governador
Paulo Cesar Hartung Gomes
Vice-governador
César Roberto Colnago
Secretário de Estado da Cultura
João Gualberto Moreira Vasconcelos
Subsecretário de Gestão Administrativa
Ricardo Savacini Pandolfi
Subsecretário de Cultura
José Roberto Santos Neves
Diretor Geral do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Cilmar Franceschetto
Diretor Técnico Administrativo
Augusto César Gobbi Fraga
Coordenação Editorial
Cilmar Franceschetto
Agostino Lazzaro
Apoio Técnico
Sergio Oliveira Dias
Editoração Eletrônica
Estúdio Zota
Impressão e Acabamento
GSA
Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por OsvaldoMartins de Oliveira. –2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado doEspírito Santo, 2016.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2020
GALERIA:
Nas últimas duas décadas do século XX, o Espírito Santo foi palco de uma efervescência política negra com a criação de um conjunto de organizações
Ver ArtigoFlorentino Avidos construiu o prédio destinado à Biblioteca e ao Arquivo Público, na rua Pedro Palácios
Ver ArtigoUm pouco mais tarde, ouvimos a voz exótica de uma saracura, isto é, de um raleiro que poderia ser uma Aramides chiricote Vieill
Ver ArtigoBernardino Realino pode ser invocado como protetor de certas categorias de cidadãos, que julgam poder contar com poucos santos
Ver Artigo1) A Biblioteca Pública do Estado. Fundada em 16-6-1855, pelo Presidente da Província Dr. Sebastião Machado Nunes.
Ver Artigo