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As nações de candomblé

As nações do candomblé

São várias as nações de Candomblé representadas no Espírito Santo, embora nem todas possuam Barracões abertos.

A Nação Angola é a que tem maior representatividade. Destaca-se o tronco trazido pela lalorixá Oniacã, Ilda Ferreira Santos, filha de lelê Pires Fernandes, da casa de Xangô de Ouro e neta de Deuandá, ou seja, Miguel Grosso, da mesma raiz de Joãozinho da Goméia. Oniacã, por sua vez, mãe da lalorixá ladolamim, Cenira Ferreira Castelo, mãe dos Babalorixás Omim Ode-Arê e Ganzaurê. Inclui-se aí também a Ebame Indebelhoi e Matambeuá, Valdira, da Abacá de lansã, além do Ogã Pegigã, Nilton Dario. Isso apontando somente os mais conhecidos, pois a linhagem é atualmente muito grande, com um número incontável de filhos e netos.

Um segundo tronco Angola é representado pelo Babalorixá Diaguerembê, Rogério de lansã, neto de Miguel Tangerina, Oiá Dilê, este último da raiz de Keto. Rogério identifica-se e assume a nação Angola por causa, em primeiro lugar, de seu pai, Jonas de Iansã, Oiá Ruangi, e, em segundo lugar, por causa das obrigações dadas nessa Nação.

Um terceiro tronco Angola é representado pela lalorixá Mavunilê, da raiz do Aché Tumba Juçara. Ela, apesar de ter sido iniciada no primeiro tronco aqui referenciado, isto é, no “Axé de Oxum”, raspada por ladolamim, considera-se também filha de santo do Tatá Oxanirê, neta de Joana Telebunrá e bisneta de Ciriaco, o precursor do Aché Tumba Juçara. Seu Barracão aberto há 15 anos já criou muitos filhos.

Um quarto tronco Angola fica representado pela lalorixá Kilungi de Amzambi, da raiz do Aché Bate Folha, filha de Mambanzo de Amzambi cujos ancestrais são Miúda de Ogumarinho e Bernardino Bate Folha. O Barracão Izó Alafim de Iemanjá é mais recente. Parece que o Aché do Bate Folha era originariamente da Nação Congo.

Da Nação Keto, com grande representatividade, pode-se destacar, em primeiro lugar, a raiz deixada pelo ancestral Luiz da Muriçoca, que tem grande expressão nos nomes da lalorixá Diatolá, Dona Maria do Cabral e seus inúmeros filhos, além do Ogã Orlando Santos, presidente da Unescap. Essa é a mesma raiz de Olga do Alaketo e Menininha do Cantuá, da Bahia.

Em segundo lugar, dentro da Nação Keto, destaca-se o Barracão Ilê Thory Ashé Oshalufã, do Ebame Alá Jhe By. É ele quem diz: “Em vinte de junho de 1970, em uma casa... dirigida... pelo Caboclo Tabajara, em Osasco, São Paulo... nessa Casa de Airá-Essi que conheci Obá Mauim e a Casa de Xangô Airá... meu Deká... me foi entregue por mãe Obá, da Nação Bassi Alaketo”. E mais: “Obá Mauim é filha de Seu Bobó do Guarujá, este filho de menininha do Cantuá o qual fez santo com Aninha de Oxumaré, da raiz do Engenho Velho”, os mesmos ancestrais de Wilson de Oxósse. Porém, Alá Jhe By também informa que o primeiro Candomblé que conheceu e que o atraiu para “as raízes e cânticos puxados pelos ogãs foi o de Nelsinho de Oxósse, em Santa Mônica, Vila Velha. A cultura dele muito embora seja do Angola Caçanje, me fez sentir muito bem”.

Outro representante da Nação Keto é Gelson de Xangô Airá, que tem o Ilê Aché Vodum Obá Airá. Ele, embora filho de Mariinha do Alaketo, da Bahia, deu sua obrigação de sete anos, recebendo o Deká, isto é, “Cuia”,com Bira d’Oxum, que ia dar sua obrigação de 14 anos com Jacunanji, este da Nação Angola.

Também Keto são a lalorixá Dofono de Omulu, Saturnina da Conceição, do Centro Espírita Omulu com Iansã e o Ebame Roberto de Obaluiaê, ambos com Barracões de grande importância e prestígio. Há ainda Dona Beth, que não tem Barracão.

Na Nação Jeje ou Jeje-Nagô, o destaque é para lalorixá Forno de Oxósse, Fia, que tem o Barracão Ilê de Ode, aberto há mais de 15 anos, com muitos filhos. Ela é filha de Dirceu de Oxalá, Dofono, e seu avô é Zezinho de Boa Viagem, Dofandixâ de Oxum, que têm como ancestral comum o falecido Rodolfo de Omulu, ou seja, Adolfo Cleber Henrique, que parece ser a mais antiga referência que se tem do Candomblé no Espírito Santo. Outras representações Jeje são Dirce e Betinha, respectivamente, em Porto de Santana e Caratoíra, com Barracões funcionando. “O Jeje trazido por Rodolfo e Omulu e Forno de Omulu, do Rio de Janeiro para cá, já existe faz muito tempo e 20 anos atrás existiam Barracões Jeje abertos em Bela Aurora e Novo México(68)."

Também de Nação Nagô são o Ogã Levindo de Logum-Edé, presidente da S’Ceabra-ES, o Ogã Dafonso de Oxósse e também Júlio de Aruanda.

Na Nação Efom, há os representantes Cristo de Oxósse e Nelson de Oxalá, que, embora não tenham ainda Barracões abertos, são pessoas de grande atuação junto às comunidades de terreiros locais. Da Nação chamada Candomblé de Caboclo, o representante em destaque é Nenel Baiano.

Na Nação Omolokô, destacam-se Euzinho Francisco, isto é, Gangalembi, filho de Luzia da Costa Godói de Oxósse, oriundo do Rio de Janeiro. Essa Nação é considerada também uma espécie de sincretismo das diversas nações.

Inclui-se aqui uma representação da Pajelança que, embora não seja uma nação de Candomblé, é considerada uma forma de representação do sincretismo afroindígena que sobrevive na figura de Alpinagé.

É interessante notar que a Cabula, embora não seja considerada uma nação, é de fato uma prática religiosa genuinamente afro-capixaba. Com isso, se quer destacar que as nações atualmente existentes parecem não ter vínculo histórico direto com as antigas nações de africanos vindos para o Espírito Santo, uma vez que a quase totalidade de representantes das diversas Nações de Candomblé atuais são oriundos de outras regiões, com destaque para Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e Minas Gerais.

 

NOTAS

(67) Depoimento do Ogã Nilton Dario sobre a Federação Espírito-Santense de Cultos e Entidades Afro-Brasileiras, durante o Seminário Candomblé e Umbanda no Espírito Santo. Ufes. Julho de 1989. Documento em vídeo no acervo da Biblioteca Central da Ufes. Coleção “Práticas Culturais no Espírito Santo: A Religião em Questão”, fita 21.

(68) Alá Jhe By, Babalorixá da Nação Keto, em entrevista dada ao jornal ILUACHÉ, janeiro de 1988, p. 7.

 

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Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por Osvaldo Martins de Oliveira. –2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2016
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2021

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