Jerônimo Monteiro - Capítulo XV
Apesar da oposição daqueles que jamais tiveram espírito de sacrifício e perseverança, para uma realização em benefício do povo, o Dr. Jerônimo parecia um predestinado, pois todo o seu trabalho, todas as suas iniciativas corriam às maravilhas.
O pântano do Campinho, que sacrificara o Presidente Henrique Moscoso, empenhado em saneá-lo e urbanizá-lo, ia-se aterrando, para, em lugar de estrebaria com a Fonte dos Cavalos, surgir trabalhado pelo senso artístico de Paulo Mota. Foco de impaludismo e depósito de dejetos, em suas valas, transformava-se num jardim encantador, com as fontes luminosas e alamedas retilíneas e numerosas, próprias ao repouso mental de uma população ativa e sedentária.
Durante muitos anos, enquanto conservado em suas linhas primitivas, o Parque Moscoso não teve rival, ao Norte do Rio de Janeiro.
Sim, Paulo Mota foi um artista da cidade da Vitória; mas o Dr. Jerônimo era, igualmente, um artista, criado no meio austero do Monte Líbano, onde sorvera a beleza dos relevos esmeraldinos, que cercavam remansos e cachoeiras, as curvas perigosas e as praias lindas do Rio Itapemirim. Beleza incomparável nos crepúsculos, quando o Sol perdia-se nas montanhas do Morro Grande e do Pau-Brasil; bailavam os pirilampos, ao refrenir conjunto das cigarras, e Vésper surgia na amplidão cinéria! Dominava, por isso, o poder do subconsciente, para conduzir o idealista na sua obra de conservar e enaltecer as belezas naturais da cidade. E o Dr. Jerônimo desapropriou as matas que a emolduravam e ostentavam o pontilhado vivo das sapucaias e dos ipês; guardavam, no mistério lendário das grotas, o cachoar murmuroso de suas fontes.
O Decreto n° 722, de 26 de agosto de 1910, declarou de utilidade pública os terrenos denominados Chácara da Piedade e Mulundu, para efeito de desapropriação. Conservar-se-iam, desse modo, as matas que emolduravam a cidade da Vitória.
A inauguração do aterro e do trabalho de construção de casas, no Campinho, realizou-se às 14 horas do dia 15 de agosto de 1910, com uma festa expressiva: armado um coreto, nele estavam os retratos do Dr. Jerônimo e a planta de uma casa. Como sempre, foi confiada a solenidade ao Presidente do Congresso, o Dr. Júlio Leite, que proferiu o discurso oficial.
Contendo a Ata, jornais e moedas diversas, a caixa que encerrava a pedra fundamental, foi colocada no lugar preparado. Então, o Presidente do Estado e demais autoridades depuseram colheres de cimento, que a recobriram. Discursos. Vivas! Foguetes!... Em nome do povo, o Dr. Bernardes Sobrinho saudou o Dr. Jerônimo.
Para a inauguração do aterro destinado ao jardim, as autoridades lançaram pás de terra no brejal, todo cercado de bandeirinhas e outros enfeites.
Foram solenidades apenas simbólicas, porque o primeiro grupo de casas, 28, já estava com os alicerces, 0,80 metros, acima do aterro, especialmente feito para recebê-las. E o pântano tinha colocados os trilhos para os vagonetes transportadores de terra.
Ao saber que os restos mortais do ex-Presidente Henrique Moscoso estavam abandonados, providenciou que fossem recolhidos a uma urna especial. Transformado o Campinho num belo parque, o Dr. Jerônimo denominou-o Parque Moscoso e, no seu centro, ergueu um monumento, em cuja base foi colocada a referida urna, em homenagem àquele que tanto se desvelara em sanear o antigo pântano.
Inaugurou-se o Parque Moscoso, a 19 de maio de 1912.
Para o trabalho desse jardim, o Governo desapropriou os terrenos que haviam sido aforados, no quadriênio anterior. E encarregou o Dr. João Tomé Alves Guimarães dos respectivos processos, com a procuração passada, a 18 de novembro de 1910. A despesa foi de 1:982$000, conforme se lê na "Mensagem" de 1912.
