Novamente embarcados - Imigração Americana
Soubemos que para alcançar nosso destino deveríamos navegar o rio Doce acima em canoas, após desembarcarmos do vapor sobre a barra. Nós não sabíamos como a viagem em canoas seria. Mas nós soubemos em pouco tempo.
Novamente embarcamos, em 26 de maio. Dessa vez em um vapor brasileiro, o Juparanã, pronuncia-se Juparanah, que rumava a São Mateus, uma cidade portuária a diversas milhas acima do Rio de Janeiro e além da província para a qual estávamos indo4. O vapor nos deixaria na foz do rio Doce. Nós não estávamos animados com essa viagem, na medida em que a pressa e a exasperação deram-nos lamentáveis dores de cabeça, mas estávamos gratos por estarmos sentados no convés, finalmente, e ouvir os sons do vapor e o tilintar de correntes, preparando para deixar a cidade. Estávamos cercados por amigos, alguns do lar que deixamos no Alabama, alguns de diferentes partes dos estados do sul, que haviam sido agradáveis companheiros na viagem de chegada. A novidade estava à nossa volta. A novidade estava à nossa frente. Preciso dizer que apreensões obscureceram nossos pensamentos quando soubemos que tentaríamos, pela primeira vez, a experiência de uma vida pioneira?
Nosso tempo estava inteiramente ocupado pois as crianças deveriam ser vigiadas, refeições deveriam ser ingeridas e desejávamos aproveitar plenamente a deliciosa brisa do mar, então permanecemos no convés o máximo possível. O enjôo era compreensível, ele veio, e quando a noite se aproximou e as estrelas surgiram, não podíamos aproveitar a serenidade de uma noite ao mar; estávamos sofrendo muito mais do que no Marmion. O vapor era menor, o movimento era mais abrupto e nossa cabine ficava na popa, o que fazia com que a arfagem fosse mais sentida.
Tudo estava arrumado. Os quartos cedidos pelo Estado eram confortáveis e lindamente organizados, e um comissário negro atendia aos nossos comandos. O cheiro de óleo do maquinário misturado ao odor de comida parecia penetrar todo o navio, agravando o enjôo, sendo então difícil permanecer abaixo do convés por qualquer período de tempo.
Após os horrores da noite chegou a manhã e todos nós nos vestimos apressadamente para irmos ao convés. O ar era fresco e delicioso, pensamos que havia chovido, pois a atmosfera estava úmida e apreciamos muito a mudança. Estávamos contentes, pois o salão de jantar era inteiramente diferente de nossa cabine, localizado além da maquinaria, no meio do navio. As cabines para os capitães e oficiais se localizavam na parte frontal da embarcação. Havia duas longas mesas no salão de jantar, bem dispostas e a comida apropriadamente preparada e caprichosamente servida. Havia carne seca preparada de diversas formas, grelhada e refogada. Carne fresca assada e preparada em bifes. Feijões pretos, assemelhando-se ao nosso feijão fradinho (5) em sabor. Esse é um prato muito saboroso e deve ser acompanhado com a farinha ou arroz. Eles cozinham arroz, não como nós o fazemos, mas com temperos e algumas vezes acrescentam sabor e cor com uma folha, que dá uma tonalidade rósea. As folhas também são colocadas sobre o topo do prato. A farinha se parece com nossa farinha de milho, em aparência, mas o processo de tostá-la deixa-a sempre pronta para utilização. É colocada sobre a mesa, fria, em pratos e os brasileiros usam-na, em geral, como substituta para o pão. Eles compram pão, como nós depois aprendemos, mas nunca o fazem em suas casas.
Suportes ornamentados, feitos de porcelana chinesa, contendo palitos de dentes ornamentavam as mesas e nós, de uma só vez, adotamos o costume de retirar um de seu receptáculo ao nos retirarmos de nossas refeições. Eles chamam suas sobremesas de doces, compotas geralmente feitas com as frutas do país.
Fonte: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870
Autora: Julia Louisa Keyes
Tradução e notas: Célio Antônio Alcântara Silva
Publicação: Arquivo Público do Espírito Santo, 2003
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