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A Vitória de cada um

Vitória vista do Convento da Penha

- Como chego à Praça Oito?
- Simples. Fica ao lado do Banestes em frente à loja Nova Brasília, antigo Magazin Helal.
- A praça parece um oito?
- Não, é por conta do oito de setembro. É a praça que marca as horas, os encontros, registra os movimentos, passeatas, atos públicos, desfiles e carnavais.
- E o Cartório Nelson Monteiro?
- Não tem errada! É ao lado da antiga livraria Âncora, colado à escadaria Maria Ortiz.
- Alguma Heroína?
- É, Maria Ortiz, moça valente, filha de espanhóis, escaldou os "invasores flamengos" inaugurando o "batismo em banho maria".
- O Edifício Moisés fica longe?
- Pertinho, em frente aos Correios, lugar de cartas e missivas, de justificar o voto, de empacotar desejos em sedex.
- Preciso ir à Rua Sete.
- É bem perto da Praça Costa Pereira, que fica em frente ao teatro Carlos Gomes. Pode também perguntar na banca de jornal - sabem de tudo!
- E a Rua Graciano Neves?
- É a Rua da Padaria Expressa, das rosquinhas amanteigadas, bolachinhas com furinhos dentro do chá.
- Tenho encomenda para o Edifício Antares.
- É um edifício de galerias, onde era a antiga chefatura de Polícia ao lado da viziha Rua Sete.
- E o AMES?
- Edifício enorme, frente à Beira-Mar ao lado do Darcy Monteiro, pertinho do supermercado São José.
- Falaram no Clube Álvares Cabral.
- Se for o Clube novo, fica na Beira-Mar em frente à Secretaria de Saúde, que é ao lado da Prefeitura Municipal, já o edifício, onte também funcionou o clube em outros tempos fica na cidade, o mesmo da Casa do Núbio, loja de presentes de casamento onde se deu a vernissage das listas das noivas.
- Quero conhecer a Catedral.
- É na cidade alta, em frente à Associação dos Funcionários Públicos, os santos, anjos e querubins protegem enfermos e fiéis.
- É perto da Assembleia?
- Sim, é só andar mais um pouquinho. A Assembleia e o Palácio Anchieta estão quase juntos, nem sempre de mãos dadas... há prestações a perder de vista.
- A Igreja do Rosário, onde fica?
- Atrás do Teatro Carlos Gomes, na rua da Telest, é só subir a escadaria, rezar, pedir proteção a São Benedito.
- A cidade tem parque?
- O Parque Moscoso, lugar de muitos romances, de sapatinhos perdidos no lago, de muita pipoca aos macacos, fica em frente ao Santa Cecília, o outrora cine-sex da cidade.
- E Clube Saldanha?
- Fica em frente ao Penedo, patrimônio fálico de nossa baía, guardado pelos canhões do Forte de São João.
- E o caranguejo, onde experimentar?
- No Bar do David, em Jucutuquara logos depois da Pracinha do Cruzamento, ao lado do Pão Gostoso.
- E o Museu Solar Monjardim?
- Também em Jucutuquara, quase no final da linha do bonde, bem perto da antiga Cobal.
- Queria comprar panelas de barro.
- É em frente à Praça de Goiabeiras como quem vai para o Aeroporto, tem panelas incríveis, muquecas que dão água na boca.
- E a UFES?
- Antes das Panelas, logo depois da Ponte da passagem, à esqerda de quem vai.
- E a cruz do Papa?
- Ah, essa é famosa! É só seguir pela Beira-Mar logo depois do Horto Mercado, a gente reza olhando o Convento da Penha.
- As ruas aqui não tem nomes?
- Claro que sim! Nossas ruas têm nomes, casas, prédios e monumentos têm números, mas moramos na cidade presépio, entre mar e montanha. Aqui, a referência simbólica vigora, traduzindo aconchego e familiaridade com a cidade. É um falar capixaba, que ama o detalhe, metaforizando cada canto do seu presépio...

De: Roberta Giovanotti (nascida em Vitória (ES), psicanalista, professora universitária aposentada e escritora.
Livro: Escritos de Vitória - 11 - Cidade Presépio - 1997.

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