A Voz do Gigante – Por Maria Stella de Novaes
Recolhemos esta lenda, em nossa infância, quando, na Fazenda Monte-Líbano, em Cachoeiro de Itapemirim, íamos, à tarde, passear, no Caminho-da-Roça, estrada de acesso à colônia italiana, encarregada de cultivar os cafezais, após a Abolição.
Era maravilhoso o panorama que se nos deparava: — desfiladeiros escuros, tomados ainda pela mata virgem, entre montanhas em cujas escarpas se ostentavam os alinhados cafezais promissores de farta colheita. — "No fundo, — dizia-nos a senhora acompanhante, — estão os sacis, que, à noite, vêm guardar as estradas". (O "fundo" eram os desfiladeiros).
Entre essa verdura de serranias, destacava-se um cabeço inacessível, em virtude das lajes que o revestiam. Era o "Morro-do-Gigante", conforme nossa guardiã. Morava ali, enclausurado, um poderoso gigante, personagem fabulosa, que destruiria todo o trabalho humano, caso a terra tremesse, porque as lajes, desprendidas, o libertariam. Deus o havia segregado, providencialmente, para que o homem pudesse viver e prosperar, naquela região bela e fértil. O gigante, porém, respondia, só duas vezes, ao que lhe gritavam.
Então, as crianças "faziam canudo", com as mãos, e experimentavam:
— Oh!...
O eco repetia: — Oh!... Oh!...
— Vamos!...
— Vamos! Vamos!...
O gigante continua enclausurado, nas lajes das escarpas, no Monte Líbano.
Representa, decerto, esta lenda, o avanço da civilização, através da História. Os seres fantásticos, na imaginação popular, vão-se afastando, à medida que o homem desbrava a terra, para cultivá-la, estabelecer sua residência, abrir novos rumos à vida.
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2016
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