Centenário da chegada do Exército em Vila Velha (2017)
O Presidente da República era Wenceslau Braz Pereira Gomes, e havia declarado guerra à Alemanha na Primeira Guerra Mundial em Curso, e na “Presidência” do Estado do Espírito Santo era Bernardino de Souza Monteiro, e em Vila Velha o Prefeito Municipal era o João Thomaz de Souza Jr, se aproximando do final de mandato que ocorreria no ano seguinte em 23.5.1918.
Como o Governo Federal viu que o Estado do Espírito Santo não dispunha de significativa unidade do Exército Nacional, resolveu transferir da Bahia para Vila Velha em 15/12/1917 o 50º BC que era originário de um meio Batalhão de Caçadores que fora criado também na Bahia, em 19.4.1851.
Vieram inicialmente com uma companhia, com cerca de 200 sorteados (recrutas) e 5 oficiais e 4 praças.
Por influência de comerciantes locais, conseguiram que no lugar de ficar na capital onde havia pouco espaço disponível, que viessem para Vila Velha, que tinha a fortaleza de S. Francisco Xavier da Barra do Ministério da Marinha, que veio ser transferido oficialmente para o Ministério da Guerra em 10.11.1919.
Nesse meio tempo, por alguns anos, a Prefeitura de Vila Velha alugou algumas casas na Prainha para os soldados se alojarem, como a casa do Coronel da Guarda Nacional Joaquim Vieira Mascarenhas situada em frente da Igreja do Rosário, para servir de casa de ordens e de recrutamento. Também, no hotel do João Nava muitos oficiais e sub oficiais ficaram ali hospedados.
Foi um grande impacto para Vila Velha (município então com 6.000 habitantes aproximadamente) na época e dinamizou a economia local, tanto no fornecimento de gêneros alimentícios, e na construção civil nos anos seguintes quando iniciaram os pavilhões que lá estão em Piratininga, hoje quartel do 38º BI, e casas para os oficiais. Até lavadeiras passaram ter renda extra pois engomavam túnicas e lavavam e passavam mudas de roupas de muitos integrantes do batalhão, o que ocorreu por décadas.
A Prainha já contava com rede de água encanada desde 1910, e energia elétrica e linha de bonde desde 1912. Metade da caixa d água da Prainha ficaria reservada para o Batalhão.
Os militares aterraram com barro área de restinga atrás do antigo cemitério onde é hoje a praça Capitão Octávio Araújo e ali faziam os exercícios de ginástica.
Como a carga de dejetos humanos aumentou muito para precárias fossas negras das casas onde os soldados ficavam inicialmente (dormiam em beliches), logo entraram em colapso. Com isso, todo dia, e duas vezes, recrutas recolhiam as excretas principalmente de penicos que por costume antigo todos usavam, em tonéis com uso de carrinho de mão, e os levavam até a orla da enseada da Prainha e lá despejavam tudo.
Assim que receberam a fortaleza, abriram com ajuda do governo do Estado, o acesso rodoviário manualmente, usando enxadões, pás, picaretas e carrinhos de mão a meia encosta do morro do convento, já que antes o acesso era feito apenas por trilha saindo por de traz do portão da ladeira da penitência do referido mosteiro. Hoje é a Alameda Soldado Ademilson Soares. Em depoimento Ubaldo Sena criança na época viu essa terraplanagem ser feita, quando talvez acharam uma extremidade do célebre túnel de escape do convento, donde saiu de lá de dentro muitos morcegos!
Depois o exército estendeu a linha de bonde por essa via até a fortaleza, sendo que mais na frente ficou recuada até a guarita da garganta da Ucharia onde esse morro encontra com o da Penha.
Conseguiram também com a Igreja Católica a campina de Piratininga adjacente ao forte, e na margem esquerda do rio da Costa, outrora comprada pelo Convento da Penha no período colonial que servia de pastagem, onde anos depois foram construindo os pavilhões que lá estão.
O imigrante Panizardi Augusto, mais na frente, por muitos anos fornecia lenha para a padaria e cozinha do quartel, e tinha até salvo conduto para circular na época da segunda guerra, sendo considerado cidadão confiável apesar de ser súdito do Eixo.
Os Militares por muitos anos ajudaram em tudo a Prefeitura local, na abertura de ruas, no socorro em épocas de enchentes e epidemias, e mesmo na assistência médica à população carente dentro do possível.
O aniversário do Batalhão ficou sendo considerado o dia da data embrionária de sua fundação, 19 de abril, coincidentemente dia do Índio e do aniversário de Vargas.
Com o tempo a transferência total do Batalhão foi efetivando-se, e passou a ter banda que tocava semanalmente no coreto na Praça da Bandeira (largo fronteiriço da matriz do Rosário) para entretenimento de todos.
Nosso patrono, Milton Caldeira nascido na Prainha, em 1910, testemunha ocular de muitos fatos alusivos ao Batalhão nos deixou relatos, como o trecho transcrito abaixo.
......
“Muitos adultos hoje por certo com os olhos marejados se lembram saudosos, de quando crianças acompanhavam o batalhão puxado pela banda de musica e os soldados a cantar.
Brasil, nome sagrado,
Marchamos resolutos para a guerra
Todo o vigor que nosso corpo encerra
É teu, só teu Brasil amado.
Avante brasileiro,
Bravos guerreiros,
Desta grande nação
À vitória, à vitória
Levando à glória
O nosso pavilhão
Para a frente que importa a invernar
Temporais, inclemências de sois
Quem for fraco que fique na estrada
Que a vanguarda é lugar de heróis
Salve Pátria gentil
Amado Brasil
Nossa terra querida
Para tua grandeza
Gloria e defesa, só sua a nossa vida.
Nos somos da Pátria a guarda
Fiéis soldados por eles amados
Nas cores da nossa farda
Rebrilha a gloria folga a vitoria
A paz queremos com fervor
A guerra só nos causa dor
Porem se a Pátria amada
For um dia ultrajada
Lutaremos com valor.
Como é sublime
Saber amar
E com a alma a chorar
Sobre a terra em que se nasceu
Amor febril,
Pelo Brasil.
No coração
Não há quem passe.”
O engenheiro Antonio Francisco Athayde (bisavô de Dr. Anibal atual Presidente do TJES) vivenciou também muito desses fatos do início do batalhão em Vila Velha, já que entre 1919 a 1923 foi eleito por dois mandatos sucessivos de Prefeito Municipal, por unanimidade, tendo sido de grande importância no entrosamento da municipalidade com o Exército, já no último ano da guerra (interrompida com o armistício de 11.11.1918) e no enfrentamento de inúmeras dificuldades e na implantação da urbanização da expansão da Prainha para o centro de Vila Velha, que teve grande ajuda dos militares na abertura de novas ruas.
Vila Velha 18/04/2017
Autor: Roberto Brachado Abreu
O autor é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha-ES.
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