Tudo isso porque, no Monte Líbano, onde a operosidade clarividente dos seus genitores organizara o que pudesse contribuir para o conforto, a subsistência e a segurança econômica da família, o Dr. Jerônimo sorvera a educação objetiva da Natureza, "a única, — diz Agostinho de Campos, — que pode encaminhar-nos e preparar-nos para as carreiras práticas em que o homem discrimina, combina e domina as realidades: comércio, indústria, agricultura, colonização, ciência criadora, em sua ampla forma de investigação e aplicação".
— Quem não se recorda dos Pelames, a Praça Paula Castro, onde as crianças cantavam rodas, à tarde, e Siá Maria dos Cágados zelava pela sua preciosa coleção de quelônios? Os garotos brincavam de pique, escondidos nos flamboyants, ou corriam do popular Grela, um doido manso que assustava as alunas do Carmo?
A Praça Pelames era outro alagadiço resultante da entrada da água, na baixa-mar, pela Rua do Piolho, a atual Treze de Maio, antes do aterro da Prainha. Foi aterrado, parcialmente, no Governo do Dr. Afonso Cláudio de Freitas Rosa, primeiro Presidente do Estado, no regímen republicano. Tinha diversas casas térreas, com belíssimos jardins, na base do morro Cidade Alta. Eram famosas as borboletas dos Pelames, nome que resultou do principal ofício dos seus moradores — o curtume. Ali, os pescadores faziam suas redes. As chácaras foram conservadas e, até há pouco tempo, existiam belos pomares na base do morro.
O Dr. Jerônimo transformou os Pelames em duas ótimas ruas que serviam a grupos de casas, para funcionários públicos, tão bem delineadas que, até hoje, resistem à evolução da cidade: ruas Gama Rosa, Coutinho Mascarenhas. Igualmente, as ruas do Norte e Dona Júlia, com as suas vinte e oito construções residenciais, atestavam a carinhosa assistência do saudoso Presidente ao funcionalismo público, amparado já pelo restabelecimento da aposentadoria e instituição da Caixa Beneficente (A rua do Norte chama-se, agora, Washington Pessoa; a rua Dona Júlia, Henrique Coutinho).
A construção dessas casas, no Campinho, foi contratada com o Cel. Antônio José Duarte. Seriam construídas cinquenta a cem casas, em grupos parciais. Em 1912, estavam prontas as vinte e oito, com instalações higiênicas e de luz elétrica. Custaram 179:000$000 e foram vendidas por 185:000$000, que o Governo aplicou em outros melhoramentos. Foram vendidas em prestações mensais, a prazo longo, de preferência a funcionários públicos.
A Lei n° 569, de 5 de dezembro de 1908, concedeu aos mesmos funcionários outro benefício, o da aposentadoria, desde que tivessem mais de dez anos de serviço público. Era de vinte e cinco anos o tempo integral.
A instituição da Caixa Beneficente, que atualmente se transformou em Instituto de Previdência Jerônimo Monteiro, assegurou às famílias dos funcionários do Estado um pecúlio, na morte do chefe. Instituída na Lei n° 720, de 5 de dezembro de 1910, foi regulamentada pelo Decreto n° 792, de 25 de janeiro de 1911, de acordo com reuniões em que tomaram parte quase todos os funcionários interessados no caso.
Lembremo-nos, porém, de que o Dr. Jerônimo encontrou o Estado em situação dificultosa. Para manter em dia o pagamento dos funcionários públicos, teve de tomar medidas extremas, nos dois primeiros anos de Governo. Adotou o regímen de rigorosa economia; extinguiu "todos os lugares e despesas cuja supressão não acarretasse prejuízo do Serviço Público". E, para ficar em dia com o pagamento, viu-se obrigado a instituir uma taxa — a do selo especial de 10%, conforme a Lei n° 630, de 16 de dezembro de 1909. Considerava melhor que os pagamentos fossem feitos com pequena redução do que deixá-los atrasados, como ocorria em administrações anteriores! Levantou-se um clamor contra o Presidente, mas a providência durou apenas um exercício, pois em novembro de 1910, ao verificar a melhora da situação financeira do Estado, o próprio Presidente pedia ao Congresso a revogação da Lei, o que se fez pela n° 674, de 12 do referido mês.
Outra ideia do Dr. Jerônimo, em benefício do povo, foi a Casa dos Banhos, situada na Praça Oito de Setembro, com reservados, barbearias e engraxates, além dos respectivos banheiros de chuva.
