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Estudos sobre a descoberta da Província - Parte IV

Estudos sobre a descoberta da Província do ES - Parte IV

A 8 de outubro de 1515 parte do lugar denominado Lepé, perto de Cadiz, João Dias de Solis, o infatigável e intrépido navegante, que, pela segunda vez, era autorizado por D. Fernando de Castela e Aragão a explorar toda a costa sul do Brasil.

Fez-se, pois, de vela neste dia, comandando duas caravelas, em rumo direito ao cabo de São Roque; aí chegando dobra-o em rumo de sul e segue costa abaixo, entrando em muitos portos já conhecidos, até chegar ao rio da Prata, que nessa época ainda conservava o nome indígena de Paraguaçu. Subiu por ele até 34º e 41º de latitude. Solis, vendo que os indígenas mostravam-se pacíficos, resolve desembarcar; mas, afastando-se um pouco das margens do rio, assim como cinquenta companheiros, caem em uma emboscada, sendo Solis crivado de flechas, perecendo não só ele como seus companheiros.

Teve por algum tempo o rio da Prata o nome deste navegante, que posteriormente foi mudado. As duas caravelas voltaram a Pernambuco, carregaram-nas de pau-brasil e fizeram-se de vela para Espanha.

Foi nessa ocasião que el-rei D. Manoel, sabendo dessa viagem, e que Solis havia tocado em seus domínios, como fosse haverem entrado as caravelas nos portos do Rio de Janeiro e Pernambuco, pediu satisfação à Espanha, exigindo a restituição do carregamento e entrega da tripulação, para serem todos punidos como contrabandistas. A Espanha deu por satisfação que Solis havia sido morto no rio da Prata, pelo que não podia ser mais entregue; e quanto ao mais se dariam providências com o fim de no futuro se evitarem esses atentados, pois a paragem donde haviam carregado o pau-brasil fora do domínio de Espanha (o que era falso). Quanto à tripulação, já Portugal havia aprisionado sete homens de sua nação, por traficarem nas costas do Brasil naquela mercadoria. Com a troca destes prisioneiros e de onze portugueses presos em Sevilha se concluíram as pazes.

Solis, pois, não tocou nesta viagem em nenhuma paragem da província.

Em 1516, segundo o historiador inglês Ricardo Hakluyt, fez por ordem de Henrique VIII da Inglaterra uma viagem ao Brasil o cavaleiro Tomás Perth, trazendo por companheiro Sebastião Cabot, tendo por fim apossar-se a Inglaterra dos tesouros afamados da Perularia. Segundo o mesmo historiador e o Sr. José de Vasconcelos, foi de mau sucesso esta viagem, não constando no entanto nada de positivo a respeito da mesma.

Segundo documentos existentes em Portugal, partiu de Lisboa a 6 de abril de1517 uma armada com destino ao Brasil. Desta vinda têm-se muitos escritores e historiadores ocupado, mas de todas as investigações até hoje feitas nada se pode ainda colher de positivo, pelo que acha-se num caos o resultado desta viagem.

Em 1519, a 13 de dezembro entraram na baía do Rio de Janeiro os insignes pilotos portugueses Rui de Falliero e Fernando de Magalhães, que a mandado do governo de Espanha estavam a fazer o giro do globo, segundo diz o cavaleiro Pigafetta, na relação que escreveu a respeito desta viagem.

Foram estes dois navegantes os que deram à baía do Rio de Janeiro o nome que tem de Santa Luzia, em consequência e honra ao dia em que tinham ali entrado.

Diz em sua relação o mesmo Pigafetta, que fizeram ali uma grande provisão não só de carnes, como de aves, açúcar, batatas e pinhas, relatando outros fatos de trocas de objetos por outros, do que não se pode tirar uma conclusão exata, visto ser incompreensível como naquela data podia haver no Rio de Janeiro a abundância de cereais e comestíveis de que falam Pigafetta e outros, pois que parte dos objetos obtidos, segundo a relação, só foram trazidos da ilha Terceira em 1532, a mandado de Martim Afonso de Souza, quando povoou a sua capitania de São Vicente, mandando vir não só sementes, como mudas de cana, animais quadrúpedes e aves. Acompanhamos nesta parte a dúvida do Sr. José de Vasconcelos, e julgamos até apócrifa essa relação.

Rui Falliero e Fernando de Magalhães, depois de haverem-se demorado quatorze dias no Rio de Janeiro, mandaram levantar âncoras aos seus navios, e a 27 do mesmo mês de dezembro prosseguiram em sua viagem para o sul, sempre à vista da costa.

Segundo o jornalista e economista Carlos Fournier, partiram de Dieppe em 1520 três irmãos de nome Parmentier, que eram considerados excelentes navegantes, a fazerem descobertas; mas, tendo arribado a Pernambuco por causas não bem assinaladas, carregaram os navios de pau-brasil e fizeram-se de viagem para Dieppe.

Também não tocaram nas costas desta província.

