Serra das Torres, paraíso intocado
A Serra das Torres, entre Mimoso do Sul, Muqui e Atílio Viváqua, poderá ser constituída pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (lema) na primeira Unidade de Conservação (UC) da Bacia do Rio Itabapoana. A área, de 14 mil hectares, abriga uma das maiores variedades de espécies do Espírito Santo.
A região corresponde a 10% da área total de remanescentes de Mata Atlântica do Estado e é objeto de um estudo do Projeto Saberes da Mata, capitaneado pelo Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), que analisa a viabilidade de implantação de UCs em cinco áreas prioritárias (Santa Lúcia, Serra das Torres, Alto Misterioso, Santa Leopoldina e Delta do Rio Doce).
Na área em estudo foram encontradas 477 espécies florísticas, o que é um recorde para o Espírito Santo, além de uma grande diversidade de animais, inclusive vários ameaçados de extinção e até mesmos desconhecidos pela ciência.
O estudo, que foi iniciado em maio a partir de uma verba de compensação ambiental para instalação do mineroduto da Samarco Mineração, já apontou a necessidade urgente da área ser protegida devido à riqueza de sua biodiversidade.
Resultados do Estudo
Minerais
Os estudos geomorfológicos indicam que a área é ocupada predominantemente por rochas cristalinas pré-cambrianas, datadas de 600 milhões de anos.
Flora
Os tipos de vegetação predominantes são: a Mata Atlântica, áreas agrícolas, pastagens, florestas primárias, mata ciliar, afloramentos rochosos e áreas em estágios inicial, médio e avançado de regeneração. Foram encontradas 25 espécies ameaçadas de extinção. Entre elas:
• A Begônia - Espécie muito comum e que está praticamente extinta. É grande o potencial para sua reprodução comercial;
• O Palmito doce (Euterpeedulis) - Que já foi abundante na região, a ponto de o teto da Igreja de Muqui ser todo feito com ele. Também tem potencial de ser reproduzido comercialmente gerando renda.
• Orquídea Laelia tenebroa
Fauna
• Invertebrados: O grande destaque foi para o grupo das libélulas, conhecidas na região como "papa-fumo". Foi observado um número grande de espécie, o que é um indicador de qualidade ambiental. A espécie Leptagrion capixabae, encontrada em um lugar com uma grande densidade de bromélias em paredões rochosos, só foi catalogada na Estação Biológica de Santa Lúcia, em Santa Teresa, e em Ibiraçu. No grupo de vespas, foram encontradas 24 famílias (existem 74 no mundo). Entre as borboletas, estima-se que existam 29 espécies.
• Morcegos - A região de Serra das Torres apresentou a maior taxa de riqueza de espécies por número de coletas do Espírito Santo, o que sugere uma alta diversidade de espécies na área. Já foram identificadas 16 espécies de morcegos, sendo que uma está na lista de extinção: o Platyrinus recifinus; além de uma ser considerada nova para a ciência.
• Mamíferos não-voadores - Foram registradas 35 espécies, sendo que oito estão ameaçadas de extinção, dentre elas: o Mono-carvoeiro ou Muriqui (Brachyteles hypoxanthus).
Outras espécies ameaçadas são: a Onça-parda ou vermelha (Puma concolor), a Cutia (Dasyprocta agouti), o Macaco-prego (Cebus robustus), o Sauá ou Guigó (Callicebus personatus), a Jaguatirica (Leopardus pardalis), o Gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e o Caititu (Pecari tajacu).
• Anfíbios e répteis - Podem ocorrer na região sete espécies de répteis e nove de anfíbios ameaçados de extinção. Aliado a isso, podem existir 91 espécies de anfíbios, das quais 60% são endêmicas da Mata Atlântica. A Euparkerella robusta, até hoje, foi unicamente registrada para esta área.
