Itabapoana vai ganhar comitê
O Consórcio da Bacia do Rio Itabapoana — formado pelas 18 prefeituras dos estados do Espírito Santo (9), Rio de Janeiro (5) e Minas Gerais (4) — está realizando os últimos preparativos para eleger, a partir do mês que vem, a diretoria provisória do seu Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH).
"Estamos fazendo os ajustes finais para criação do comitê, que vai nos possibilitar futuramente a cobrança pelo uso da água", informa o diretor-presidente do consórcio, o prefeito de Muqui, José Paulo Viçosi, o Frei PauIão. Ele lembra que o Comitê dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, a bacia do PCJ, em São Paulo, que foi pioneira no País com a introdução do modelo francês que a gestão das águas é feita de forma compartilhada entre o poder público, os usuários e a sociedade civil organizada.
"Fomos conhecer de perto a experiência bem-sucedida deles. Lá, já há até agência de bacia. Quem faz uso da água paga uma taxa que é remetida à Agência Nacional de Águas (ANA) que, por sua vez, repassa ao comitê para ser empregado em ações de preservação", explica.
Para a analista de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do lema Ananda Bermudas Coutinho, um dos aspectos que favorecem a instalação do comitê é o sentimento de "cidadão itabapoanense".
Desafio é unificar políticas
Com grande diversidade demográfica e natural, o maior desafio da região da Bacia do Rio Itabapoana é unificar as políticas de desenvolvimento sustentável, incorporando todos os 18 municípios que compreendem a área.
“A gestão de uma bacia hidrográfica implica na criação de um comitê gestor único, com a participação obrigatória de todos os envolvidos, e definição de uma só política a ser respeitada e cumprida por todos”, defende o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Airton Bodstein de Barros.
Professor Airton, que coordena há 10 anos o Projeto Managé região, defende uma gestão integrada dos atores para se alcançar melhores resultados.
"Temos 18 municípios, de três estados diferentes, com legislações próprias, por vezes até conflituosas. É preciso que os secretários de Planejamento sentem para conversar", sugere o professor.
Dentre os problemas causados pela falta de unidade, o professor aponta a diferença de alíquota do ICMS, que provoca a compra de combustíveis por consumidores capixabas diretamente no mercado do Rio de Janeiro.
Ele lembra ainda da poluição gerada por mau destino dos resíduos sólidos e do esgotamento sanitário de alguns municípios contaminando outros ou a bacia como um todo.
"Os sistemas de saúde e de educação também ficam altamente comprometidos nos municípios de estados fronteiriços, urna vez que fica difícil prever a demanda real pelos serviços públicos", acrescenta.
E prossegue: "Não é à toa que as regiões fronteiriças são as mais pobres e que mais demandam serviços básicos. Essas áreas acabam esquecidas porque os administradores só olham para o seu lado e vêem os vizinhos como estrangeiros."
Para inverter essa lógica, a bacia foi inserida no Programa Nacional de Mesorregiões Diferenciadas, do Ministério da Integração Nacional, cuja política olha para o que os municípios têm em comum física, cultural, social e economicamente para promover o desenvolvimento.
MANAGÉ, ONDE TUDO COMEÇOU
A chegada do Comité de Bacia Hidrográfica (CBH) do Rio Itabapoana é resultado da semente lançada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), que em 1995 deu início a um modelo de planejamento e administração que ultrapassa as fronteiras políticas e regionais.
Através dele, lideranças locais e comunitárias estão sendo ouvidas e as decisões relacionadas com obras, saneamento, educação e meio ambiente passam a fazer parte de uma política para a própria bacia. O centro de suas preocupações é os recursos hídricos e todas as melhorias sociais e econômicas advindas de suas soluções.
Como ele teve inicio?
A Universidade Federal Fluminense (UFF) iniciou, em 1995, a elaboração de um projeto pioneiro no que tange a ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, aplicadas à gestão pública, denominado Projeto Managé.
Por que Managé?
Palavra da língua tupi, managé era o nome dado pelos índios puri ao Rio Itabapoana. Etimologicamente, quer dizer "reunião do povo". Qual é o seu objetivo?
Visa subsidiar por meio de pesquisas, propostas e ações concretas, o desenvolvimento sustentado e integrado da região da bacia, formada por 18 municípios do Espírito Santo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
As ações estão voltadas para a recuperação das matas ciliares, da cobertura florestal e das nascentes; educação ambiental; estabelecimento de política de geração de emprego e renda; treinamentos a professores e agricultores; ações nas áreas de saneamento, dentre outras.