Tendo falecido a 13 de dezembro de 1521 el-rei D. Manoel, em cujo reinado fora descoberto o Brasil, subiu ao trono D. João III, que como seu pai continuou a promover as descobertas das terras deste império, tendo em 3 de março de 1522 confirmado a doação feita por seu pai, da ilha de Fernando de Noronha, a Fernão de Noronha, e mandado a 31 de março de 1524 que fosse feita a retificação e demarcação do Brasil, por uma linha imaginária tirada de norte a sul, e do último ponto de uma linha transversal lançada da ilha de Santo Antão, ao poente, com 1.110 milhas ou 2.078.245 quilômetros.

Como havemos já dito tinha vindo em 1516 Sebastião Cabot ao Brasil, segundo o ilustre e verídico historiador Hakluyt, como também havia feito antes em 1497 uma importante viagem ao norte da América, a mandado de Henrique VIII de Inglaterra.

Sebastião Cabot, por desgostos, passou ao serviço de Carlos V, que havia subido ao trono de Espanha em 1516, um ano depois da vinda ao Brasil de João Dias de Solis. Cabot, navegante reconhecidamente distinto, propôs a Carlos V o fazer uma viagem ao estreito de Magalhães, às Molucas, e daí descobrir as afamadas ilhas de Torsis, Cipango e Ofir, que se acreditava ser do domínio do império japonês. Comprometia-se a não tocar nas terras do domínio português, e para cuja viagem lhe daria o rei de Espanha quatro embarcações preparadas, todas à custa do governo, o que foi realizado, sendo aumentada ainda a expedição com mais uma embarcação fornecida por um particular de nome Miguel Rufis.

Partiu, pois, Sebastião Cabot no princípio de abril de 1524, de Sevilha, na qualidade de capitão-general, tendo antes consultado os hábeis pilotos Miguel Garcia e João Vespúcio; e fazendo-se de vela passando pelas Canárias e Cabo Verde, veio surgir em Santa Catarina entre 27º e 28º de latitude e 51º de longitude ocidental, então conhecida por ilha dos Patos.

Tendo a tripulação principiado a murmurar, não querendo se confiar de Cabot na passagem do estreito de Magalhães, viu-se forçado o capitão-general a abandonar seu plano de viagem desembarcando em Santa Catarina, onde os indígenas o acolheram excelentemente, e aí pôde refazer-se das provisões que já lhe faltavam; mas arrebatando eles traiçoeiramente quatro crianças na ocasião da partida, causou isto, não só a estes como a seus pais, principais da tribo, um grande desgosto.

Consta que Cabot deixara em uma ilha deserta Francisco de Rojas, Martim Mendes e Miguel Rosas, oficiais da expedição, que o haviam censurado em sua conduta.

Seguiu viagem para o sul, costa abaixo até o rio da Prata, subindo por ele obra de 90 milhas ou 185,190 quilômetros, até uma ilha a que deu o nome de São Gabriel, e que descreveu como tendo uma légua de circunferência ou 6,173 quilômetros.

Fundeando aí, seguiu além, em pequenos barcos tripulados por gente forte e alguns soldados, até a embocadura de um rio, 21 milhas ou 43,211 quilômetros acima de São Gabriel, a que deu o nome de São Salvador, e que tem hoje o de Uruguai, para onde mandou vir as cinco embarcações, visto haver um porto vasto e seguro, fazendo ali construir em terra um fortim perto do mesmo rio. Deixando nele alguma gente armada e municiada, continuou a sua excursão rio acima, nos mesmos pequenos barcos e em uma caravela que ia guardando a retaguarda; subiu ainda 90 milhas ou 185,190 quilômetros, pelo rio Paraguai, donde teve de voltar pela rigorosa guerra que lhe fizeram os indígenas, que lhe mataram vinte e cinco homens e aprisionaram três, por terem estes saltado em terra a colher palmitos; continuando no entanto em suas investigações durante cinco anos até o de 1527.

A 15 de agosto de 1526, parte do cabo de Finisterra, na Espanha, o piloto português Diogo Garcia, que se achava ao seu serviço, comandando uma expedição que fora armada e preparada pelo conde Fernando de Andrade, Cristóvão de Faro e outros, tendo por fim o reconhecimento do rio da Prata, que era então conhecido pelo nome de rio de Solis.

Tendo, pois, Garcia se feito de vela, vem surgir em fins deste ano em 17º 57’ e 44” de latitude, e 41º 2’ e 9” de longitude oeste do meridiano da ilha do Ferro, nas quatro ilhas denominadas Abrolhos, conhecidas pelos portugueses por parcel das Paredes; daí desceu em rumo de sul, e vem surgir a 24º de latitude na baía dos Inocentes, hoje São Vicente, na província de São Paulo, e aí ancorando os navios encontrou-se com o desterrado bacharel Ramalho, que o sortiu de víveres e lhe deu para acompanhar em sua viagem a um seu genro, segundo Aires do Casal, para servir nessa derrota de intérprete para com os indígenas do rio da Prata.

Prosseguindo viagem, ainda aportou em Santa Catarina, onde os índios o proveram de mantimentos, queixando-se de Cabot, por lhes haver levado seus filhos, sem se importar do bom tratamento que deles tinha recebido. Ficou ali Garcia até o ano seguinte; não tendo pois tocado nesta província.

 

Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2019

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