A rua, os cogumelos e as flores - Por Juliana Montebello (Pseudônimo)
Moro em um bairro, que já foi calmo, de uma das mais belas capitais do Brasil. Digo já foi calmo porque hoje todos sofrem com a desenfreada especulação imobiliária, que faz brotar do chão centenas de edifícios, como se fossem cogumelos de ângulos retos. As ruas ficaram sombrias, os cogumelos/edifícios criam barreiras ao sol e escondem a lua. As estrelas? Estas, coitadas, perdem na concorrência desleal com a iluminação da cidade e o recorte das construções o barulho é grande e o espaço a cada dia é menor e mais caro. Entre a compra de meus deliciosos morangos e uma chegada inevitável ao banco, observo as ruas e as pessoas por onde passo. Há sempre um tipo especial nas cidades, e aqui não é diferente. Eu o batizei de Bob Marley, graças a seus cabelos que lembram o cantor jamaicano. Trata-se de um homeless tupiniquim (ou capixaba, como queiram), desses que perderam a própria história nos descaminhos da vida. Dentro dele descobri que habitam heterônimos, à espreita da centelha que os farão poetas, ao jeito de Fernando Pessoa. Bob briga com todos eles (não sei quantos, mas pelo visto e ouvido, são muitos), usando os palavrões mais cabeludos. Há os velhinhos (e velhinhas...) que vão às compras e fazem suas caminhadas. Os mais jovens levam seus cachorrinhos para passear, e ficam à espera do cocô de todos os dias.
No entanto, como se houvesse uma esperança, dirijo meus passos sempre para uma rua especial, perto de casa. Ela traz a memória de dias mais tranquilos, e, claro, é a minha preferida. Nas duas calçadas, alguma alma sensível teve a ideia de plantar pés de hibisco, aquela flor escandalosa e linda, que a gente vê nos folhetos de agências de viagem, chamando para ir ao Havaí, logo ali. Lembraram? Pois é, aquela. Os pés cresceram e agora parecem delgadas árvores, de copa redonda e cheia de flores brancas e vermelhas. Quando tenho sorte encontro um hibisco cor-de-rosa, resultado da mistura das duas cores. Esta rua me lembra a cantiga de roda de tempos atrás: "Se esta rua, se esta rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes..." Quer saber? Se esta rua fosse minha, eu deixava assim, desse jeito, com esta ala de hibiscos. São as pedras preciosas que colorem essa rua que enfeita minha Vitória, cidade do sol, e fazem esquecer dos cogumelos de concreto. Não precisa de mais nada...
Fonte: Vitória, Cidade Sol – Escritos de Vitória nº 25, Academia Espírito-Santense de Letras e Secretaria Municipal de Cultura, 2008
Autora: Juliana Montebello (Pseudônimo)
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2020
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