Mas havia uma exploração dos funcionários públicos, residentes no interior, ou impedidos de ir à Diretoria das Finanças receber seus pagamentos. Eram forçados ao intermédio de terceiros, que auferiam comissões, às vezes elevadas. Criou, por isso, o Governo, a 21 de agosto de 1911, o lugar de Solicitador da Fazenda, com a atribuição de receber os vencimentos e subsídios dos que lhe dessem a respectiva procuração. Retiraria 2% das quantias em apreço, para as despesas de papéis, registros no Correio, etc. O que sobrasse devia ser recolhido à Caixa Beneficente. Pago pelo Governo, o solicitador deveria prestar fiança e apresentar o balancete mensal do seu trabalho.
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A Casa dos Banhos, as lavanderias públicas, a Assistência Pública, a limpeza urbana e domiciliar, o Serviço de Visitas para desinfecção e inspeção em domicílio e outras iniciativas participavam do programa imposto ao seu quadriênio, sobre a higiene popular, um dos pontos máximos de suas preocupações. E tudo visava proporcionar conforto às classes mais modestas — a minha gente —, como dizia.
Ao assumir o Governo, o Dr. Jerônimo encontrou o Estado desprovido dos indispensáveis e urgentes recursos de defesa sanitária. Na Capital, por exemplo, na Repartição de Higiene, faltavam aparelhos e instalações e outros elementos para suas ponderosas finalidades.
Havia o Cel. Henrique Coutinho fundado a Repartição de Assistência Pública, anexa ao Departamento de Higiene, para socorrer gratuitamente os pobres com serviços médicos e medicamentos. Em vista, porém, de sua ineficiência e grande dispêndio, o Dr. Jerônimo, pelo Decreto n° 101, de 13 de junho de 1908, extinguiu a mencionada Repartição, visto que existia na Capital, subvencionada pelo Governo, uma Casa da Caridade com o mesmo fim. Reduzia-se, aliás, a Assistência Pública a uma farmácia, para distribuir medicamentos aos pobres.
Já vimos que outras providências de finalidade sanitária foram tomadas. A limpeza pública e domiciliária e a irrigação das ruas centrais da cidade foram inauguradas, no dia 1° de janeiro de 1909, pelo contrato firmado com o Sr. Antenor Guimarães. A Prefeitura Municipal contribuía com uma parte das despesas.
A desinfecção e a inspeção eram registradas diariamente no órgão oficial; indicavam os guardas, as casas visitadas e desinfetadas, trabalho confiado a um corpo de funcionários especializados.
Para o Serviço de Desinfecção, o Governo adquiriu duas bombas especiais, uma estufa, um desinfetador, um carro-ambulância, para transporte de enfermos e um autoclave Chamberland.
Outras providências para a saúde do povo: a montagem de um Posto de Desinfecção, a mudança do matadouro, para lugar distante da zona urbana, a proibição de enterramentos nos antigos e pequenos cemitérios da cidade.
O Gabinete de Bacteriologia e Análises Químicas, anexo ao Departamento do Serviço Sanitário, foi entregue ao Dr. Jaime Verney Campelo, higienista de larga experiência nos laboratórios do Rio de Janeiro. Chegou a Vitória, no dia 11 de janeiro de 1911. Tratou o Governo de prover esse Gabinete de aparelhos indispensáveis e de constante utilidade, vindos do Rio de Janeiro e de Paris. A 14 de setembro do mesmo ano, estava concluída sua instalação.
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Mas aquela Praça Santos Dumont, lugar dos meetings (o povo dizia metingues) e das conversas, estava se transformando com o plano de remodelação traçado pelo Dr. Artur Tompson, diretor de Obras da Prefeitura. O vapor alemão Assuncion, já referido, trouxe "uma artística fonte de ferro encimada de cinco focos para o centro da Praça, cinco lindos candelabros de três focos para a Rua da Alfândega, balaustrada para o Cais, etc. O "Comércio do Espírito Santo" conserva a fotografia da fonte, e publica a notícia da inauguração, a 3 de outubro de 1909. A Praça estava primorosamente arborizada. E o povo correu para a festa. Mesmo porque no Governo do Dr. Jerônimo era assim: o povo, o Hino Nacional executado pela Banda de Música da Polícia e flores despetaladas que o cobriam!...
E, como o vitoriense antigo não dispensava versos, a Praça ganhou o seu registro rimado:
A Praça Santos Dumont,
Bonitinha e enflorada,
É hoje um ponto bem bom,
Pr’á quem viaja à saltada
A Praça Santos Dumont.
