Ceciliano Abel de Almeida
Engenheiro, professor, administrador, historiador e escritor foram alguns dos atributos conferidos a Ceciliano Abel de Almeida, eminentemente um homem público. Em sua vida de atuação política, colecionou mais qualidades do que defeitos, mais amigos do que inimigos. É assim que encontramos, em grande parte das obras que o mencionam, um conjunto de adjetivos que o definem como um cidadão preocupado em fazer parte de uma grande engrenagem social, mas com o máximo de funcionalidade dentro da sua formação intelectual – (Reinaldo dos Santos Neves – 1978).
Um fator quase unânime que se destaca nas referências dos que se preocuparam em escrever sobre Ceciliano é a abnegação pelo Estado do Espírito Santo, lugar onde nasceu, no dia 25 de novembro de 1878, na cidade de São Mateus. José Abel de Almeida e Deolinda Francisca Medeiros de Almeida, seus pais, eram lavradores e moravam à margem esquerda do riacho Santana, um dos afluentes do rio São Mateus. Na mesma cidade, Ceciliano fez o curso primário. No Rio de Janeiro, na cidade de Petrópolis, fez o ensino secundário e, em seguida, o curso de Engenharia, na Escola Central (Politécnica).
Devido à sua origem situada numa família de baixa renda, teve de trabalhar para custear os estudos e a estadia na capital do Brasil. Começava, então, a estruturar sua carreira de professor de Aritmética, Álgebra e Geometria. Por outro lado, também foi revisor de textos em jornais, demonstrando seu talento em outra área.
A carreira de engenheiro começou na construção da Estrada de Ferro Peçanha ao Araxá, no período de 1900 a 1903. Em seguida, a Estrada de Ferro Central do Brasil, de 1903 a 1905. Foi no final de 1905 que recebeu convite do engenheiro Pedro Nolasco para residir no Espírito Santo, especialmente para trabalhar na construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas. O trabalho foi realizado até 1908, ano em que recebeu outro convite, iniciando sua vida de participante da administração pública, como diretor de Viação e Obras e de Terras e Colonização do governo Jerônimo Monteiro.
A atuação naquela diretoria seria tão reconhecida, que preparou sua entrada em outra esfera da administração. Ceciliano foi nomeado como o primeiro prefeito de Vitória, de 9 de fevereiro a 10 de setembro de 1909. Um de seus trabalhos marcantes nessa fase é salientado na participação de uma comissão que desenvolveu um estudo topográfico dos limites com os estados de Minas Gerais e Bahia. Naquele mesmo ano, a Imprensa Estadual publicou relatório de sua autoria, que denota a preocupação em narrar os dados colhidos, mas com tom de sensibilidade: “Dentro em pouco a cidade será iluminada à luz elétrica, ficando assim dotada de um importantíssimo melhoramento que muito concorrerá para o seu embelezamento”.
O reconhecimento do trabalho do engenheiro rendeu uma seqüência de participações, especificamente na construção de estradas de ferro. Em Virgínia (EUA), no período de 1909 a 1910, trabalhou na construção da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, depois denominada Leopoldina Railway. Em 1911, voltou a colaborar com a Estrada de Ferro Vitória a Minas. Em 1912, participou da construção da Estrada de Ferro Santa Cruz a Barbados.
No período de 1912 a 1914, trabalhou na Estrada de Ferro Itacuruça a Angra dos Reis. De 1914 a 1915, tornou-se diretor da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte – Estado onde surgiria uma das opiniões mais respeitadas na classe intelectual do país: o antropólogo Luís da Câmara Cascudo. É Câmara Cascudo quem assina o prefácio do livro que tece as memórias do engenheiro, mencionando, no texto, algumas impressões de quando visitou o Espírito Santo, em 1955, para ministrar um curso de Antropologia Cultural: “Alto, magro e sorridente, o gesto lento desenhava no ar os episódios inesquecidos de uma nobre e grande via de trabalho, dedicação e alegria de servir”. Outra menção de Câmara Cascudo entra em sintonia com a maioria dos comentários a respeito do homenageado: “Uma vida como a do Engenheiro e Professor Ceciliano Abel de Almeida dignifica a espécie, a humana no geral e a brasileira no particular”.
