Associações e federações de umbanda e candomblé
São seis as associações e federações que congregam as comunidades de Candomblé e Umbandas capixabas.
A primeira organização aqui destacada, por ser a mais antiga, é a Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, que tem excelente estrutura administrativa e publica o informativo “A Senda”, no qual são divulgadas as suas realizações em prol da Umbanda Kardecista.
A segunda organização é a Federação Espírita Umbandista do Espírito Santo, mais voltada para o atendimento dos umbandistas, mas que não nega apoio ao Candomblé. Ela tem uma linha de trabalho direcionada para a orientação espiritual e material dos Terreiros. Essa linha está muito bem definida em uma publicação da própria Federação, o “Manual do Presidoca”, obra de valor inestimável como orientação aos Terreiros e que marca definitivamente a presença dessa Federação, a segunda mais antiga, junto aos seus filiados, espalhados porto do o Estado.
A terceira organização é a Federação Espírito-Santense de Cultos e Entidades Afro-brasileiras do Espírito Santo (Fesceab). Como o próprio nome define, a Afro-brasileira tem linha de ação dedicada à defesa dos interesses da cultura religiosa afro-brasileira e estende suas atividades ao interior através de organizações regionais. Foi a organização pioneira na defesa da cultura afro no Espírito Santo. Atualmente conta com mais de dois mil associados espalhados por todo o Estado e publicou “O Saravá”, “jornal afro-brasileiro” dedicado aos assuntos de interesse dos praticantes.
A quarta organização, a União Espírita Capixaba (Unescap), abrange a Umbanda, a Pajelança, a Quimbanda, o Kardecismo e o Candomblé, além de pessoas que, mesmo não tendo casas abertas, dão consultas de búzios,cartas etc. Nessa organização, percebe-se, nitidamente, a diretriz de valorizar, difundir e preservar os valores culturais africanos herdados. Assim, a ação da Unescap estende-se em apoio a capoeiristas e outras manifestações culturais africanistas, como bandas de Congos e Jongos. Além disso, atua como veiculadora de notícias, tendo publicado o jornal Iluaché e buscando espaço nas emissoras de rádio locais para divulgar os eventos relacionados à sua área de ação, na capital e interior.
A quinta é a Sociedade Espírita Brasileira/ES (Sesbras), que se caracteriza pela atuação na mesma linha das duas já citadas, mas que tem uma estrutura organizativa diferente, mais democrática, uma vez que sua diretoria, em 1989, compunha-se de 39 membros distribuídos em diversas funções, incluindo supervisores municipais que cuidam dos interesses da associação nas regiões fora da capital.
A sexta organização é a Sociedade Cultural de Estudos das Seitas Africanas no Brasil (S’Ceeabra), que é a mais nova associação local, mas que tem demonstrado amplamente sua ação em diversos eventos que realizou ou de que participou, como cursos e palestras, evidenciando seu propósito de divulgar, valorizar e promover a cultura religiosa africanista.
É interessante perceber que, apesar do natural e ocasional conflito de interesses das organizações associativas entre si mesmas e entre elas e seus associados, a convivência é harmoniosa o suficiente para até serem programadas e realizadas ações comuns e articuladas envolvendo a todos.
A finalidade dessas associações e federações é, por exemplo:
reunir Tendas, Centros e Terreiros do ritual de Umbanda e Candomblé com os seguintes objetivos: a) Difundir a doutrina espírita de modo geral, promover o amparo ao menor, ao adulto desajustado ou à família e anciãos necessitados; b) Prestar assistência social, jurídica e médica aos sócios, promover a ação comunitária em programas preventivos e promocionais no campo social; c)Dar instrução aos seus associados, familiares e adeptos; d) Prestar conforto espiritual e material aos que dela necessitarem, dentro de suas possibilidades e; e) Fiscalizar o perfeito cumprimento das boas normas que dignificam a fé elevando a moral e o espírito de solidariedade humana(65).
As organizações são, geralmente, de “caráter religioso-filantrópico, científico e filosófico, sem fins lucrativos, políticos, nem sectaristas e sem discriminação de raça, sexo ou condição social”, destinando-se “a congregar as sociedades e uniões locais de sociedade espíritas... para defesa dos interesses comuns”(66).
Têm elas também a intenção de orientar rituais litúrgicos, criar solidariedade, promover a caridade e sessões públicas, defender interesses da religião e dos praticantes, dar assistência jurídica aos associados, promover cursos teóricos e práticos para o desenvolvimento do corpo mediúnico e auxiliares, manter em rádio, jornais e revistas formas de divulgação de difusão da religião(67).
Conclui-se que as organizações associativas têm papel importante como elementos aglutinadores e de articulação das Comunidades de Terreiros. Elas têm ainda muito espaço de atuação para preencher e, infelizmente, muita dificuldade de realização plena de seus princípios estatutários e planos de melhoria e ampliação de suas atividades junto aos Terreiros e Barracões.
NOTAS
(65) Capítulo 1, artigo 10 do Estatuto da União Espírita Capixaba (Unescap).
(66) Artigos 10 e 20 do Capítulo 10 do estatuto de Federação Espírita Umbandista do Espírito Santo.
(67) Depoimento do Ogã Nilton Dario sobre a Federação Espírito-Santense de Cultos eEntidades Afro-Brasileiras, durante o Seminário Candomblé e Umbanda no Espírito Santo.Ufes. Julho de 1989. Documento em vídeo no acervo da Biblioteca Central da Ufes.Coleção “Práticas Culturais no Espírito Santo: A Religião em Questão”, fita 21.
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Governador
Paulo Cesar Hartung Gomes
Vice-governador
César Roberto Colnago
Secretário de Estado da Cultura
João Gualberto Moreira Vasconcelos
Subsecretário de Gestão Administrativa
Ricardo Savacini Pandolfi
Subsecretário de Cultura
José Roberto Santos Neves
Diretor Geral do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Cilmar Franceschetto
Diretor Técnico Administrativo
Augusto César Gobbi Fraga
Coordenação Editorial
Cilmar Franceschetto
Agostino Lazzaro
Apoio Técnico
Sergio Oliveira Dias
Editoração Eletrônica
Estúdio Zota
Impressão e Acabamento
GSA
Fonte: Negros no Espírito Santo / Cleber Maciel; organização por OsvaldoMartins de Oliveira. –2ª ed. – Vitória, (ES): Arquivo Público do Estado doEspírito Santo, 2016.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2021
Nas últimas duas décadas do século XX, o Espírito Santo foi palco de uma efervescência política negra com a criação de um conjunto de organizações
Ver ArtigoFlorentino Avidos construiu o prédio destinado à Biblioteca e ao Arquivo Público, na rua Pedro Palácios
Ver ArtigoUm pouco mais tarde, ouvimos a voz exótica de uma saracura, isto é, de um raleiro que poderia ser uma Aramides chiricote Vieill
Ver ArtigoBernardino Realino pode ser invocado como protetor de certas categorias de cidadãos, que julgam poder contar com poucos santos
Ver Artigo1) A Biblioteca Pública do Estado. Fundada em 16-6-1855, pelo Presidente da Província Dr. Sebastião Machado Nunes.
Ver Artigo