A união ibérica e seu reflexo no Brasil
Dom João III de Portugal recebeu o apelido de O Colonizador por haver criado o sistema das Capitanias Hereditárias e o do Governo-Geral.
Teve, porém, o grande desgosto de ver todos os seus filhos morrerem, pondo em risco a continuidade da Dinastia de Avis, fundada em 1383 por D. João I. Por isso, quando nasceu o seu neto, em 1554, de um filho já falecido, o menino foi recebido com imenso júbilo. Esse menino recebeu o nome de Sebastião e foi apelidado de O Desejado. Em 20 de janeiro de 1568, ao completar 14 anos, D. Sebastião assumiu o poder. E, em 1578, partiu de Lisboa em direção à África, em campanha contra os mouros. O expansionismo dos árabes de Marrocos preocupava os países Ibéricos, temerosos de uma nova invasão. Os muçulmanos já haviam dominado os dois países, Espanha e Portugal, por 800 anos.
Na Batalha da Alcácer-Quibir, em 4 de agosto de 1578, D. Sebastião, com apenas 24 anos, foi morto. O trono português foi, então ocupado pelo Cardeal Dom Henrique, filho de D. Manoel e irmão de D. João III. Mas, 17 meses após ter subido ao trono, falecia o soberano.
Quando, em séculos passados, se extinguia uma família reinante amada, o povo se recusava a crer nesse fato e esperava saudoso a volta do soberano falecido. Assim aconteceu em Portugal quando o Rei D. Sebastião foi encontrar a morte na batalha contra os marroquinos. Durante os decênios seguintes, cinco pretendentes apresentaram-se reivindicando o seu nome e a sua coroa. Tiveram que expiar a sua ousadia com a vida ou com o eterno cárcere.
Desde então, subsistiu em Portugal, e também no Brasil, uma seita denominada sebastianista, com a crença de que o rei falecido, D. Sebastião, voltaria e restabeleceria o reino milenário.
O Brasil, em pleno século XVII, teve largo período de 37 anos ocupado pelas hostilidades com a Holanda. O trágico falecimento de D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir dera como resultado a absorção de Portugal pela Espanha. Felipe II, rei da Espanha, invadiu Portugal, em 1580, a fim de ocupar pela força o trono vago com a morte do Cardeal Dom Henrique e disputado por mais cinco pretendentes. Chegara ao fim a Dinastia de Avis e teve início o período de 60 anos durante os quais ficaram unidas as duas coroas ibéricas. Em guerra com a Espanha, a Holanda considerava as colônias espanholas, entre elas o Brasil, suas inimigas.
O Brasil, uma simples colônia de exploração, bem merecedora da expressão "Verzuimd Braziel" (Brasil abandonado) de um escritor holandês, devia sofrer o ataque dos inimigos da Espanha.
Mas o mais desolador resultado da luta não seria o ataque armado, que só se verificou duas vezes e com resultados negativos para os invasores, mas sim o abandono, por parte de Portugal e também da Espanha, ocupados com a guerra em todo o Nordeste, o que deixou sem assistência, por todo o período do domínio espanhol, a imensa costa brasileira.
Graves perturbações foram verificadas até o final desse período. Concluída a paz com a Holanda, o tratado assinado em Haia, em 06 de agosto de 1661, obrigava Portugal a uma indenização à Holanda. Para satisfazer o encargo, a metrópole dividiu-o em partes, atribuindo-as às Capitanias vítimas de agressão.
Ao mesmo tempo devia ser constituído o dote da princesa Dona Catarina, que se casava com o rei Carlos II da Inglaterra. Também essa despesa foi dividida, em partes, pelas Capitanias.
O valor das cotas arbitradas dá uma idéia das possibilidades do Espírito Santo. À Bahia coube a anuidade de 80.000 cruzados; ao Rio de Janeiro, a de 26.000; ao Espírito Santo, apenas 1.000 cruzados. E mesmo essa dívida começou a ser paga seis anos após, pelo administrador Antônio Mendes de Figueiredo, em 1667, pois em 1665 faltava dinheiro até para pagar os oficiais de artilharia.
O último donatário da família de Vasco Fernandes Coutinho, Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, desanimado e sem recursos, vendeu os seus direitos a Francisco Gil de Araújo em 1674, pela importância de 40.000 cruzados.
A insignificância de preço representa a metade da anuidade que a Bahia devia pagar pela paz com a Holanda e o dote de Dona Catarina.
ENTRADAS E BANDEIRAS, SOLUÇÃO DE URGÊNCIA
O bandeirante foi o resultado social de recursos materiais escassos e de vida econômica difícil, enquanto o sonho de tesouros fabulosos povoava as cabeças dos desbravadores.
Suas ações se orientavam em dois sentidos: no primeiro caso, a idéia seria tirar o máximo proveito das brechas que a economia colonial eventualmente oferecia para a efetivação de lucros rápidos, como no caso da caça aos indígenas; no segundo caso, a idéia era a busca dos metais preciosos.
Os movimentos das Entradas e Bandeiras tiveram início nos finais do século XVI.
São Paulo foi o centro desses movimentos, que também se deram em terras do Espírito Santo.
Segundo o historiador Carlos Henrique Davidoff, em seu livro Bandeirantismo: Verso e Reverso, ao término do século XVI, São Paulo contava aproximadamente com mil e quinhentos habitantes e cento e cinqüenta residências. O número de ruas era muito pequeno e, em seus primórdios, as casas eram meras choupanas cobertas por palha, substituídas posteriormente pelas construções de taipas com telhados. A vida da cidade se fazia fundamentalmente em função da área rural, auto-suficiente na grande parte das necessidades vitais.
A vida urbana mantinha alguma forma de continuidade, passados os perigos iniciais de desaparecimento sob a ameaça indígena. As cerimônias religiosas e os deveres administrativos davam apoio ao desenvolvimento urbano. Procissões religiosas anuais atraíam à cidade os chefes de família e seus dependentes, bem como as sessões da câmara e as assembléias extraordinárias garantiam a participação dos agricultores na vida urbana.
A tendência dos historiadores é considerar que São Paulo não conheceu nenhuma forma de riqueza estável até fins do século XVIII. E foi o advento do café que, afinal, inaugurou uma fase duradoura de prosperidade.
As Entradas e Bandeiras representam uma busca de outras formas de enriquecimento que não a agricultura ou o comércio do pau-brasil. Jaime Cortesão informa que, "desde os fins do século XVI, os capitães das milícias, ou da gente da ordenança, são também, por via de regra, capitães das Entradas".
As Entradas eram expedições subvencionadas ou organizadas pelo Governo e tinham como objetivo principal o aprisionamento dos índios para a sua utilização, como escravos, nas lavouras litorâneas.
As Bandeiras tinham origem diferente. Eram organizadas para a pesquisa do ouro e pedras preciosas. Sem dúvida caçavam índios para torná-los escravos, mas o seu intuito era a febre do ouro, os sonhos dos tesouros fantásticos escondidos nas brenhas do imenso mundo desconhecido.
A esperança de encontrar ouro no Brasil persistia latente. Os espanhóis exploravam ricas minas de ouro e prata no Peru e na Bolívia. Logo, deveria haver metais preciosos perdidos no sertão do Brasil.
Era preciso encontrá-los.
Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 19/08/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico:Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2016
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