Como foi feito o trabalho?
Foram montadas 10 equipes temáticas envolvendo pesquisadores, técnicos e alunos das universidades federais Fluminense, do Espírito Santo, de Viçosa e do Rio de Janeiro, que durante um ano e meio realizaram dezenas de visitas técnicas à região, realizando análises e coletando dados e informações secundárias. No segundo momento, os dados foram encaminhados aos poderes públicos municipais, estaduais e federal, e discutidos. Em seguida, o Managé elaborou o Sistema Integrado de Gestão do Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Rio Itabapoana.
Qual o prazo de validade?
Ele tem um horizonte de 20 anos de duração no que se refere à atuação direta da UFF e foi dividido em cinco fases de quatro anos cada uma.
No primeiro momento, uma das ações de combate à pobreza era a recuperação do potencial pesqueiro do Itabapoana, por meio do peixamento do rio.
Quais foram os resultados alcançados?
• Capacitação - Treinamento de mais de 17 mil pessoas, em programas de capacitação para a geração de emprego e renda.
• Perfil - Elaboração de um perfil sócio-econômico, político e ambiental da bacia - um relatório de 250 páginas, onde constam todos os dados e informações levantadas pelos grupos temáticos.
• Mapa - Delimitação digital da Bacia Hidrográfica do Rio itabapoana. Também foram produzidos mapas das características econômicas e de produção da bacia, perfil do emprego e da renda dos municípios.
• Diagnóstico - Produção de dados hidrológicos, da qualidade da água e uso potencial para a indústria.
• Levantamento – Identificação dos ecossistemas existentes, assim como da fauna e da flora da região, das áreas de destino do lixo.
• Fórum - Criação e instalação do Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Mesorregião da Bacia do ltabapoana. Ele tem o objetivo de integrar os diferentes segmentos da sociedade para discutir e propor diretrizes sócio-políticas, econômicas e ecológicas.
• Cadeias produtivas - Desenvolvimento do associativismo e cooperativismo através de ações nas áreas de turismo (criação do modelo específico de: Turismo Rural Integrado Mesorregional, o Turim, além de um projeto de sinalização turística para o circuito do Caparaó), fruticultura (realização de cursos e introdução do morango) e piscicultura (caracterização da biodiversidade aquática e perfil dos pescadores).
• Financiamento – Parceria como Banco do Brasil para financiamento de pequenos produtores.
• Artesanato - Criação da Associação Regional de Artesanato, Agroindústria e Turismo dos Municípios da Bacia do Rio Itabapoana (Manarte), com incentivo à atividade.
• Cinema – Apoio a programas culturais: apresentação de filmes em sistema digital, seguidos de debates ou com discussões nas escolas nos casos dos filmes infantis. Com apoio do projeto Cine-BR Distribuidora, em todos os municípios da bacia.
• Teatro - Exibição da peça de teatro sob o tema: "Guardiões das Águas", produção artística da própria região, apoiada para ser apresentada em todos os municípios da bacia.
• Livro - Elaboração de um livro infantil sobre educação ambiental e cidadania a ser trabalhado em todas as escolas da região em parceria com o consórcio e o Ministério da Integração Nacional.
Fonte: Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Airton Bodsteln de Barros, coordenador do Projeto Managé
Fonte: A Gazeta – Especial – 07 de outubro de 2007
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2016
A proposta é de que recursos dos royalties do petróleo, do setor elétrico e de rochas ornamentais financiem melhorias
Ver ArtigoA região poderá abrigar a primeira Unidade de Conservação da Bacia do Itabapoana, por possuir espécies em extinção e não catalogadas
Ver ArtigoA natureza, aliada à ação predatória do homem, eleva a ocorrência de inundações na Bacia do Rio Itabapoana
Ver ArtigoO rio sustentou uma sociedade oligárquica e escravocrata, onde o tráfico de negros africanos era uma importante fonte de lucro
Ver ArtigoMuqui tem o maior sítio histórico do Espírito Santo com 186 imóveis tombados, construídos no início do século XIX
Ver ArtigoA Bacia do Itabapoana passa por 18 municípios, sendo 9 capixabas, 5 fluminenses e outros 4 mineiros, antes de desaguar no Oceano Atlântico
Ver Artigo