Adeus, Jucutuquara - Por Jorge Rodrigues Buery
Pelos idos de 1966 ou 67, não me recordo precisamente, comecei a assistir a jogos de futebol, frequentando estádios junto de meu pai e de meu tio. Todos Jorge. Uma época em que ainda se vendiam refrigerantes em garrafas. Os vendedores passavam entre as cadeiras sociais e arquibancadas carregando nas costas aqueles engradados. Para nós, crianças, era uma festa. Hoje, pela violência nas praças esportivas, refrigerante ou cerveja, só em copos de papel no balcão do bar.
Mas voltando à minha iniciação como torcedor, lembro-me bem que frequentava, nas tardes de domingo, o antigo estádio Governador Bley. Para nós, o estádio do Rio Branco. É claro que, pelo tempo, já nem sei mais dizer ao certo quais jogadores via em campo. Mas confesso que me animava quando o papai avisava que o tio Jorge passaria em casa para nos pegar e levar ao estádio. Ou ele mesmo, em algumas manhãs de domingo, nos levava (a mim e meus três irmãos) para um passeio no Rio Branco. Pegávamos a bola de plástico, e, como sócios, tínhamos acesso ao gramado. Para nós era uma grande alegria poder pisar no mesmo campo dos jogadores e, mais do que isto, chutar a bola em gol.
A ligação da família Buery (ou Boueri) com o Rio Branco vem desde que meu tio Jorge tinha uma loja no centro da cidade, e por ali se encontravam jogadores, torcedores, dirigentes e outras pessoas ligadas ao clube capa-preta. Foi ele quem construiu, na época em que tinha uma fábrica de tijolos, as primeiras cabines do estádio. Quer dizer, hoje como profissional da crônica esportiva, procuro separar as coisas, mas as raízes a gente nunca esquece. Uma outra ligação. Minha mãe passou grande parte de sua vida em Jucutuquara e ali conheceu meu pai. Mais do que evidente que eu ficasse mesmo saudoso, quando soube que um pouco de nosso passado ficava ali no bairro, quando o Rio Branco vendeu seu estádio para o Governo Federal instalar a Escola Técnica.
Hoje, depois de muitas dificuldades, o Capa-preta encontrou um lugar certo, embora distante de suas tradições. E recentemente recebeu um terreno para construir sua sede social em Jacaraípe. Quer dizer, o estádio em Campo Grande, a sede na Serra... O Rio Branco deu adeus a Jucutuquara, a seus abnegados, a seus heróis, às suas lembranças de bons tempos. E leva consigo um pouco da saudade de uma família.
ESCRITOS DE VITÓRIA — Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal - Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar
Diretor do Departamento de Cultura - Rogerio Borges De Oliveira
Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici
Conselho Editorial - Álvaro Jose Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Bibliotecárias - Lígia Maria Mello Nagato, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lourdes Badke Ferreira
Revisão - Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla
Capa - Remadores do barco Oito do Álvares Cabral, comemorando a vitória Baía de Vitória - 1992 Foto: Chico Guedes
Editoração - Eletrônica Edson Malfez Heringer
Impressão - Gráfica Ita
Fonte: Escritos de Vitória, nº 13 – Esportes- Prefeitura Municipal de Vitória e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1996
Autor: Jorge Rodrigues Buery.
Nascido em Vitória (ES). Jornalista.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2020
Em 1921, ano em que Luiz Buaiz nasceu, crescia na cidade o interesse por futebol
Ver ArtigoOs 10 Clubes de Futebol mais conhecidos
Ver ArtigoAs 10 Sedes Sociais mais antigas
Ver ArtigoO esporte abre caminhos. No Brasil, por exemplo, onde a ascensão social é driblada pela má distribuição de renda, a prática esportiva é opção de muitos
Ver ArtigoEstes Escritos de Vitória revelam traços de figuras de Vitória — de desportistas, na sua maioria, e não de literatos
Ver Artigo