Encerramento do livro: No tempo do Hidrolitrol
Para encerrar estas histórias, fecho com uma de autoria de pessoa para mim muito querida e que me traz saudades imensas. Trata-se do doutor Dario Derenzi, um dos melhores amigos do meu pai, Michel, dentista fundador da Associação Odontológica do Espírito Santo e autor do livro "Coquetel de Saudades", inspirador deste pequeno relicário de causos e enxovalhadas capixabas. Trata-se do texto cujo título é "Encontro Desastroso", e está publicado na página 56 daquela obra:
“Passando defronte ao Hotel Natal, no Rio de Janeiro, muito procurado pelos capixabas, encontrei-me com Mário Pretti, que, no mesmo dia, seguiria para Vitória, de avião. Estava fazendo hora para ir ao consultório do doutor Sílvio d'Ávila, com quem tinha uma consulta marcada.
Mário havia se submetido a uma delicada cirurgia com o notável urologista. Explicando-me todos os sintomas que sentia, e os motivos que o levaram a se operar, comentei com ele que há muito tempo sofria do mesmo mal.
De conversa em conversa, chegamos ao consultório do doutor Sílvio, situado perto do Hotel Natal, e também do meu consultório dentário. Mário entrou logo para a Sala de Consultas e eu fique na Sala de Espera. Passados uns minutos, surge, por outra porta, uma enfermeira:
— Doutor Derenzi? Pode entrar, por aqui.
Fui levado para a Sala de Operações e com instruções da enfermeira para que tirasse a roupa. Logo depois, entra o doutor Sílvio, mandando-me tirar a roupa, dizendo que o exame seria rápido.
Percebendo a molecagem do Mário, surpreso e apreensivo, não tendo outra saída, me submetido ao exame mais desmoralizante: o de hemorroidas e próstata.
Saímos juntos. Mário, às gargalhadas, "vermelho que nem peru", tomou um táxi para o [Aeroporto] Santos Dumont. E eu fui para o meu consultório dentário.
Passada uma hora, toca o telefone e a minha enfermeira atende.
— É para o senhor. É do consultório do doutor Sílvio d’Ávila
— Alô! Sim. É o Derenzi.
— Doutor Derenzi, o senhor foi o último cliente a ser atendido. Por acaso, o senhor escreveu alguma coisa, usando uma caneta?
— Não senhora. Quem escreveu foi o doutor Sílvio, que me passou uma receita.
— Obrigada. Me desculpa...
Passada uma meia hora, toca o telefone e é, de novo, do consultório do doutor Sílvio.
— Doutor Derenzi, o senhor me desculpe, mas o doutor Sílvio está sentindo falta da caneta dele e, como já revistei tudo, e não a encontro, tomei as liberdade de, novamente, ...
— Não há de ser nada, minha senhora. Nem sei de que cor é a caneta.
Já no final da tarde, toca o telefone e a enfermeira, em prantos:
— Doutor Derenzi, por favor, me desculpe, não me leve a mal, mas o doutor Sílvio acaba de telefonar do hospital bastante aborrecido, perguntando pela caneta. Ela é de ouro e foi ganha num congresso na Suíça. Sinceramente, não sei o que fazer. Já virei o consultório de pernas para o ar.
— Minha senhora: um é pouco, dois é bom, mas três é demais. Contra minha vontade, fiz um exame para o qual não estava preparado. Estou com a bunda toda dolorida. Doutor Sílvio enfiou vários aparelhos no meu ânus e receitou-me um laxativo. Amanhã, após o efeito do purgante, telefona-me. Pode ser que a caneta apareça.
Não telefonou mais.
Fonte: No tempo do Hidrolitrol – 2014
Autor: Sérgio Figueira Sarkis
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2019
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