Domingo de Remo - Por Július César Carvalho Silva
Domingo de regata de remo em Vitória é domingo diferente. Nos domingos de competição, a tranquilidade do centro da cidade, tão comum nos finais de semana, dá lugar a uma verdadeira festa. Uma pequena multidão invade parte da Avenida Beira-Mar de bandeira em punho, fogos e muito barulho. Tudo para acompanhar as disputas dos barcos na raia da baía.
Essa paixão do morador da capital pelo remo o diferencia dos outros capixabas. O que leva tanta gente a trocar a praia aos domingos de regata e invadir a Beira-Mar para acompanhar os páreos? Essa pergunta me fiz várias vezes quando saí da minha querida Cachoeiro de Itapemirim e vim morar em Vitória, em 1982. Hoje, entendo os motivos que fazem do vitoriense um apaixonado pelo remo.
Uma das razões pode ser a própria história do esporte. O remo deu muitas conquistas ao Estado. São títulos sul-americanos e participações em olimpíadas. Além disso, nos brindou com atletas dos quilates de Wilson Freitas, Harry Mosé, João Arruela Maio e Antenor Correa. E, hoje, a tradição capixaba de bons remadores se confirma como nos casos de Guto, Sérgio Paixão, Sérgio Quem-Quem e Rogério Preto, que garantem motivação e qualidade às disputas.
O outro motivo, e disso ninguém pode duvidar, é o local onde as regatas são disputadas. O remo capixaba foi brindado pelos deuses do esporte com uma das mais belas raias naturais do mundo. A baía de Vitória é um espetáculo à parte. É um cartão de visita que reúne, num conjunto de beleza ímpar, o mar, ilhas e o majestoso Penedo. Isso sem contar o porto e os navios.
Não se pode esquecer também da rivalidade de décadas. Falar de remo sem falar de Álvares e Saldanha pode ser considerado um sacrilégio. Os dois clubes foram fundados em 1902 e sempre tiveram o remo como seu carro-chefe. E de lá para cá, assumiram a condição de arqui-inimigos travando na baía de Vitória memoráveis duelos. E essa briga pela hegemonia de títulos é salutar para o esporte e mantém acesa a chama da paixão dos capixabas.
O bom ambiente que cerca as regatas também é um convite para ir à Beira-Mar nos domingos de regata. Famílias inteiras vão torcer pelos seus clubes, o que não é comum em se tratando de outros esportes. O clima familiar faz a diferença. Pais e filhos são uma constante em dias de competição e isso ajuda a perpetuar o interesse pelo esporte.
Por tudo isso, além da beleza plástica que o remo oferece, numa sincronia de movimentos e no deslizar dos barcos, passei a entender melhor a paixão do capixaba por esse esporte. Hoje também sou figura constante nas regatas. E logo assim que a minha pequena Júlia crescer um pouco mais, será mais uma a aumentar a legião de torcedores que invadem a Beira-Mar nos domingos de remo. Mesmo que o clube que ela adotar para seu coração seja diferente do meu.
ESCRITOS DE VITÓRIA — Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal - Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar
Diretor do Departamento de Cultura - Rogerio Borges De Oliveira
Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici
Conselho Editorial - Álvaro Jose Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Bibliotecárias - Lígia Maria Mello Nagato, Elizete Terezinha Caser Rocha, Lourdes Badke Ferreira
Revisão - Reinaldo Santos Neves, Miguel Marvilla
Capa - Remadores do barco Oito do Álvares Cabral, comemorando a vitória Baía de Vitória - 1992 Foto: Chico Guedes
Editoração - Eletrônica Edson Malfez Heringer
Impressão - Gráfica Ita
Fonte: Escritos de Vitória, nº 13 – Esportes- Prefeitura Municipal de Vitória e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1996
Autor: Július César Carvalho Silva.
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim (ES). Jornalista.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2020
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