Fonte: Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema)
OUTRAS ÁREAS VERDES NA BACIA
• Parque Nacional do Caparaó - Está na área de abrangência das bacias dos rios Itabapoana e ltapemirim. Seu maior destaque é o Pico da Bandeira - o terceiro mais alto cume do País, com 2.890m. Com uma área de 18.600 hectares, o parque tem terras no Espírito Santo (68%) e em Minas Gerais (32%).
• Mata do Carvão - Está localizada em São Francisco do Itabapoana e é um dos últimos fragmentos de floresta de tabuleiro no estado do Rio de Janeiro.
• Parque Municipal da UHE Rosal - Fica entre os municípios de Bom Jesus do Itabapoana/RJ e Guaçuí/ES.
• Manguezal - Fica na desembocadura do Itabapoana, em Presidente Kennedy. Todo manguezal é protegido por lei e é considerado como área de preservação permanente.
Fonte: José Edmundo Victor, técnico administrativo do Consórcio da Bacia do Rio Itapaboana
Canoístas em defesa do Rio
Num percurso de cinco quilômetros em área urbana, entre as cidades de Bom Jesus de Itabapoana, no Rio de Janeiro, e Bom Jesus do Norte, no Espírito Santo, foi possível constatar a destruição da mata ciliar, o lançamento de esgotos no rio e a destinação inadequada do lixo, o que acaba contribuindo com o problema das enchentes.
Dentre as medidas de curto prazo para conter as cheias, a importância de se colocar em prática os Planos Diretores Municipais (PDMs), estruturar as Defesas Civis e elaborar projetos de engenharia.
Durante a descida, foram distribuídos para os participantes materiais de educação ambiental, especialmente folder e camisa, juntamente com a divulgação de noções básicas de conservação ambiental de recursos hídricos.
Também foi realizado a documentação videográfica no evento, pela TV Assembléia, e a produção de fotografias que bem retratam os problemas ambientais que motivaram a realização da descida. A comunidade aplaudiu a iniciativa, que contou com a participação de pescadores e remadores das duas cidades envolvidas, além do lema, da Associação Barrense de Canoagem (ABC) e do Consórcio do Rio Itabapoana.
Muqui do Sul desperta a atenção
Um dos mais importantes afluentes do rio Itabapoana do lado capixaba, o Muqui do Sul vai chamar a atenção da comunidade local, que discutirá os seus problemas e soluções durante o Fórum das Águas, que será realizado nos dias 3 e 4 de dezembro.
De acordo com o professor e criador da ONG Alma do Rio, Paulo Randow, que já realizou várias incursões na região, no evento será lançado o Conselho Gestor da Bacia do Rio Muqui do Sul, que funcionará com as prerrogativas de um comitê.
"Por se tratar de uma bacia onde apenas uma cidade é responsável pela maior parcela de sua degradação por esgotos sanitários e pelo despejo de toneladas de lixo em sua calha, acreditamos ser possível envolver a comunidade para mudar essa realidade", explica.
No último mês de julho, cerca de 70 pessoas, mobilizadas pela Alma do Rio e pelo Grupo Eco Trilhas, percorreram o Muqui do Sul da cidade de Mimoso até a foz do Itabapoana, mostrando o acelerado processo de degradação do manancial.
As impressões
"Passando apenas por uma cidade grande, o rio Muqui do Sul chega com sua força, vindo da Serra dos Pontões, trazendo vida. Recebe de Mimoso do Sul: lixo, esgoto residencial, restos de construções, enfim, tudo que se quer descartar"
"Chegar ao rio Itabapoana vindo de seu afluente, o Muqui do Sul, foi uma das mais belas emoções que já vivi. Ao chegar na foz, sente-se a força do Itabapoana, que desce da Serra do Caparaó e segue ligeiro para o mar"
Professor e criador da ONG Alma do Rio, Paulo Randow
Fonte: A Gazeta – Especial – 07 de outubro de 2007
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2016
A proposta é de que recursos dos royalties do petróleo, do setor elétrico e de rochas ornamentais financiem melhorias
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