A noite farta de luz,
Com sua fonte no meio
Já convida, já seduz,
Para instantes de recreio
A noite farta de luz!
(O "Comércio do Espírito Santo") 14/10/1909.
Mas — dirá o leitor — por que a Praça, agora, se chama Oito de Setembro e não Santos Dumont?
— Porque, na sessão comemorativa do dia 8 de setembro de 1911, em brilhante improviso, o governador municipal Cirilo Tovar solicitou ao Prefeito a mudança do nome da Praça Santos Dumont para Oito de Setembro; erigir ali um monumento comemorativo ao feito dessa data; tornar feriado municipal esse dia, e criar um prêmio para o autor do melhor trabalho que, anualmente, aparecesse sobre a "História do Espírito Santo" e, especialmente, sobre esta Capital; e colocar, no salão de honra da Câmara, o retrato do Pe. José de Anchieta.
A sugestão foi consubstanciada no Projeto n° 9, apresentado pelo Governador Nelson Costa, a 28 daquele mês.
* * *
Feito esse pequeno registro de um dos melhoramentos da cidade, continuemos a tratar da assistência do povo.
Faltava, ainda, no capítulo desse plano: um estabelecimento, conforme o progresso da cidade, visto como o estado ruinoso da Santa Casa da Misericórdia impedia tanto o seu desenvolvimento quanto a continuação do seu objetivo.
Logo após assumir o Governo, havia o Dr. Jerônimo visitado o hospital para cumprimentar as Irmãs e conhecer a situação do seu trabalho. Ficara tristemente impressionado! Por isso, a 10 de junho, conferenciou com Dom Fernando e Vlademiro da Silveira, este Provedor da Santa Casa, a fim de escolherem o local para, sem demora, ser construído o novo prédio.
Para o Dr. Jerônimo, tudo devia ser assim: o mais rápido possível, sem demora, imediatamente. JÁ... Não atendia a vacilações, pessimismo, receio de fracasso. Era sempre o homem decidido, intimorato, realizador!...
Empenhados os três em beneficiar os pobres, com um estabelecimento de caridade de primeira ordem, no dia 15 tomaram um bonde especial da Empresa Carril-Suá e, acompanhados pelos Srs. Cônego João Maria Cochard, Secretário do Bispado, Araújo Aguirre e Nelson Costa, foram visitar, para um exame das suas condições, os alicerces do hospital Domingos Martins, projetado no Governo do Dr. Moniz Freire, na Praia do Suá. Nada, porém, se podia aproveitar, porque, além da falta de resistência, a distância da cidade desaconselhava a escolha do local. Difícil, naquele tempo, seria a instalação da água, da luz e demais elementos necessários à instituição. A Ilha do Príncipe, próprio do Governo Federal, foi igualmente recusada (lembremo-nos que não havia ponte para lá).
Enquanto, porém, a Mesa da Santa Casa estudava o caso, o Dr. Jerônimo confiava as plantas e respectivos orçamentos a profissionais de reconhecida capacidade técnica. Muitas vezes ficava até alta noite curvado no estudo desses projetos. Finalmente, a 26 de agosto de 1909, o trabalho foi divulgado, a fim de que a diretoria do hospital dele tomasse conhecimento e resolvesse nomear uma Comissão de médicos e engenheiros para estudá-lo e escolher o local mais indicado à construção.
A Lei n° 649, de 23 de novembro de 1909, aprovou o contrato celebrado com a referida diretoria, a 23 de dezembro de 1908, e aditamento ao mesmo, de 7 de dezembro de 1909, celebrados entre o Governo do Estado do Espírito Santo e a Santa Casa da Misericórdia, para a construção do hospital. É o que se lê no "Diário da Manhã", de 10 de janeiro de 1910.
Vemos, portanto, que foi muito estudada a causa desse instituto de assistência ao povo, em razão das dificuldades financeiras dos seus promotores, escolha e preparo do local, etc. Desde 1905, aliás, havia o Deputado Monsenhor Eurípedes Pedrinha apresentado um Projeto, que recebeu o n° 3, daquele ano, sobre a desapropriação da Igreja da Misericórdia, próprio da Irmandade da Santa Casa, por 50:000$000, em benefício do hospital. Tratava-se de um templo em ruínas e que atravancava a Praça Dr. João Clímaco. Como o Governo precisava de construir o edifício do Congresso Legislativo próximo do Palácio do Governo, o Dr. Jerônimo resolveu realizar a desapropriação, já aprovada. Ali nada mais havia de histórico. E é falsa a voz corrente sobre os despojos de Vasco Fernandes Coutinho. Estavam enterrados (e estão) em Vila Velha, onde morreu o primeiro donatário do Espírito Santo. Aliás, a laje da Igreja da Misericórdia foi inteiramente conservada, sob o assoalho do primeiro pavimento. A demolição da Igreja iniciou-se a 18 de abril de 1911.
