Abastecimento de água em Vitória – Por Areobaldo Lellis Horta
Dois fatores são essenciais para a boa higienização de uma cidade, como se apresentava a Vitória naquela época, com uma zona urbana pequena, onde se concentrava uma população de cerca de oito mil habitantes. Esses fatores são a água potável e a limpeza pública. Se a primeira possuíamos em estado ainda rudimentar, a segunda era inexistente, como iniciativa das administrações.
Os morros que cercavam o trecho da cidade, hoje conhecido por "Convertidora", tinham, em seu sub-solo, os principais mananciais de abastecimento da cidade. As águas desciam em um duplo sentido: para abastecer a caixa existente no fim da Rua do Carmo, hoje Coronel Monjardim, caixa fornecedora de água aos chafarizes da cidade; e no sentido de um lavadouro, construído no local onde está a "Convertidora", destinado à lavagem de roupa pelas lavadeiras, que não o faziam na velha Pedra da Massela.
A existência desse lavadouro, cavado na terra e todo cimentado, e que também recebia as águas pluviais e a caixa, acumuladora de água para os chafarizes, deu àquele trecho o nome de Fonte Grande. Pregadas à parede externa da caixa existiam seis bicas, nas quais os moradores da zona apanhavam água. Além desse chafariz, existiam ainda os do Largo de Santa Luzia, em frente ao atual Ginásio São Vicente; Ladeira Santos Pinto, próximo à Rua Duque de Caxias, Largo da Alfândega, hoje Praça Oito; interior do Mercado, onde está o edifício dos Correios; Largo da Conceição, todos com duas bicas; fim da Ladeira da Várzea, atual Professor Baltazar; da rua da Capixaba, em frente ao antigo gasômetro, ambos de uma bica; e do final dessa rua, de mais de duas bicas.
O abastecimento da cidade foi sempre deficiente, mormente da primavera ao outono, acentuando-se no verão, quando se tinha de recorrer a meios outros, a fim de que não faltasse água à população. Para tanto, o Governo alugava algumas pranchas, que iam buscar água no rio Marinho, atracando no Cais do Porto dos Padres, atual Rua do Comércio, Alfândega, Mercado e Jardim Municipal, locais onde os carregadores de latas e barris se abasteciam, vendendo-a pelas casas, a preço de duzentos réis a lata e trezentos o barril. Eram carregados os barris em burros, quatro ou seis para cada animal, ou pelo próprio carregador, aos pares de latas, dependuradas nas extremidades de uma vara curva. Tal estado de coisas perdurou até o Governo Henrique Coutinho, desaparecendo na administração Jerônimo Monteiro, com o estabelecimento de um serviço regular de abastecimento em domicilio, com água encanada, dos mananciais de Duas Bocas, em Cariacica.
Antes do mais
O presente trabalho, com o qual concorro ao prêmio "Cidade de Vitória", instituído pela Lei Municipal n°. 20, de 8 de setembro de 1946, é um modesto subsídio ao estudo do desenvolvimento da nossa Capital, em suas condições urbanísticas, métodos educacionais de ordem cultural e social, de costumes e tradições ao tempo de minha infância e juventude.
Se valores intelectuais do passado, como padre Antunes de Siqueira, Daemon, Afonso Cláudio e outros de idênticos assuntos se ocuparam para o conhecimento dos vindouros, o fizeram em relação às mesmas épocas de sua juventude. Deixaram, por isto, uma solução de continuidade compreendendo as duas últimas décadas do século dezenove e a primeira do século vinte. É essa lacuna, que pretendo preencher despretensiosamente, com o que a memória me conservou daquela fase de minha vida. Procurando realizá-lo, não posso fugir ao dever de uma homenagem ao berço da nossa evolução - Vila Velha — onde passei parte da minha meninice e à qual a Vitória está presa por uma série de caras circunstâncias, homenagem representada nas crônicas que dão corpo a este trabalho pelo que a seu respeito escrevi.
Vitória, junho de 1951.
O AUTOR
Fonte: A Vitória do meu tempo – Academia Espírito-Santense de Letras, Secretaria Municipal de Cultura, 2007 – Vitória/ES
Autor: Areobaldo Lellis Horta
Organização e revisão: Francisco Aurelio Ribeiro
Compilação: Walter de Aguiar Filho/ maio/2020
Festa antonina (Santo Antônio) realizada no dia 13 de junho de 1937, em Aribiri (Vila Velha), na chácara onde residia o Dr. Armando Azevedo, aqui nos versos tratado como "cumpade".
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