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Imprensa quebra-peito - Por Levy Rocha

É fácil estirar o corpo numa poltrona macia e fazer a critica das modestas publicações do interior, observando os semanários provincianos, assinalando suas deficiências de impressão, resultantes de um mau aparelhamento técnico.

Antes da incondicional preferência pelas publicações das metrópoles e do desprezo ostensivo aos esforços dos locais, conviria que se meditasse sobre as dificuldades que esses heróis anônimos enfrentam na imprensa "quebra-peito".

A falta de prelos é tamanha, no interior, que nos ocorre a certeza: se o que imprimiu o primeiro jornal do Maranhão e livros de Gonçalves Dias não estivesse recolhido a um Museu, ele poderia ser encontrado ainda hoje, funcionando em algum cafundó-de-Judas, ou, quem sabe, talvez mesmo em Cachoeiro...

Pasmo de admiração e respeito ao lembrar cenas vividas do trabalho nos bastidores das oficinas.

Invoco a figura de Eugênio Lima, catando e escolhendo tipos grandes de madeira, para títulos e cabeçalhos dos jornalzinhos que ele gostava de fundar. Escrevia, compunha, imprimia, agenciava anúncios, e ficava no bar "Belas Artes", fiscalizando, de longe, os meninos a apregoarem a venda do jornal.

Penso no Trófanes Ramos, gerente de "A Cruzada" e chefe das oficinas, arrancando o paletó, na hora do aperto, pegando no componidor e ajudando o Sagrilo, que cochilava, deixando dúvidas se era devido ao cansaço da noite emendada com o dia ou se por causa da garrafa de cachaça vazia, debaixo da Marinoni.

Vejo o Hermílio Rocha, de velha tarimba, a consertar as plaquetes com a pinça, traído pela miopia e falta de luz do porão das oficinas, vermelho e envergonhado por provocar um pastel, como se fora inábil aprendiz.

Lembro-me das canseiras do Solimar e Herauto de Oliveira, nas oficinas do Asilo, a catar tipos, trabalho para eles sempre maior do que o de encontrar as chaves de ouro dos seus alexandrinos.

Imagino o Pery Vieira, malabarista na confecção da "Revista de Cachoeiro", ou de "O Cachoeiro", jornal do Dr. Elimário imprimindo duas vezes a mesma página, devido ao pequeno tamanho da rama da impressora.

Como me enchia de admiração o trabalho quotidiano de Hélio Ramos, ajuntando e espalhando letra por letra, imprimindo sozinho, duas vezes por semana, o "Correio do Sul", anos a fio, sem esmorecimentos. Newton Braga, redatoriando o jornal, nas edições especiais da enchente do Itapemirim ou da vitória do Estrela F. C., sabia caprichar nas manchetes que o maestro Hélio era forçado a contrariar: — Esse título, Doutor, não pode ser: acabaram-se os AA...

E a nobreza dos Semprini, sacrificando o interesse da papelaria, atrasando os impressos comerciais de blocos e faturas, para mobilizar os empregados na impressão dos jornaizinhos estudantis.

Eurípedes Silva, fleumático e filósofo, caprichoso no trabalho, mas difícil de se entusiasmar. Se, então, os piaus ou piabanhas davam sinal de presença, no rio, ele podia estar com excesso de serviço, mas apanhava o anzol, metia-se na canoa e ia-se plantar nos remansos ou no meio do Itapemirim, caniço tenso, atenção concentrada na pescaria, tempo esquecido.

— Eurípedes! — gritava-lhe da margem um freguês — é trabalho urgente!

Enquanto o peixe mordesse o queijo ou a banana do anzol, não adiantava chamar.

Mas, se o serviço era algum jornalzinho crítico ou estudantil, trabalho entremeado de anedotas e pequenas brincadeiras, os peixes ficavam esquecidos; ele metia mãos à obra, com entusiasmo, e fazia prodígios como mestre do ofício.

Recordo-me de um livro que imprimimos, de Pérsio Morais: "Águas Passadas..." Duas páginas de cada vez, devido ao tamanho almaço da rama da impressora. Com a escassez de tipos, não era possível compor além de três páginas... E o livro saiu bonito.

Essas dificuldades são comuns aos jornais do interior: "pasquins" dos "poetas de água doce", frutos de puro ideal, forjas do jornalismo brasileiro.

 

Fonte: Crônicas de Cachoeiro, 1966
Autor: Levy Rocha
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2016

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