A opção - Pedro Maia
Dona Maria é uma distinta matrona que do alto de sua sabedoria vê o mundo por um ângulo bastante pessoal e às vezes altamente surpreendente. Nascida nos tempos em que qualquer exibição de calcanhar era considerado show erótico, a venerada senhora não consegue se afinar com os chamados tempos modernos, onde, segundo ela, a moral anda mais por baixo do que tapete de porão...
Mas como dona Maria é de boa índole, nascida de tradicional família capixaba, encara as coisas numa boa e vai curtindo a vida, dentro da certeza de que cada geração nasce mais louca do que a anterior. Viúva e com algumas posses, dona Maria não precisa se preocupar com a sobrevivência, que lhe é assegurada por uma gorda pensão deixada pelo falecido marido, um barnabé federal que trabalhou a vida inteira, mas nunca fez nada.
Com a vida tranquila e tempo bastante para se inteirar de tudo (ou quase tudo) que se passa em volta, dona Maria é o que se pode chamar de cidadã integrada à comunidade em que vive. Lê os jornais da terra, diariamente, e adora bater um papo sobre as coisas que acontecem na cidade. Como somos praticamente vizinhos, encontro-a quase todos os dias e sempre trocamos idéias, ou melhor, escuto as idéias da respeitável senhora.
Ainda ontem ela me falava sobre notícia veiculada pelos jornais dando conta da determinação do prefeito Vitor Buaiz de acabar com os ambulantes que operam no centro de Vitória. A notícia informava ainda que a municipalidade pretende escolher uma área para os ambulantes trabalharem em paz. Sobre o assunto, dona Maria garante que a melhor área para esta turma realmente trabalhar seria no pátio da CST ou então na lavoura, plantando qualquer coisa que não fosse maconha, naturalmente. E para confirmar o que dizia contou a história de um seu sobrinho que veio do interior para cursar a faculdade de Direito aqui na capital.
Na fazenda do pai, esse rapaz havia aprendido a lidar com ervas medicinais, e aqui na cidade continuou interessado no assunto, possuindo mesmo uma biblioteca a respeito. Há coisa de dois anos passados, o jovem colou grau e virou bacharel, com missa, baile de formatura, foto com a tradicional beca e tudo o que mais que acontece nessas ocasiões. Depois simplesmente sumiu. Desapareceu como cruzado em mão de pobre. Depois de muita procura, encontraram o bacharel em direito trajado como um pajé indígena, vendendo ervas pelas ruas.
- Virou camelô... – explicou, descolada, a velha senhora – e ainda por cima garante que é empresário de pequeno porte. Um horror, meu senhor! Um rapaz tão inteligente, com um futuro tão bonito pela frente, deixar-se envolver assim e virar camelô de esquina de rua! E ainda diz que é feliz e que está ganhando muito dinheiro trabalhando no que gosta. Coitado, uma pena...
E com os olhos marejados de lágrimas voltou aos seus afazeres domésticos.
Capa: Helio Coelho e Ivan Alves
Projeto Gráfico: Ivan Alves
Edição: Bianca Santos Neves e Lúcia Maria Villas Bôas Maia
Revisão: Rossana Frizzera Bastos
Produção: Bianca Santos Neves
Composição, Diagramação, Arte Final, Fotolitos e Impressão: Sagraf Artes Gráficas Ltda
Apoio: Lei Rubem Braga e CVRD
Fonte: Cidade Aberta, Vitória – 1993
Autor: Pedro Maia
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020
O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado
Ver ArtigoPapai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver
Ver Artigo4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951
Ver ArtigoEstava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas
Ver ArtigoLogo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista
Ver Artigo