Biscuit – Por Elmo Elton
Chamava-se Orozimbo. Era solteiro, residindo, com a mãe viúva, em casa, já demolida, de dois andares, na rua Cais de São Francisco, em Vitória, exatamente no local onde foi construído o Centro de Saúde. Porque gostasse muito de crianças, vendo-as, na rua, corria a abraçá-las, carinhosamente. Eram as crianças os seus biscuits preferidos, repetia sempre. Foi daí que os marmanjos, por sabê-lo biriteiro contumaz, logo passaram a chamá-lo Biscuit Pau D'água.
Orozimbo, quando moço, vestia-se com certo apuro, frequentando os clubes da cidade, tanto que a senhora Olindina Mulullo, sua ex-vizinha, costumava afirmar que, nos carnavais antigos de Vitória, ninguém montava em cavalos melhores, mais ricamente ajaezados que os do Orozimbo nem ninguém sabia cavalgá-los com igual destreza e garbo.
O homenzinho empalhava cadeiras, envernizava móveis, era bom estofador, sendo seus serviços requisitados pelas famílias mais distintas da cidade. Minha avó (Dona Jacinta Baraldi Zamprogno), certa vez, a título de ajudá-lo, já ele em franca decadência física, contratou-o para a restauração de uma chaise longue, belíssimo móvel de fabricação francesa, presente que lhe fizera a viúva Hildebrando Resemini, quando a família se transferiu para o Rio de Janeiro, em 1937.
O contratado pediu preço alto para executar o serviço, além de exigir parte adiantada do orçamento, sendo que, mal iniciada a tarefa, a proprietária muito se aborreceu, já que todo o primitivo estofo, em crina de cavalo, assim como as molas de aço, não haviam sido aproveitadas, tudo jogado à chuva, num canto do jardim da casa.
Afinal, pronto o trabalho, logo se apurou que o "novo acolchoamento" se constituía apenas de calças velhas, camisetas e cuecas borradas, mulambos do próprio Orozimbo, com quem minha avó, ludibriada, cortou relações.
Orozimbo, nos últimos anos de vida, sempre piscando os olhos miúdos, era visto, dia inteiro, na Praça Oito, quando não na rua Duque de Caxias, invariavelmente bêbado, ora resmungando, ora xingando os que dele zombavam. Usava, magrinho e pálido (parecia ter diminuído de tamanho), roupa surradíssima, como que úmida pelo sereno das madrugadas. Todos o conheciam. Faleceu na década de 50.
Fonte: Velhos Templos e Tipos Populares de Vitória - 2014
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter Aguiar Filho, fevereiro/2019
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