A partir de 1916, quando regressou ao Espírito Santo, voltou a trabalhar na estrada Vitória Minas, assumindo diversos cargos como chefe de tráfego, superintendente e representante do presidente da obra, o engenheiro Pedro Nolasco. Seu trabalho foi realizado até 1931, contando com um pequeno intervalo, entre 1917 e 1918, para a construção da Estrada de Ferro Bom Jesus a São José dos Calçados.
No governo Florentino Ávidos, atuou na exploração da estrada de ferro que ligaria Vitória a Santa Cruz, assim como na estrada que ligaria Colatina a São Mateus. Com a eclosão do período da Revolução de 1930, não colaborou com grupo político que assumiu o poder e preferiu residir com sua família no balneário de Manguinhos. Nesse mesmo período, aposentou-se como engenheiro, mas por valores que não condiziam com o sustento de sua família. O magistério, então, surgiria para complementar a renda mensal, além de reacender outra aptidão.
O jornalista Geraldo Hasse, num dos seus artigos, menciona Manguinhos como um lugar de referência, em se tratando da história da família Abel de Almeida, a partir da chegada do engenheiro, que teria mudado a percepção dos poucos habitantes:
Ao construir uma casa de verão na Avenida Atapoã, diante do mar, o construtor da Estrada de Ferro Vitória a Minas estabeleceu um novo padrão residencial na vila, cujos moradores aprenderam com ele a construir fossas sépticas. Com o tempo Ceciliano foi adquirindo alguns bons pedaços de terra que, mais tarde, repartiria entre os sete filhos e netos, numerosos o suficiente para formar dezenas. Além disso, o ex-prefeito de Vitória atraiu para Manguinhos seus amigos e parentes.
O magistério havia se iniciado em 1919, fase em que fundou o Colégio Vitoriense. No Colégio Estadual do Espírito Santo, ingressou como professor concursado de Trigonometria. Na fase de afastamento para Manguinhos, estava exercendo a função de diretor do referido colégio. Também foi professor de Matemática e física na Academia de Comércio de Vitória, no Colégio Americano, no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e no Colégio Salesiano. Somente em 1945, retomaria carreira de homem público, quando assumiu o cargo de secretário de Agricultura, Terras e Obras. Voltou a ocupar oposto de prefeito de Vitória, no período de 1947 a 1948.
Em 1954, recebeu convite do governador Jones dos Santos Neves para assumir o cargo de reitor da recém criada Universidade do Espírito Santo. Também exerceu outros cargos de relevância como a presidência da Companhia Telefônica do Espírito Santo, além da presidência de Instituições intelectuais importantes como o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e a Academia Espírito-Santense de Letras. A 2 de junho de 1965, um colapso cardíaco o silenciou para sempre.
Fonte: CREA-ES 50 ANOS – Uma História da Engenharia no Espírito Santo - nov/2010.
Reinaldo dos Santos Neves (Org.). Estudos em homenagem a Ceciliano Abel de Almeida. Vitória: Editora Fundação Ceciliano Abel de Almeida. 1978 - Fonte principal da sinopse do CREA.
Ceciliano Abel de Almeida. Relatório apresentado ao Exm.º Sr. Dr. Jerônimo Monteiro, Presidente do Estado. Victoria: Imprensa Estadual.1909.
Ceciliano Abel de Almeida. O desbravamento das selvas do Rio Doce (Memórias). Rio de Janeiro: José Oympio, 1959. ( Col. Documentos Brasileiros).
Geraldo Hasse. Viva Manguinhos (lll).site século diário
Compilado por: Walter de Aguiar Filho em nov/2010.
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