União garante resultados – Rio São Mateus
O trabalho de pesca no rio São Mateus como fonte de sustento está deixando de ser uma atividade individual e se tornando um trabalho coletivo, com melhores resultados. Um exemplo é o projeto Peixe na Mesa Norte, em que são criadas tilápias em tanques-rede, junto a comunidades ribeirinhas, como a de Pedra D’Água.
Desenvolvido junto às famílias de pescadores artesanais filiados à Associação de Pescadores de São Mateus (Apesam), a iniciativa é alternativa econômica ao problema social gerado pelo declínio da produção pesqueira no rio Cricaré.
A ação é realizada em 144 tanques-rede, com produção mensal de 13 toneladas. A venda do peixe in natura é feita às margens do rio, no atacado e no varejo, bem como no mercado da região.
A execução técnica é do Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente (CTA) e é patrocinado por várias instituições governamentais e privadas.
Filho de pescadores, Mauro César da Cunha Rufino, presidente da Colônia de Pescadores Z.13, com sede localizada no centro da cidade, e da Associação de Pescadores de São Mateus (Apesam), coordena as atividades dos tanques-redes.
São produzidos 480 quilos de tilápias por tanque que são comercializados em São Mateus e região, bem como para outros estados do Sudeste. O projeto foi implantado em 2004 e 38 famílias dele tiram o seu sustento mensalmente.
Os investimentos foram de aproximadamente R$ 1 milhão na compra dos tanques, alevinos, ração e tratamento diário dos peixes que é feito pelos próprios pescadores da colônia num sistema de escala de trabalho.
Os tanques ficam localizados no bairro Pedra D’Água, há cerca de 3 quilômetros do centro de São Mateus. Lá, o pescador Antonio Augusto Anchieta, de 44 anos, se envolve com as atividades, pois sabe que os recursos são divididos entre os membros da associação.
Enquanto não está cuidando dos tanques, quando não é sua escala de trabalho, seu Antonio vai para o rio pescar camarão da Malásia que exibe com orgulho.
E os filiados da Associação de Pescadores estão sendo beneficiados com uma unidade de beneficiamento. O entre posto, cedido em comodato pela Prefeitura de São Mateus, tem capacidade de filetar 500 kg de peixe/dia.
Dentro da estrutura da filetadora há uma fábrica de gelo. A unidade já se encontra em funcionamento e tem agregado renda à associação com a comercialização de gelo.
Lembranças de pescadores
O pescador aposentado Ivan Serra, de 82 anos, junto com a mulher Maria da Penha Serra, 79, são ligados ao rio São Mateus desde a infância, sabendo exatamente como foi o processo de sua transformação ao longo dos últimos anos. Eles, que são de Conceição da Barra, se lembram do tempo em que até navios de maior porte entravam pela boca da barra em direção ao rio.
“Tirávamos daqui o sustento da nossa família e hoje o que vemos são pescadores enfrentando dificuldades porque a degradação do rio não permite. Hoje até pequenos barcos têm dificuldade em atravessar o rio. Em determinadas ocasiões, até para passear de barco se torna impossível porque corremos o risco de ficar encalhados”, afirma.
A viúva Madel Machado do Nascimento, 71, lembra do tempo em que seu pai, que era prático conduzia as embarcações do alto mar para a boca da barra, onde estava localizado o porto.
“Meu pai funcionava como uma espécie síndico do porto e eu como despachante das cargas que chegavam era embarcadas nos navios. Isso aqui era maravilhoso, mas, com o tempo, o rio começou a ser assoreado e hoje até as embarcações pequenas que participavam da procissão de São Pedro já não são em mesma quantidade”, afirma.
Profissão de pai para filho
Um dos pescadores mais antigos de São Mateus é Wilson Pio Lino, de 73 anos, que apesar de ter se aposentado continua trabalhando diariamente na atividade que aprendeu criança com o pai.
Wilson tem nove filhos, quatro netos e quatro bisnetos. Dos filhos, quatro são homens e também desenvolvem atividades de pesca. Ele conta que até 1960 havia muito peixe nos rios Mariricu e São Mateus. “Já teve épocas boas. Lembro que em dois dias cheguei a pegar cerca de 140 robalos. E o maior que eu já pesquei foi um robalão de 21 quilos”, disse.
Também contou ter vivido histórias impressionantes. Uma delas que estava pescando com um amigo que jogava a tarrafa na água, só que em vez de cair aberta, ela só caia fechada.
Ele afirma que na terceira tarrafada saiu um garoto de dentro da água gritando que era o “sacipererê”. E seu Wilson jura que tudo isso não é historia de pescador.
Fora a pesca, Wilson conta que não perde o programa de rádio Voz do Brasil, para ficar bem informado. Ele também é admirador da beleza do rio e do pôr-do-sol na região.
Fonte: A Tribuna, Suplemento Especial Navegando os Rios Capixabas – Rio São Mateus – 15/07/2007
Expediente: Joel Soprani
Subeditor: Gleberson Nascimento
Colaborador de texto: Flávia Martins
Diagramação: Carlos Marciel Pinheiro
Edição de fotografia: Sérgio Venturin
Autor: Gleberson Nascimento
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2016
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