Ano de 1566 - Por Basílio Daemon
1566. Parte neste ano, a 20 de janeiro, vindo do porto de Bertioga na capitania de São Vicente, o capitão-mor Estácio de Sá, tendo ali preparado uma armada composta de seis navios, alguns barcos e canoas, vindo acompanhado dos religiosos jesuítas Gonçalo de Oliveira e José de Anchieta, que a mandado do padre Manoel da Nóbrega tinham sido enviados para animar os índios e mestiços no ataque dos franceses no Rio de Janeiro.(93) Tendo deixado atrás parte dos navios dirige-se e chega Estácio de Sá a esta capitania no mês de fevereiro a fim de obter novos reforços de gente, munições e mantimentos, o que conseguiu; mas demorando-se poucos dias seguiu para o Rio de Janeiro, chegando ali no princípio de março fortificou-se na Praia Vermelha, dando em seguida os ataques de 6, 12 e 15 do mesmo mês contra os índios tamoios e os franceses, tendo deles saído vitorioso.
Idem. Por provisão do governador Mem de Sá, datada de 3 de abril deste ano, é nomeado Belchior de Azeredo Coutinho, o Moço, sobrinho de Belchior de Azeredo Coutinho, o Velho, para capitão do navio de guerra São Jorge, (94) por ter muito se distinguido no Rio de Janeiro nos ataques contra os franceses e índios tamoios, assim como nos combates em outras capitanias, sendo ainda por seus serviços nomeado a 27 de novembro deste mesmo ano cavalheiro fidalgo da Casa Real Portuguesa.
Idem. Tendo sido chamado à Bahia em meados deste ano o irmão José de Anchieta a fim de receber ordens sacras, recomenda-lhe o padre Manoel da Nóbrega que chegasse à capitania do Espírito Santo, visitasse a Casa Colegial e as aldeias, e dispusesse e ordenasse o que melhor julgasse em seus benefícios.(95) Com efeito, aqui chegou, mas encontrando ainda a consternação que lavrava entre os padres jesuítas, moradores e indígenas pela morte do padre Diogo Jácome, pelo que consolou-os e chorou com eles, indo depois visitar as aldeias, principalmente a do Campo Velho, onde a peste das bexigas e aquele passamento haviam trazido grandes desgostos; promoveu em seguida o que julgou necessário a bem de todos, partindo daqui depois de alguma demora, a prosseguir em viagem para São Salvador na Bahia, onde chegando a 15 de outubro deste mesmo ano, relatou ao capitão governador geral do Estado do Brasil, Mem de Sá, a embaraçosa posição em que se achava no Rio de Janeiro seu sobrinho Estácio de Sá e a necessidade que tinha de pronto socorro, visto ter assistido aos ataques e saber dos apertos em que se achava aquele capitão-mor, julgando que para acabar a guerra necessitava serem enviados novos reforços e contingentes, a fim de bater por uma vez os franceses e afugentar os tamoios, o que Mem de Sá tomou em muita consideração, principiando logo a dar enérgicas providências no sentido de ser prontamente acudido Estácio de Sá.
Idem. É provido nas últimas ordens sacras, no mês de outubro deste mesmo ano, na cidade de São Salvador na Bahia e pelo bispo D. Pedro Leitão, o irmão José de Anchieta, deixando assim a classe religiosa em que ainda se achava, tendo por isso grande alegria o próprio bispo e o governador Mem de Sá, por já serem notórios os serviços prestados por este célebre catequista.(96)
Idem. Tendo, como vimos, sido advertido o governador Mem de Sá, pelo então irmão José de Anchieta, dos apuros em que se achava na capitania do Rio de Janeiro seu sobrinho o capitão-mor Estácio de Sá e da necessidade de lhe serem enviados prontos socorros, são aprestadas algumas embarcações conduzindo tropa, munições e muitas provisões de boca, as quais partiram da Bahia no mês de novembro, vindo em uma delas, a capitânia, o mesmo Mem de Sá, o bispo D. Pedro Leitão,(97) a visitar a diocese, e mais o padre Inácio de Azevedo que chegara à Bahia a 24 de agosto deste mesmo ano, e que fora enviado como visitador geral desta província do Brasil, por concessão do papa Pio V, pertencendo ele ao quarto grau da Ordem; acompanhavam ao padre visitador geral, o padre provincial Luís da Grã e os padres José de Anchieta, já então ordenado, Antônio Rodrigues, Baltazar Fernandes e Antônio Rocha. Aqui chegada a expedição, desembarcaram todos, tratando Mem de Sá de arranjar um forte e bom contingente para levar consigo, o que obteve, pois afora gente pertencente aos povoadores, ainda obteve duzentos índios flecheiros, devido aos esforços do donatário Vasco Fernandes Coutinho Filho. Assim aprestada partiu a expedição em fins do mês de dezembro ou princípio do ano seguinte, chegando ao Rio de Janeiro a 17 de janeiro de 1567.(98)
93 “Achava-se então a província mui falta de víveres, e de gente, para socorrer prestes a armada: e, contudo, zelando os seus moradores, o serviço real, e animados os índios católicos a cargo dos jesuítas José de Anchieta e Gonçalo de Oliveira, cuidaram todos no modo de aprontar o auxílio, enquanto chegavam da Bahia e da capitania do Espírito Santo outros adjutórios.” [Pizarro, Memórias, I, p. 38]
94 Vasconcelos, Ensaio, p. 18.
95 (a) Nery, Carta pastoral, p. 81. (b) “Por então sossegou a praça da Bahia, empenhada nos aprestos da armada; e ouvindo do governador o padre José de Anchieta (quando por seus superiores foi chamado a receber ordens Sacras) as contas dos sucessos venturosos do Rio, de que fora testemunha...” [Pizarro, Memórias, I, p. 42]
96 Ponciano Stenzel diz que “Tendo recebido as ordens de sacerdote das mãos do bispo D. Pedro Leitão, começou então o célebre catequista uma ação muito mais ampla...” [Apóstolo do Brasil, RIHGES, 1935, 8, p. 89]
97 Mem de Sá “...deu-se de novo à vela em novembro de 1566, levando consigo suficiente número de naus, e doutras embarcações pequenas, assaz providas de munições, de soldados, e de voluntários, que o acompanharam, a quem se uniu o bispo D. Pedro Leitão...” [Pizarro, Memórias, I, p. 42]
98 “A presença da armada felizmente chegada no dia 18 de janeiro de 1567, reanimou a guerreira soldadesca...” [Pizarro, Memórias, I, p. 42]
Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2019
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