Somente a 30 de maio de 1910, em reunião convocada no Palácio do Governo, ficou definitivamente resolvido que o hospital seria levantado no mesmo local. Já se havia, porém, providenciado grande quantidade de material para as respectivas obras. Celebrou, então, o Governo um acordo com a Santa Casa e lavrou-se o contrato da construção com o arquiteto-construtor André Carloni.
Para a reconstrução da Santa Casa da Misericórdia, as Irmãs e os doentes foram transferidos para o velho Convento de São Francisco, cedido pela Irmandade de São Benedito. O Orfanato mudou-se para a Chácara Monte Belo, em maio de 1910, mesmo porque a varíola exigia o seu isolamento.
A 17 de setembro de 1910, após o preparo do terreno (corte do morro) para aumento da área de construção, procedeu-se, em magnífica solenidade, ao lançamento da pedra fundamental do pavilhão maior, cuja frente domina o cenário da cidade. Especialmente convidado, veio de São Paulo o vigário de Taubaté, Pe. João Batista de Carvalho, que proferiu incomparável discurso.
Fogos, música, flores!... Nada faltou!...
O corte do morro, em parte formado de granito, encareceu muito toda a obra, além disso, foi preciso fazer-se uma grande muralha de sustentação, com balaustradas, em torno do morro. Com a terra do corte, conquistou-se, ao mar, uma área superior a dez mil metros quadrados, fronteira à Ilha do Príncipe, e fez-se um grande cais — o Cais da Santa Casa: hoje desaparecido.
Foi certamente enorme a colaboração de Dom Fernando nessa obra, segundo se lê em "Um Bispo Missionário". Possibilitou, assim, ao Presidente, ver concluída uma das maiores realizações do seu quadriênio.
Ficou a Santa Casa composta de oito pavilhões: um central, cuja planta era do notável arquiteto Dr. Ramos de Azevedo e destinado à Administração, à Capela, à residência das Irmãs e à enfermaria dos membros da Irmandade; quatro laterais, para enfermarias comuns; um para sala de operações; um para lavanderia e um para necrotério.
As órfãs tiveram, igualmente, suas instalações adequadas.
Viveu, por isso, o nome do Dr. Jerônimo, na gratidão das religiosas daquele tempo. Relatava uma antiga asilada que, à tarde, quando a saudosa Irmã Luísa Pirnay reunia o pessoal interno, para as orações pelos benfeitores, chegada a vez do Dr. Jerônimo, recomendava: "Agora é de joelhos!"
* * *
Havia, na Ilha do Príncipe, um barracão de madeira, coberto de zinco: o Lazareto, destinado ao isolamento de doentes, com moléstias contagiosas. Mas a Ilha era do domínio federal, e somente em 1912 o Congresso autorizou o Governo da União a cedê-la ao Estado para o mesmo fim.
Contudo, enquanto se esperava essa decisão, o Dr. Jerônimo tratou de fazer uma boa estrada, de acesso ao planalto da Ilha e realizou o estudo, para o novo hospital, trabalho confiado ao industrial e construtor Rufino Antônio de Azevedo.
Nota:
A presente obra da emérita historiadora Maria Stella de Novaes teve sua primeira edição publicada pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo -APEES, em 1979, quando então se celebrava o centenário de nascimento de Jerônimo Monteiro, um dos mais reconhecidos homens públicos da história do Espírito Santo.
Esta nova edição, bastante melhorada, também sob os cuidados do APEES, contém a reprodução de uma seleção interessantíssima de fotografias da época — acervo de inestimável valor estético-histórico, encomendado pelo próprio Jerônimo Monteiro e produzido durante o seu governo — que por si só, já justificaria a reimpressão, além do extraordinário conteúdo histórico que relata.
Autora: Maria Stella de Novaes
Fonte: Jerônimo Monteiro - Sua vida e sua obra
2a edição Vitória, 2017 - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (Coleção Canaã Vol. 24)
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2019
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