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Um Patriarca Nosso - Por Aylton Rocha Bermudes

Professor Aylton Rocha Bermudes

Chegar a cem anos de idade é uma façanha admirável e singular. Mas atingir a marca tão rara de um centenário, com a lucidez, a firmeza, a saúde, o vigor do meu tio, IGNÁCIO VICENTE BERMUDES, é um feito que merece especial celebração, com alegria e aplausos.

Os meios de comunicação costumam registrar, com surpreendente destaque, crimes e desastres, que bolem com a sensibilidade pública, mas que nada acrescentam ao nosso patrimônio comum. E se esquecem, tantas vezes, de acontecimentos significativos, embora sem estardalhaço e que não exorbitam do dia-a-dia rotineiro, mas fecundo, como o silencioso trabalho das sementes no seio da terra.

Um homem simples, morador da Vila de Timbuí, no município de Fundão, um dos milhares de rebentos da família BERMUDES, comemora, hoje, cem anos de vida. Uma vida sem grandes lances, sem estrépito, mas vivida com dignidade e no trabalho constante, em permanente simbiose com a terra, que cultivou, antes em sua natal Nova Almeida e, depois, no distrito de Timbuí.

Dá gosto e causa admiração conversar com esse patriarca nosso, alegre e saudável, de memória fiel e vivo raciocínio, que recorda e narra fatos do século passado, episódios do tempo da escravidão negra, abolida quando ele já contava oito anos, os primeiros dias da República, os governos estaduais do começo deste século, sobretudo as memoráveis realizações de Jerônimo Monteiro de quem foi eleitor e amigo.

Cultiva ainda o seu quintal e seus olhos penetrantes e vivos, que leem diariamente este jornal, brilham de emoção, quando veem as plantas crescerem viçosas, sob os cuidados de suas mãos e de sua enxada.

Comenta os acontecimentos da política, seu "fraco" até hoje, censura e aplaude. Mostra, orgulhoso, seu belo título de nomeação, num cursivo esplêndido, datado de 1906, pela então Corte de Justiça deste Estado, para suplente de juiz de Direito, em Nova Almeida. Acrescenta, com uma ponta de justa vaidade, que presidiu sumários e escolha de jurados.

Tenho-lhe perguntado a que atribui essa longevidade sadia. Responde que a "cepa" é boa e que teve sempre uma vida sem excessos, dedicada continuamente, porém sem precipitação, ao cultivo da terra, no convívio dos seus. Essa transfusão mútua e milagrosa de seiva há de explicar uma parte do segredo.

Seus sete filhos, seus quarenta e três netos e setenta e quatro bisnetos, com seus muitos parentes e amigos, aos quais me juntarei, irão parabenizá-lo, em Timbuí, neste dia primeiro de novembro, na festa singular de seus 100 anos de uma bela existência, modesta, mas útil, fecunda e exemplar.

Vou levar ao meu tio Ignácio o abraço póstumo de meu pai, seu irmão, Joaquim Vicente Bermudes, que não viveu tanto para presenciar o acontecimento, mas dele participa em espírito e alegria, através do filho, que o relembra sempre, com amor e saudade.

 

Autor: Aylton Rocha Bermudes

 

Nasceu em 24 de julho de 1921, no Distrito de Timbuí, município de Fundão, Espírito Santo. Filho de Joaquim Vicente Bermudes e Geny Rocha Bermudes. Fez o curso primário em sua terra natal e o curso secundário, no Seminário de Manhumirim, Estado de Minas Gerais, a partir de 1934, onde estudou também Filosofia e matérias anexas ao curso. Iniciou-se no magistério quando fazia o curso de Filosofia, dando aulas de português e latim. Em 1943, começou a reger a cadeira de francês do Colégio Estadual "MUNIZ FREIRE" (Liceu) de Cachoeiro de Itapemirim, cidade onde exerceu intensa atividade de professor, lecionando, ainda, por longos anos, no Ginásio e Escola Normal CRISTO REI e na Escola Técnica de Comércio; Filosofia e Português, no 2º ciclo do Colégio Estadual "MUNIZ FREIRE". Participou das atividades culturais da cidade. Foi aprovado no concurso público para a cátedra de francês e literatura francesa do Colégio Estadual "MUNIZ FREIRE", tendo escrito e defendido a tese LA QUES-TION DU PARTICIPE. Militou na imprensa de Cachoeiro de Itapemirim, onde foi redator do jornal CORREIO DO SUL e onde fundou com o Prof. Virgílio Milanez o jornal O MOMENTO, de que foi Diretor e Redator. Colaborou também no jornal ARAUTO da mesma cidade, e na imprensa vitoriense, especialmente em A GAZETA. Foi, durante anos, Diretor do Colégio Estadual MUNIZ FREIRE. Concluiu, em 1954, o curso de Direito na Faculdade de Direito do Espírito, em cujo exame vestibular se classificou em 12 lugar. Passou a exercer, desde então, a advocacia, inscrição 476, OAB-ES. Foi Procurador Judicial da Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, durante seis anos. Em 1964, foi nomeado Secretário do Interior e Justiça deste Estado, cargo que exerceu até o fim de 1965. Em 1966, foi nomeado Procurador do Tribunal de Contas do Estado do Espirito Santo, cargo em que se aposentou. Foi professor da cadeira de português (literatura brasileira e portuguesa) do Colégio Estadual do Espirito Santo de Vitória. Coordenador Estadual do Programa Nacional de Carta Escolar (PROCARTA/MEC) de 1972 a 1974. Membro da Academia Espírito-santense de Letras, onde ocupa a cadeira n° 4, e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Consultor Jurídico do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, desde 1977. Membro da Comissão de juristas instituída por ato da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, em janeiro de 1988, para elaborar o anteprojeto da Constituição Estadual.

 

Fonte: Biblioteca de Autores Capixabas - Torta Capixaba II - Poesia e Prosa, Volume 3 - Editada pela Academia Espírito-santense de Letras, 1989

Comissão de edição: Neida Lúcia de Moraes, Ormando Moraes e Renato Pacheco

Diagramação, montagem e arte final: Sergio Maitan

Composição: Copigraf Editora Ltda

Fotolito e Impressão: Gráfica Espírito Santo Ltda

Capa: Carmen Lucia Marques

Autor: Aylton Rocha Bermudes

Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2022

Foto Ilustrativa: Fonte Academia Espírito-santense de Letras

Nota do Site: O Professor Aylton Rocha Bermudes faleceu aos 99 anos de idade, em 11/03/2021, faltando poucos meses para também completar o seu centenário de vida, como o do seu Tio Ignácio Vicente Bermudes

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